Entrevista
ANTONIO SÁEZ DELGADO

Antonio Sáez Delgado (Cáceres, 1970), poeta e ensaísta, é um dos mais discretos e eficazes divulgadores da cultura portuguesa em Espanha. De há vários anos a esta parte - ao mesmo tempo que lecciona a sua língua materna na Universidade de Évora - tem trabalhado na sementeira da nossa poesia e da nossa arte verbal no território hispânico de além-Guadiana, vertendo livros de, entre outros, Fialho de Almeida, Teixeira de Pascoaes, Almeida Faria, Manuel António Pina ou José Luís Peixoto. Recentemente, como noticiámos, foi-lhe atribuído um prémio importante pela sua acção como tradutor. É apenas uma etapa do reconhecimento que todos os portugueses lhe devem. Tendo como pretexto essa distinção, coloquei-lhe algumas perguntas sobre a sua actividade e sobre a poesia. Aqui ficam as respostas.

Como se iniciou e se tem construído o teu interesse pela cultura portuguesa contemporânea?
Através do gosto pela literatura portuguesa e do estudo dela. Comecei em 1993 uma tese de doutoramento sobre as relações de Pessoa com os poetas vanguardistas espanhóis [Órficos y Ultraístas. Portugal y España en el dialogo de las primeras vanguardias literárias (1915-1925), Mérida, ERE, 2000], e essa linha de trabalho levou-me a muitos outros caminhos, todos eles fonte de grandes satisfações para mim.

De que maneira se integra nesse interesse a tua actividade como tradutor? Qual as suas alavancas?
Eu quero acreditar que tudo o que eu faço (escrever, investigar, traduzir) faz parte do mesmo projecto. Porque traduzir é uma forma privilegiada de ler, julgo que o trabalho da tradução faz parte do meu interesse pela cultura portuguesa e pelo conhecimento desta em Espanha.

Um tradutor pode ser um contrabandista?
Um tradutor é, antes de mais, um leitor. Um leitor privilegiado, como já disse, por um lado; e, também, em certo modo, um leitor que se transforma em crítico, porque a sua leitura serve de filtragem para os leitores.

Que balanço fazes da divulgação da cultura / literatura portuguesas na Espanha nos últimos tempos?
Assistimos a um período de expansão, sem dúvida. Junto com “clássicos modernos” como Eça de Queirós ou Pessoa, que aparecem todos os anos, há um relevo especial de autores novos no mercado espanhol, como Inês Pedrosa, José Luís Peixoto, valter hugo mãe, Gonçalo M. Tavares, Possidónio Cachapa, Ruy Ventura... Um leque variado e muito atractivo para o leitor espanhol.

A tua actividade como tradutor tem contribuído de alguma forma para o teu fazer poético?
Para mim ambos os projectos (o da tradução e o da escrita) fazem parte do mesmo espírito e, logicamente, são caminhos complementares em permanente contacto e diálogo.

Que texto te deu até hoje maior prazer a traduzir? Que projectos para o futuro?
Talvez La Pelirroja, de Fialho de Almeida tenha sido o maior desafio, um texto complexo e que precisava duma leitura “neutral”, que limpasse com cuidado a passagem do tempo sobre alguns aspectos do texto. Entre os projectos actuais estou a fazer e traduzir uma antologia da poesia de Fernando Pinto do Amaral, a sair nos próximos meses.

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