REFEIÇÃO COMPLETA

Natália escreveu, convicta,
que a poesia é para comer.
Creio que se referia a uma refeição completa.
Gostaria decerto que os comensais
iniciassem a sua refeição
com uma entrada, seguida de sopa.
O estômago estaria assim preparado
para o prato de peixe. Sargo, dourada, bacalhau
- ou apenas uma humilde sardinha frita.
Entraria então o cheiro do cabrito
assado no forno, com arroz servido
naqueles recipientes de barro
negro comprados na feira de Vilar de Nantes.
E o cabrito desfazer-se-ia na boca
com o arroz, acompanhado pelo vinho
provado nos primeiros dias do mês de dezembro.
Sentir-nos-iamos como abades,
mas não tão cheios que não coubesse
no ventre que deus nos deu
uma boa taça de aletria
polvilhada com canela
desenhando letras sobre o prato.
O remate ideal seria então
uma forte aguardente de mel
ou de medronho -
que nos confortaria a alma - satisfeita.

A poesia é para comer, escreveu Natália.
Em refeição completa.
Há agora, entretanto, alguns poetas
com estômago pequeno
ou talvez adoentado.
Comem sopa e apenas sopa.
Mais nada.
E na sua frugal vontade
(que mais nenhum acepipe conhece ou quer conhecer)
desejam que os leitores comam
também apenas sopa...
ainda por cima uma sopa deslavada
que nem a "sopa dos pobres"
na Almirante Reis
se atreveria a servir
aos mendigos que habitam a capital,
muito menos a leitores honestos.

(Na imagem: um desenho de Nicolau Saião)
Vozes do Brasil

RENATO SUTTANA


A TUA AUSÊNCIA EM NÓS

I

A tua ausência em nós plantou um cravo,
plantou uma ferrugem, um deserto;
plantou um pensamento, um grito, um travo
–um portão a gemer no escuro, aberto.


No princípio do outono, o teu sozinho
descer para a distância (num momento
de fratura, de chuva e desalinho) –
a tua ausência em nós plantou um lento


botão que hoje fecunda na amargura:
plantou a rosa oblíqua da procura
que às cegas cultivamos – o amargor

do que agora nos fere e nos desloca
(esta impotência, esta impossível flor) –
que o teu partir deixou em nossa boca.


II

Nestes ermos do dia, recordar-te
(quanta flor não se perde num verão!)
tem um sabor de cinza e distração,
de nada ser preciso – este lembrar-te.

Não há consolo algum para a nossa arte,
para o nosso desejo de abrasão,
senão achar repouso no que não –
no que nos vem do fundo e nos reparte.

Neste escuro em que o dia se resolve,
em que a nossa ternura se naufraga
(nosso anseio de vasto se dissolve),

recuperar-te em sonho nos corrói:
como um oceano sobe e nos alaga,
um incêndio se alastra e nos destrói.

(In Conversa de espantalhos – inédito)
OUTRAS ELEIÇÕES


UM PRESIDENTE INDÍGENA – A comunicação social (nomeada e principalmente a europeia) tem andado eufórica com a eleição, na Bolívia, daquele a quem chamam “o primeiro presidente índio da América Latina”, Evo Morales. Tanto quanto me parece, essa euforia nunca existiria se não continuássemos a ser uma sociedade que tem na consciência o peso histórico do colonialismo, produtor de doenças como a miopia e a amnésia. Miopia quando não vemos (ou não queremos ver?) o que representa gente como Evo Morales (ou Hugo Chávez... ou Fidel Castro...). Amnésia quando não percebemos (ou não queremos perceber) o devir histórico que conduziu ao estado da América Latina (e da África), onde um novo racismo nasce, baseado na promoção de falsos indígenas – como revelou há poucos dias Mário Vargas Llosa no Diário de Notícias. Aceitamos assim, sem pestanejar, tiranos e tiranetes... só porque são “libertadores” ou “revolucionários” ou “anti-americanos”. Esquecemos que Chávez, Castro ou Morales são apenas o reverso das ditaduras militares que os antecederam. Só com estas miopia ou amnésia podemos aplaudir um chefe de estado que se orgulha de ter sido (continuará a sê-lo?) “presidente do sindicato dos produtores de coca”, isto é, daquela plantinha de que nasce uma droga chamada cocaína...

UM PROCESSO DEMOCRÁTICO – Ninguém duvida da democraticidade das eleições palestinianas. Como ninguém duvidava da democraticidade das eleições alemãs que conduziram à chancelaria um cidadão chamado Adolf Hitler. No ainda-não-país de Arafat, uma organização terrorista foi eleita para a chefia do governo com maioria absoluta. Oxalá (Alá queira...) que o resultado destas eleições democráticas não seja semelhante ao das eleições alemãs da década de 1930. Pode ser que aquele senhor baixinho iraniano desta vez ande mais distraído. Os objectivos declarados pelo Hamas e pela teocracia iraniana são os mesmos: limpar Israel do mapa. (É curioso: Hitler também queria limpar os judeu do mapa. Deve ser coincidência...)
Antologia "Fanal"


HELENO GODOY
(BRASIL)

A NAVALHA

Não há quem não se amedronte
dela, sentado na cadeira
do barbeiro apressado, falante e inatento.

Antes uma lâmina inofensiva
em aparelho convencional,
fofo e brando ao ser usado.

A navalha não pensa,
e olha vagamente as coisas,
cortando-as destra, mecânica.

Uma navalha é como um olho
arguto, astuto, cauteloso:
brilha e arma, serpente,
um golpe só, profundo e nítido,
compadecido mesmo, em sua
asséptica habilidade.

(nº 0, 14 de Abril de 2000)


CARPINTARIA

Não a de construir móveis,
utilidades domésticas ou comerciais,
enchendo de prateleiras
os espaços habitados por nós.

Não a de facilitar, por rampas
e similares, acesso a quem
precisa de ajuda e coisa tida
parecida e, claro, necessária.

Não a de até mascarar defeitos,
tapar imperfeições, os buracos
e outros delitos de traça ou rato,
o que necessita remédio ou trato.

Mas a de construir caixões, engra-
dados e alçapões, as armadilhas
com que se pretende restringir, até
silenciar, qualquer voz e escrita.

(nº 19, 28 de Dezembro de 2001)

"A noite iluminada" é, para mim, um dos quadros mais significativos de Nicolau Saião. Sobre esta pintura, hoje também painel de azulejos na sua "Casa da Muralha" em Arronches, deve ser lido o ensaio de Jacques Tombelle / Guiomar Fernandes no "Triplov".
No "Triplov" merece ainda leitura atenta um óptimo ensaio de José Augusto Mourão sobre a figura de Maria Madalena.
“Fanal” – antologia poética

“Estrada do Alicerce” inicia hoje a publicação de uma antologia poética. Nela serão colocados à disposição de todos quantos nos visitam alguns dos poemas que vieram a lume no suplemento cultural Fanal, editado no jornal O Distrito de Portalegre entre 14 de Abril de 2000 e 4 de Julho de 2003. As suas páginas, coordenadas por Nicolau Saião e Ruy Ventura, com o aconselhamento artístico de João Garção, tiveram a honra de contar com a colaboração de muitos dos mais importantes poetas portugueses, a que se juntaram vários autores provenientes do Brasil, de Espanha, França, Bélgica, Japão, Estados Unidos da América, etc.. O que neste espaço se apresentará é apenas uma centelha da luz lançada com humildade por um suplemento que teve como lema ser “Uma luz do Alentejo no mundo, uma luz do mundo no Alentejo”. Para mais tarde ficará a sua história, não isenta de peripécias que merecem ser conhecidas.


ANTÓNIO RAMOS ROSA

Desmantelada a mesa!
A palavra deserdada sem as suas árvores
sem a sua solidão branca.
O tempo não é verde para os passos.
O que respira ainda ou irradia?
Ao rés da erva, imóvel e inquieta
a palavra procura o seu caminho
através de um ofuscante silêncio nocturno.

****

Nenhum de nós sabe
mas cada um procura ou encontra o que não sabe
e o seu saber reduz-se
à liberdade de ser a voz desconhecida
que deambula na incompletude
entre o rebanho errático
das palavras que ascendem
e retornam à sua solidão murmurante.

(nº 0, 14 de Abril de 2000)


(Proximamente: poemas de Heleno Godoy (Brasil), Carlos Garcia de Castro, José Blanc de Portugal, João Rui de Sousa, Eduardo Olímpio, José Bento, Valter Hugo mãe, Edmar Guimarães (Brasil), Amadeu Carvalho Homem, Albano Martins, José Emílio-Nelson, Fernando Correia Pina, Shinjiro Ishi (Japão), Matilde Rosa Araújo, Orlando Neves, Miguel Jorge (Brasil), José Vieira, etc., etc., etc....)

Logo que possam...

... não deixem de ler...
... uma boa reflexão sobre a improvisação na Arte, pelo pintor e arquitecto Nuno Matos Duarte, no blog "Colédoco",
... três textos sobre cinema de Gaspar Garção, no "Triplo V"...
... e um ensaio de Nicolau Saião sobre a ironia na obra de José Régio, no mesmo "Triplov".
Não perderão o vosso tempo!

(na imagem: pintura de Nuno Matos Duarte)
ELEIÇÕES

O RESULTADO REAL - Cavaco ganhou as eleições. Não morreu nem morrerá ninguém por isto. Apesar de ter recebido 50,6 % dos votos validamente expressos, nem ele nem ninguém poderá ocultar outra realidade: 6 085 215 compatriotas nossos não quiseram que o antigo Primeiro-Ministro fosse Presidente da República, ou porque votaram noutro candidato, ou porque inutilizaram o seu boletim de voto, ou porque o introduziram em branco na urna, ou, ainda, porque não quiseram (ou não puderam) votar.
Aníbal Cavaco Silva deve pensar nisto: 68,9 % dos 8 830 705 eleitores portugueses rejeitaram-no, o que faz com que o seu resultado real não corresponda a 50,6 % mas à magra percentagem de 31,1 % da totalidade dos portugueses com direito a voto. No exercício do seu magistério, para que seja verdadeiramente "presidente de todos os portugueses" (como todos esperamos), terá que ter esta realidade em conta.

A INDIGNIDADE DAS TELEVISÕES - Foi vergonhosa a atitude das televisões em todo o processo eleitoral. Primeiro marginalizaram Garcia Pereira. Depois, na noite passada, cortaram a palavra a Jerónimo de Sousa, para mostrar Cavaco a sair de casa, e a Manuel Alegre, para respeitar o mau-feitio e o mau-perder de José Sócrates. Fosse Portugal um verdadeiro Estado de Direito e outro galo cantaria...

ANTON VAN WILDERODE
em língua portuguesa

Acaba de ser editado em Espanha uma edição única de A Árvore-das-Borboletas, livro do poeta belga Anton van Wilderode agora disponível simultaneamente em cinco línguas: flamengo (a língua original), francês, inglês, espanhol e português. A tradução para a língua portuguesa esteve a meu cargo. A edição foi levada a efeito pela Fundación Academia Europea de Yuste e pela Associação Internacional dos Amigos de Anton van Wilderode, com o patrocínio de várias instituições oficiais do país vizinho e da União Europeia.
O livro A Árvore-das-Borboletas conta, nos seus 96 poemas, a última viagem do imperador Carlos V, desde Gand (cidade em que abdicou) até ao mosteiro de Yuste (perto de Plasencia), onde faleceu. A edição é enriquecida por um abundante fundo iconográfico, que reproduz desde obras de pintores conhecidos que representam os protagonistas da narrativa em verso até fotografias dos locais onde se passaram os acontecimentos.
Anton van Wilderode (pseudónimo de Cyriel Coupé), nasceu na Bélgica em 1918, tendo falecido em 1998. Sacerdote católico, estou Filosofia, em Sant-Niklaas e em Gand, e Filologia Clássica na Universidade de Lovaina. Recebeu alguns dos mais prestigiados prémios literários do seu país natal.

Do livro agora editado, ficam quatro poemas.


A árvore-das-borboletas

Por sobre o denso mato vai movendo
longas guias até cima. Unidos
ímpares no alto os botões floridos
malva e lilás, azul quase acolhendo.

Borboletas no voo e emoção
(as brancas cor de arminho oceladas)
vêem-na longe ou perto deslumbradas;
de invisível odor nasce a atracção.

De algures ser em voo, em convento
silente de asas e pétalas, giram
e juntas embalando-se respiram
na única vontade ao movimento.




Yuste (5)

Dif’rente a calma que tenho encontrado.
O silêncio de frutos d’ oliveira,
de carvalho seco, da sua madeira,
de mármore e pedra no lajeado.

Um fogo imóvel activo no lar
que nunca mais há-de ‘star apagado,
poltrona e leito nunca mais mudados,
cadeiras quietas a mesa a rodear.

E apenas algo audível na estival
noite quieta, na rama onde calados
pares de pássaros ficam guardados
ou a água quando rega o canal.



Testamento (2)

Cortou a pluma de ganso o estilete,
retirada está a tampa do tinteiro
e o pó de ouro, de um brilho ligeiro,
sobre os florais motivos do tapete.

A mão direita não sabe neste dia
como começar, com que expressões,
o atormentado pergaminho põe
como antes sempre fazia

e no branco a ponta da pluma
a irresolução decidido a superar.
Escrevo contra a luz do sol, a traçar
sobre o grão vazio letras uma a uma.


Quem vai, quem fica

O mundo continuará depois do pranto,
árvores jovens, adultas, baloiçantes
sobre o verde de tantas ervas deslizante,
por tudo se espraia das aves o canto,

as estrelas com o mesmo nome ao girar
ante outros homens com nomes alterados
em suas órbitas dadas para tempos dados
enquanto o sol durar e a luz estival,

um aluvião de rosas decerto haverá,
redonda neve de inverno nos caminhos
e a chuva dará suas voltas peregrinas,
e dia e noite e dia quando me vá.

(na imagem: Carlos V a cavalo, por Ticiano)
AFINAL AINDA NÃO MORREU

Segundo nos conta o JL desta quinzena em pequena notícia, afinal a revista Ler, do Círculo de Leitores, ainda não morreu de todo. Conforme revela aquele periódico, passará a ter periodicidade anual, mantendo a mesma directora.
Estes dados, se constituem uma pequena alegria, não afastam a preocupação de quantos se habituaram a apreciar a Ler com Francisco José Viegas e lamentaram a decadência trazida com a actual directora. A informação de que a revista passará a dedicar-se ao balanço anual do mercado editorial é inquietante, pois parece surgir como uma cedência ao poder das editoras, que desejam apenas propaganda para os seus livros, e como uma erosão da Ler enquanto instrumento de reflexão.
Esperemos que as vertentes positivas ainda publicadas (entrevistas, críticas de Eduardo Pitta...) continuem e que outras se lhe reúnam.
Mesmo na doença, a esperança é sempre a última a morrer...
VIOLÊNCIA ESCOLAR

O CDS vai apresentar no Parlamento um projecto de lei para a criação de um Observatório da Violência Escolar. Justifica a sua iniciativa com o grande aumento deste problema nas escolas.
Concordo com a iniciativa - que se justifica. Mas enquanto o regime disciplinar dos alunos não for radicalmente mudado, nada melhorará nas escolas portuguesas. Os professores, os funcionários e os alunos continuarão a sofrer agressões verbais e físicas.

A MAE TINHA SIDO CONDENADA
POR ABANDONO E MAUS TRATOS
(crónica do poeta José do Carmo Francisco)


Neste texto, gostaria de focalizar a minha experiência como Juiz Social num Tribunal de Menores desde 1993 por oposição a um forte alheamento e uma enorme distanciação perante os Tribunais no tempo em que ainda havia estradas de macadame.
Quando eu era criança havia um grande medo; hoje o meu convívio com o universo dos Tribunais é quase permanente e não há uma quinzena em que não seja convocado para uma audiência de julgamento. Conheço os corredores, as salas de audiência, os funcionários, os juízes, os delegados do Ministério Público, os guardas da PSP. Por isso mesmo, porque já me considero da casa, é que tenho tido nos últimos tempos um maior à-vontade nos momentos de intervir e de projectar a minha opinião.
Gostaria de compartilhar com os meus leitores uma das mais recentes aventuras vividas por mim durante um julgamento. Não pela história em si mas pela moral que o caso encerra.
Tratava-se de uma mulher que, a todo o custo, queria os seus filhos, o mesmo é dizer – não queria que eles fossem adoptados por um casal que já há muitos anos andava à procura de encontrar nos Tribunais de Menores aquilo que a Biologia não lhe tinha dado. Pois essa senhora, que passava o tempo a dizer “Quero os meus filhos”, não sabia que nós tínhamos tido acesso a um processo de outro tribunal em que ela tinha sido condenada a nove meses de prisão efectiva por abandono e maus tratos aos seus filhos. Por outras palavras – ela saía de casa de manhã, ia para o café do bairro e eram as vizinhas que, por um buraco da janela, davam leite e flocos de cereais para eles não morrerem à fome.
Ora acontece que o Juiz que decidiu esse processo de abandono e maus tratos foi muito brando e transformou a prisão efectiva em pena suspensa. Só que nós também sabíamos a maneira como ela tinha agradecido ao Tribunal a sua generosidade: foi ter engravidado de um senhor que nem era o marido e pai das ditas duas crianças. Então estávamos ali num impasse: de um lado os Juízes Sociais a quererem que a criança fosse adoptada por quem já tinha esperado tanto tempo e se dispunha a integrar essas crianças no ambiente familiar dos seus sobrinhos; do outro lado o Juiz Presidente que insistia no facto de que a senhora “era a mãe”. As nossas posições eram irredutíveis: nem nós queríamos que as crianças voltassem à mãe nem o presidente do Tribunal queria que elas fossem entregues ao casal de adopção.
Mas havia um trunfo para desempatar: a intuição feminina da Delegada do Ministério Público. Ela tinha uma especial capacidade para, olhando para a pele da mulher, perceber que ela estava grávida. Então, no meio da formalidade e do rigor do julgamento, surgiu um factor desestabilizador quando a Delegada perguntou: “A senhora está grávida?” A mulher não respondeu nem era preciso. Todos nós vimos que o seu silêncio correspondia a uma resposta positiva. Ela estava outra vez grávida do tal senhor que não era o marido. A mancha na pele da sua cara não deixava dúvidas. Começou a soluçar e pediu para ir à casa de banho.
E tudo ficou resolvido. O Juiz presidente perdeu e desistiu da sua ideia à século XIX – “mas ela é a mãe”. Nós também não discutimos a questão em termos biológicos pois o que estava em causa era a sua competência para poder tomar conta dos dois filhos. Para nós foi decisiva a questão dos nove meses de prisão efectiva que afinal tinham passado a pena suspensa.
Nesse dia saí do Tribunal de Menores mais do que satisfeito; saí feliz com a minha persistência que, com o auxílio da minha colega “asa” e da Delegada do Ministério Público, tinha ajudado a derrubar o preconceito do Juiz presidente. Uma vez mais a Justiça prevaleceu contra o direito. Ser mãe não chega (não pode chegar...) para uma mulher ter os filhos a seu cargo.

(in Gazeta das Caldas, 16/12/2005)
Vozes do Brasil

CECÍLIA MEIRELES


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(in Viagem)


Realização da Vida

Não me peças que cante,
pois ando longe,
pois ando agora
muito esquecida.

Vou mirando no bosque
o arroio claro
e a provisória flor escondida.

E procuro minha alma
e o corpo, mesmo,
e a voz de outrora
em mim sentida.

E me vejo somente
pequena sombra
sem tempo e nome,
nisto perdida
- nisto que se buscara
pelas estrelas,
com febre e lágrimas,
e que era a vida.

(in Mar Absoluto)



Apresentação

Aqui está minha vida – esta areia tão clara
com desenhos de andar delicados ao vento.

Aqui está minha voz – esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.

Aqui está minha dor – este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está minha herança – este mar solitário
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.

(in Retrato Natural)
Uma morte anunciada

Acabei de saber, pelo blog "Da Literatura", que a revista Ler passou a fazer parte da memória literária nacional. Digo-o emocionado... Aprendi a gostar dela quando era seu director Francisco José Viegas. À minha porta bateu a tristeza de a ver moribunda (ou quase) com a sua nova directora (das colaborações que me agradavam permaneceu quase só a de Eduardo Pitta...). Soube agora que morreu. Que a terra lhe seja leve!
UM PESSOA CORTADO AO MEIO

Comprei a antologia da poesia de Fernando Pessoa que hoje saiu com a Visão, apesar de já ter toda a obra do poeta na edição da Assírio & Alvim. Organizada por Eduardo Lourenço, veio confirmar uma suposição que há muito venho fermentando: há quem não goste da poesia de Pessoa escrita em inglês, apesar de já estar à nossa disposição em boas edições, apresentada em traduções exemplares. Porquê? Não sei... Suspeito, mas não tenho certezas.
Há no entanto um convicção de que não abdico: organizar uma antologia de Pessoa esquecendo os belíssimos poemas que escreveu na língua de Shakespeare é apresentar um meio-Pessoa ao público, um Pessoa amputado de uma parte fundamental da sua obra.

A CASA DE GARRETT

Não tenho dúvidas em afirmar que a conservação da património colectivo é um dever de qualquer cidadão, quer a título individual, quer no exercício de funções dirigentes a nível político, associativo ou até empresarial. Há, no entanto, muitas maneiras de preservar e, também, diferentes memórias, cada uma requerendo práticas diferenciadas.
Enquanto a memória concretizada em edifícios (ou conjuntos edificados) deve ser conservada com base numa prática lúcida de preservação da sua estrutura arquitectónica e decorativa (o que não exclui intervenções modernizadoras, desde que bem integradas e passando por uma revitalização dos espaços), o património imaterial deverá ser protegido através de registos que o transformem num património material capaz de sobreviver à erosão do tempo (gravar músicas tradicionais, escrever peças do património oral, fotografar ou filmar acontecimentos, etc..) ou da preservação e divulgação desses registos materiais, caso já existam. Quanto ao património literário, a sua transmissão ao futuro deverá passar pela edição rigorosa em livro (ou noutro suporte) do maior número possível de textos (independemente da opinião que tenhamos sobre eles), assegurando assim que sejam constantemente lidos e reavaliados pelos vindouros. Poderíamos ainda lembrar outras categorias do património cultural (as artes plásticas, por exemplo) - mas o importante é reafirmar a necessidade de conservar quanto recebemos de quem nos antecedeu, divulgando-o e transmitindo-o a quem nos sucederá no devir histórico.
Quando falamos da casa onde viveu e morreu Almeida Garrett, estamos a referir-nos àquilo a que alguns especialistas chamam "património misto". Ao património arquitectónico (estamos, ou estávamos, perante um bom exemplo da arquitectura lisboeta do século XIX) alia-se a memória de um homem que marcou a Cultura portuguesa em vários domínios, desde o literário ao político. Estes motivos deveriam ser suficientes para levar a Câmara Municipal de Lisboa a preservar este edifício, classificando-o. Não o fez "por falta de verba"... Mas incluir o edifício no rol dos nossos monumentos custaria muito pouco ao Erário e obrigaria o proprietário a repensar a recuperação/reconstrução que o edifício sofrerá. Carmona Rodrigues não quis afrontar Manuel Pinho e o IPPAR também não... Compreendemos porquê. Como remendo, cabe agora à edilidade lisboeta exigir que, pelo menos, se mantenha no novo edifício que surgir a memória da passagem do autor de Viagens na Minha Terra.
A demolição da casa de Garrett está, no entanto, longe de ser um drama para o país. Sê-lo-ia se o recheio original da casa (que, tanto quanto rezam as crónicas, era riquíssimo) ainda existisse e se dispersasse; mas não existe, infelizmente. Ao contrário do que acontece com José Régio, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes, Ferreira de Castro, Fernando Pessoa, etc. - nada existe de material que justificasse a abertura de uma "Casa-Museu". O importante agora é preservarmos a memória cívica e literária de Garrett, com boas edições das suas obras e com a publicação de livros e outras iniciativas sobre a sua figura. Tudo o resto é supérfluo.
Tradição Oral

ROMANCE DO CANÁRIO

Certo dia fui à caça, lindo canário apanhei.
Fui levá-lo de presente à filha do nosso rei.
À filha do nosso rei, à princesa da rainha.
Mandei fazer a gaiola da mais fina madeirinha.
Depois da gaiola feita, meti-lhe o canário dentro.
Todo o dia, toda a hora era o seu contentamento.
O canário adoeceu com uma grande constipação.
Vieram trinta doutores com três lancetas na mão.
À primeira lancetada o canário inda piou,
À segunda bateu asa, à terceira lá ficou.
Mandei fazer o enterro lá pròs lados d' Alegrete.
Vieram trinta canários todos vestidos de preto.
Veio uma pombinha branca toda vestida de luto.
Veio o gato da vizinha - meteu tudinho no bucho.
Ouça lá minha vizinha o que eu lhe tenho a dizer:
Eu não ando a criar canários prò seu gato mos comer,
Eu não ando a criar canários prò seu gato mos comer!

(Versão de Carreiras, Portalegre, recolhida por RV)

OS MELHORES LIVROS DE 2005

Desculpem-me aqueles que empinaram as suas listas de preferências com carinho legítimo pelos livros, mas - com o devido respeito - esta coisa de andarmos a publicar coisas como "Os Melhores Livros de 2005" (veja-se o Mil Folhas de sábado passado) faz-me sempre lembrar o conto tradicional "Frei João Sem Cuidados", naquela parte em que o moleiro (disfarçado de frade) responde assim a um dos enigmas postos pelo rei:
"Deseja Vossa Majestade saber quanta água tem o mar?... Pois bem, para que possa responder-lhe com rigor, terá que mandar os seus súbditos tapar todos os rios e ribeiras que nele desaguam. Só assim saberei medir quanta água tem o vasto mar... Sem isso, nada feito!"
De igual modo, a minha resposta à pergunta "Quais são os melhores livros de 2005?" será sempre esta:
"Para que pudesse responder-vos, amigos, teria que ler, pelo menos, todos os volumezinhos que, na nossa língua, vieram a lume no ano que se finou. Como isso é impossível (pelo menos para mim... talvez haja super-homens que o consigam...), fico calado - porque, convenhamos, o calado vence tudo... Não gosto de injustiças. Ponto final!"
RAINER MARIA RILKE


INICIAL

Dá sempre a tua beleza
sem cálculo e sem palavras.
Calas-te e ela diz por ti: Sou.
E vem com múltiplo sentido,
vem finalmente sobre cada um.

(in O Livro das Imagens, 1902)


* * * *


A última casa desta aldeia está
tão só como a última casa do mundo.

A estrada, que a pequena aldeia não detém,
prolonga-se lentamente pela noite fora.

A pequena aldeia é só uma passagem,
cheia de medos e pressentimentos, entre duas amplidões,
caminho ao longo das casas, em vez de pontão.

E os que deixam a aldeia jornadeiam longamente,
e muitos morrem talvez pelo caminho.

(in O Livro da Peregrinação, 1901)


PS - Com a publicação destes dois poemas de Rilke, traduzidos por Paulo Quintela, "Estrada do Alicerce" homenageia humildemente essa figura ímpar da Cultura Portuguesa, a quem tantos devem e que tão maltratada foi na sua existência terrena, nomeadamente pela instituição universitária.

CRIAÇÃO DO HOMEM
(no segundo Livro de Henoc)

"No sexto dia dei ordens, usando a minha sabedoria para dar origem a um ser humano a partir dos sete elementos do universo. Em primeiro lugar, a carne foi retirada da própria terra. Em segundo lugar, o sangue foi obtido a partir do orvalho e do Sol. Em terceiro, formaram-se os olhos a partir das profundezas dos oceanos. Em quarto lugar, construíram-se os ossos a partir da pedra. Em quinto, a razão derivou dos anjos, em todos os seus movimentos, e das nuvens. Sexto, as veias e o cabelo foram feitos com ervas dos campos. Em sétimo lugar, o espírito derivou do meu próprio espírito, bem como do vento. Eu criei-o como Segundo Anjo na terra, para ser grandemente enaltecido. Dei-lhe, igualmente, um nome, criado a partir dos nomes das quatro direcções: A de Anatole, que quer dizer Este; D de Dusme, que significa Oeste; um segundo A para Arktos, Norte; e um M final para Mesembria, ou seja, Sul."

(Imagem: "A Criação do Homem", de Miguel Ângelo)
A FILOSOFIA DE
ÁLVARO RIBEIRO

Vale a pena comprar, ler e reler o 12º número da revista Teoremas de Filosofia. Trata-se, desta feita, de um número monográfico, onde são publicadas as comunicações apresentadas no colóquio "A Filosofia Portuguesa de Álvaro Ribeiro", dinamizado por Pedro Martins e ocorrido em Sesimbra entre 5 e 6 de Março de 2005. Como costuma afirmar uma amiga minha, aí tudo se come... Todos os artigos manifestam uma altíssima qualidade, nalguns deles até fundamental. Aqui fica a lista, para abrir o apetite:
- "Apresentação de Álvaro Ribeiro aos sesimbrenses", de António Telmo;
- "Álvaro Ribeiro e a defesa da Filosofia Portuguesa", de Pedro Sinde;
- "O Porto em Lisboa: Álvaro Ribeiro", de Pinharanda Gomes;
- "A Literatura em Álvaro Ribeiro", de António Cândido Franco;
- "O pensamento político de Álvaro Ribeiro", de Jorge Preto;
- "O filosofo do porvir", de Joaquim Domingues;
- "A estética em Álvaro Ribeiro", de Luís Paixão;
- e "Álvaro Ribeiro, uma imaginação a Ocidente", de Carlos Aurélio.
A revista pode ser pedida a Joaquim Domingues, seu editor e proprietário, para a Rua do Areal de Cima, 91 - 4710-346 Braga.

Do artigo de António Cândido Franco acima referenciado, sobressaiu este parágrafo que se me afigura de grande importância:

"É na vida interior que nós encontramos as expressões da verdade. O trabalho dos poetas consiste em dar forma a essas expressões mentais, próprias do pensamento. Assim sendo, os poetas são os filósofos que falam (como os filósofos serão os poetas calados). Eles animam com formas reconhecíveis as ideias mais puras e luminosas. O trabalho dos poetas é mal reconhecido, mas não há salvação para a humanidade fora da poesia. Se os poetas não tomarem nas mãos o destino do mundo, (...) estamos condenados à destruição e ao desaparecimento mais rasteiro. A destruição que hoje afecta a linguagem verbal, reduzindo-a a um corpo articulado e automático, estritamente informativo, terá num futuro próximo consequências desastrosas no mundo."
Tradição Oral

[ESTA NOITE QUE HÁ-DE VIR]

Esta noite que há-de vir
Foram-me os ladrões ao monte
Roubaram-me o que eu não tinha
Deitaram-me fogo à fonte

Tenho tosse nas orelhas
Dor-de-dentes no cachaço
Amargam-me as sobrancelhas
Não vejo nada de um braço

(recolha de RV em Carreiras, Portalegre)
NOVOS COMPANHEIROS

Neste início de ano, resolvi incluir na lista de links alguns companheiros de blogosfera a que vale a pena estar atento. Podem clicar ao lado, no respectivo nome:
Sesimbra e Ventos (de Pedro Martins)
Poesia & Lda. (de João Luís Barreto Guimarães)
A Grolha e Nenhuma Palavra nos Salva (de Rui Almeida e Rute Mota)


Palavras que chegam com o vento…
(texto de Nicolau Saião)

No século passado – tão perto…mas onde isso já vai! – André Breton e outros poetas deram a lume uma espécie de sondagem sobre o estado de vida sexual da rapaziada do seu tempo. Escusado será dizer que tal facto provocou uma bela ventania no país da pornográfica burguesia francesa. Habituados a bordéis (falemos claro: habituados a uma mentalidade em estilo “maison de dames”) a intelectualidade francesa mais engravatada ficou algo enxofrada devido à opinião do autor de “Claire de Terre”, que sem papas na língua afirmou: “Sonho com o seu encerramento. É um lugar de hipocrisia e submissão onde tudo se paga!”.
Daí para cá, a coisa incrementou-se: as casas de putas (vai à portuguesa, para ter um sabor mais adequadamente rasca, os leitores/as mais pudibundos que me perdoem) tornaram-se um dos negócios mais propiciados pelo capitalismo selvagem, que tudo vê pela óptica do lucro e cuja hipocrisia permite, por exemplo, que se marginalizem e persigam homossexuais ou outras pessoas de orientação sexual menos académica mas, por outro lado, se incentive o “amor” mercantilizado.
Então não se está na economia de mercado?
Junto se dá, com relativo divertimento, uma visão cristalina do ambiente que os surrealistas nunca se atreveram a imaginar – mesmo nos seus sonhos mais esvoaçantes…


CARTA (ABERTA)
AO MENINO DEUS
(com pintura de Josefa d' Óbidos)

Senhor,

Como sabes, por mais voltas que dê à minha memória, não consigo encontrar um momento em que tenha acreditado no “Pai Natal”. A minha infância pertence àquele tempo em que os nossos pais ainda nos diziam que eras Tu quem punha junto do presépio as poucas ofertas que recebíamos. É certo, só mais tarde soube o quão pouco valia aquele velho barbudo, inventado por uma empresa americana de refrigerantes, a partir da boa memória de Nicolau, esse Teu servo generoso que deve dar voltas no seu túmulo em Bari quando observa o boneco ridículo em que o transformaram.
Não acreditando nele, só poderia dirigir esta carta a Alguém em quem creio cada vez mais. Deves estranhar epístola tão tardia... Mas para mim a comemoração do Teu nascimento só termina com o dia da Tua epifania, que nós, por comodidade, chamámos “Dia de Reis”. Além disto, qualquer hora é adequada para falar Contigo – embora, por vezes, preferisse ouvir mais o que tens para me dizer (mas o ruído à minha volta é tanto, certos dias...).
Estamos no primeiro dia do ano. O que passou não foi famoso – mas, ainda assim, tenho a agradecer-Te o muito de bom que me/nos foi concedido. Neste recomeço do tempo, não resisto a deixar na Tua mão alguns pedidos. Sei que não precisaria de fazê-los. Melhor do que qualquer um de nós, conheces as necessidades do Teu povo, que tão surdo anda às Tuas palavras... Mas, sabendo que abraças toda a humanidade, com o carinho de Criança Divina que nos ajuda a levar o peso da vida, sobretudo quando não a compreendemos, ouso expressá-los aqui.
Peço-te, antes de mais, que ilumines o espírito dos Homens (entre eles, especialmente quantos acreditam em Ti, com maiores ou menores responsabilidades na Igreja) para entendam e ponham em prática a mensagem que inspiraste ao nosso papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz: “A busca autêntica da paz deve partir da consciência de que o problema da verdade e da mentira diz respeito a cada homem e mulher e aparece como decisivo para um futuro pacífico do nosso planeta”.
Depois, gostaria que nos ajudasses a entender a diferença entre o acessório e o essencial. Como sabes, à conta de um materialismo que ninguém tem conseguido travar (seja na sua expressão capitalista selvagem, seja dentro de sistemas ditos “alternativos”, que se revelam tanto ou mais perigosos do que o primeiro), estamos mergulhados numa civilização que promove o gozo egoísta, mas se esquece de edificar seres humanos dignos e, sobretudo, felizes. Todos temos culpa: uns por cegueira, outros por maldade, outros por passividade... Lembra-Te de nós, sobretudo daqueles que andam mais perdidos, desesperando ou procurando outros caminhos que apenas conduzem à morte corporal ou espiritual.
Português que sou, não posso deixar de solicitar a Tua atenção para que nossa caminhada possa mudar de rumo. Por causa da nossa desorganização e teimosia (miopia?) na leitura dos sinais dos tempos, andamos meio perdidos. Tentamos arranjar alegrias momentâneas (o futebol e outras realidades), “salvadores da Pátria” que nem a si próprios se salvam, mas a felicidade anda arredada das nossas portas. Para começar, se puderes, faz com que nas próximas eleições não ocorra uma espécie de amnésia colectiva. Depois, ilumina aqueles que nos governam (desde os ministros aos presidentes de Junta) para que façam obra em benefício dos seus semelhantes e não em benefício próprio ou da sua carreira política. Desejo ainda que a nossa Escola promova a responsabilidade e a exigência – para que o conhecimento e a ética sejam instrumentos ao serviço da dignidade e da felicidade humanas – e que a Justiça seja justa para todos (todos, mesmo...).
Perdoa-me por chamar assim a Tua atenção, expressando aquilo que anda há muito no meu pensamento. Mais do que tudo, desejo que seja feita a Tua vontade, pois já nos ensinaste que os Teus caminhos são por vezes insondáveis. É que há sempre duas hipóteses: conservar a árvore que vai crescendo, mesmo doente; ou deixar que ela arda, para que a sua cinza fertilize uma nova planta.
Humildemente,
Ruy
DE REGRESSO

Depois de umas férias tranquilas, "Estrada do Alicerce" está de volta. Aproveito este momento para desejar a todas as leitoras e a todos os leitores um 2006 cheio de felicidade.