JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
 DE A A Z

Estranhamente (?), o silêncio caiu sobre uma antologia de homenagem ao poeta José Agostinho Baptista. Editou-se no Funchal em 2009, como nº. 27 da revista Margem. A iniciativa deveu-se à organização de António Fournier e contou com a colaboração de, entre outros, Oliverio Macías Álvarez, Francisco Belard, João David Pinto Correia, Joaquim Cardoso Dias, António Lampreia, José Alberto Oliveira, Patrícia Reis, Francisco José Viegas, José Manuel Vasconcelos e João Rui de Sousa. Na prática, é muito mais do que um livro de louvor. Quem queira conhecer a obra de Baptista e quem a assina tem aqui um instrumento indispensável. Os 500 exemplares da edição madeirense mereceriam uma publicação mais ampla em território continental.
Estranhamente, contudo, o silêncio caiu sobre este livro. Estranhamente? Talvez estas palavras de José Agostinho Baptista numa entrevista notável pela sua verticalidade justifiquem a omissão da tropa literária:

"[...] Se se está conforme ao sistema, se se tem um lobby, é-se reconhecido, e é-se reconhecido porque se é uma figura mediática via política por exemplo, sobretudo política. Para chegar aí temos de ter uma carreira, temos que trabalhar para essa carreira. Agora diga-me, como é que se traduz esse reconhecimento? Qual o preço a pagar? Não, vender a alma, nunca.
[...]
Não tenho tempo nem feitio para tal, sinceramente. Qualquer boneco apresentador de televisão pode ser hoje em dia um escritor. Ainda que medíocre, mas quem se importa? A verdade é que esses rostos da televisão vendem muito, ali todos catitas, emoldurados no ecrã. Meu Deus, eu não quero. Eu não quero esse reconhecimento. Sabe para mim o que importa?  Que haja algumas pessoas neste mundo que me respeitem. E que haja algumas a quem dou qualquer coisa, alguma beleza, algum sonho. Através da poesia, obviamente. Isto para mim é que é reconhecimento. [...] Como é que se pode ser contra o sistema e estar à espera que o sistema nos reconheça e divulgue? [...] O sistema não perdoa. Nunca perdoou em todo o mundo. [...]
[...] O sistema perdoa até aos assassinos desde que eles lhe façam uma vénia. O sistema não perdoa é a quem lhe volta as costas, a quem o afronta, a quem o questiona, a quem o despreza."






Poemas de Matilde Rosa Araújo num manuscrito seu.
(Espólio de RV)