O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

A nossa história antiga, pré-romana, precisa de ser revista com toda a urgência. Há poucos dias descobri duas páginas muito interessantes e prometedoras. Aqui ficam os endereços:
http://www.osfeniciosentrenos.es.tl/
http://dasserpentes.blogspot.com/
Merecem toda a nossa atenção - para não continuarmos a negar a evidências.
LANÇAMENTO
DE DOIS LIVROS DE JOSÉ DO CARMO FRANCISCO


A Livraria Fábula Urbis (Rua Augusto Rosa, 27 – à Sé) e o autor convidam V. Exa. para a apresentação do livro Transporte Sentimental (edição da C.M.L.) no dia 27-2-2010 às 19 horas. A obra será apresentada por Rui Almeida, poeta, recente vencedor do Prémio de Poesia Cidade de Águeda.


Este livro, considerado «esplêndido» por Fernando Venâncio no «JL» de 7-12-1993, integra vinte poemas sobre a Cidade de Lisboa vista das janelas dos autocarros, dos eléctricos e dos elevadores da Carris. Os poemas foram escritos no Verão de 1986 em Santa Catarina (Caldas da Rainha) e são dedicados a Armando Silva Carvalho, Fernando J. B. Martinho e Pedro Támen. A 1ª edição deste livro surgiu em 1987 e com a chancela da Editora Espiral e apoio do Grupo Desportivo do Banco Português do Atlântico. A presente 2ª edição é da Câmara Municipal de Lisboa.





A Editora Padrões Culturais e o autor convidam V. Exa. para a apresentação do livro As palavras em Jogo no Teatro da Trindade (ao Chiado) no dia 5-3-2010 às 18 horas. O volume será apresentado por António Simões, jornalista do diário desportivo A BOLA.

Este livro recupera do pó do esquecimento 30 entrevistas e 1 memória, lembrando, deste modo, 30 anos de jornalismo do autor. No universo multifacetado dos entrevistados há um diverso olhar sobre o Desporto e a Sociedade: Álvaro Cunhal, Américo Guerreiro de Sousa, António Alçada Baptista, António Roquete, Carlos Mendes, Clara Pinto Correia, Daniel Sampaio, David Mourão-Ferreira, Dinis Machado, E.M. Melo e Castro, Eduardo Guerra Carneiro, Eduardo Nery, Fausto, Francisco dos Santos, Francisco José Viegas, Helena Marques, Joaquim Pessoa, José Duarte, José Fernandes Fafe, José Manuel Mendes, José Nuno Martins, José Quitério, Lídia Jorge, Luís Filipe Maçarico, Mário Jorge, Matos Maia, Mia Couto, Nicolau Saião, Rita Ferro, Romeu Correia e Urbano Tavares Rodrigues.

As entrevistas e a memória de Francisco dos Santos (1878-1930), o primeiro português a jogar em Itália, foram publicadas entre 1992 e 1996 na Revista A BOLA MAGAZINE que entretanto cessou publicação. Algumas delas foram mais sintéticas devido à falta de espaço mas todas apresentam o interesse do depoimento das 30 diversas figuras públicas sobre a sua relação com o Desporto.

Agradecemos que divulgue este duplo convite junto dos seus amigos / amigas. Obrigado.
VOCABULÁRIO USADO NA FREGUESIA DE CARREIRAS



(Serra de São Mamede, Alentejo)





Tenho consciência de que ao publicar este vocabulário estou a embalsamar uma espécie em vias de extinção. Junto aqui regionalismos a castelhanismos, misturando ainda na lista termos dicionarizados, mas pronunciados de forma diferente ou com um significado distinto do comum. Sempre que foi possível, tentei reproduzir a pronúncia mais autêntica e antiga. Infelizmente, os efeitos da erosão linguística provocada nos últimos trinta e cinco anos pelos media nem sempre permitiram a concretização deste propósito.

Esta lista não constitui entretanto um produto acabado. A seu tempo serão acrescentados outros termos. Incluir-se-á também nesse futuro alguma informação etimológica e gramatical sobre os vocábulos e/ou expressões idiomáticas.

Não tenho ilusões bairristas em relação a este trabalho de recolha, sabendo que muitos dos vocábulos ou expressões são partilhados pelos habitantes doutras aldeias vizinhas ou doutras regiões do país. Viso apenas fixar um conjunto de termos arcaicos e/ou regionais em vias de desaparição.
 
(Disponível em: www.nortealentejano.blogspot.com).


FLOR DE UM DIA


Aurélio Porto, nascido em 1945, reúne na colectânea Flor de Um Dia, com os seus 28 livros ou plaquetes, ou secções, ou capítulos, cerca de cinco décadas de poesia inédita, ou, quando não, quase confidencial. Esses escritos iniciam-se por volta de 1961 e chegam a 2005-2006, tendo sido finalmente editados em 2009, depois de algumas peripécias editoriais sem importância.
Os temas são os mais comuns e os mais permanentes, a alegria, a tristeza, o amor, a morte, e sobretudo a vida, a viagem no espaço e no tempo e a viagem fora deles, mas também alguns mais invulgares, o sentimento da natureza e da destruição dela, a dimensão cósmica, humana e desumana, a mentira da guerra e a impotência da paz, a solidão e a multidão, a fraternidade, a amizade, mas também a catástrofe e a barbárie. Neles se entrelançam poesia e filosofia, numa meditação do mundo que é também maravilhamento dele e inquietude pela destruição da sua beleza.
As linguagens presentes no volume são todas de hoje, mas vão desde as antigas, o terceto, o soneto, a elegia, a canção, o epigrama, a quadra popular, a outras mais recentes, o verso livre, poemas curtos, e alguns mais longos de uma estrofe única, a multiplicidade combinatória de poemas curtíssimos, tercetos, dísticos, inscrições.



Pireu


A lava edificada, ainda em erupção,
avança até ao cais, e os navios como casas também caiadas
ocultam o que poderia ser o mar.
Agora uma nesga vê-se.
Mais logo, ao entardecer, ouviremos os cânticos dos popes.
E será então a hora em que o marinheiro descansará
no repouso pacificador dos cabarés muito sujos por fora
(por dentro como serão?),
identificando-se com o exotismo das mulatas
ou com elas se sentindo em casa.
Mas que pode o sedentário saber do homem de pernas bambas
de tanto contemplar os astros?
Agora o sol ofusca tudo, o cimento e a cal enjoam,
e vem de súbito a gana da noite pretíssima e azul
apenas iluminada pelo cruzeiro
e pelo peixe-voador faiscando.


http://www.sempreempe.pt/
REVISTA TRIPLOV
DE ARTES, RELIGIÕES E CIÊNCIAS




Nº 4 - Março de 2010
http://revista.triplov.com/numero_04/


editorial
Floriano Martins
Realismo e surrealismo nos Estados Unidos



Entre outros artigos e outras obras, poderão ser lidos:
António Justo
O cientista faz, o artista realiza e o crente celebra
Adílio Jorge Marques & Carlos A. L. Filgueiras
O químico e naturalista luso-brasileiro Alexandre Domingos Vandelli
Julio Borromé
¿Qué es la filosofía?, de José Manuel Briceño Guerrero
Sara L. Miranda
A rapariga de cristal
Leonardo Boff
A hora e a vez da ecologia mental
Miguel Ángel Muñoz
Albert Ràfols-Casamada: “Después de la sensibilidad, se encuentra la razón”
Fulvio Fernández
Trabajos
Élson Bruno Santos Aguiar
Antonio Cedraz e a Turma do Xaxado
Henrique Marques-Samyn
Da palavra à poesia: uma (provisória) leitura da obra de Andityas Soares de Moura
Jaime de Barros
Felippe D’Oliveira – O que pensam e sentem os homens moços do Brasil
António Miranda
A poesia da forma: o cinquentenário de Brasília e a proposta da II Bienal Internacional de Poesia
Linaldo Guedes
IkaRo MaxX: Poeta, solteiro, vagabundo, amante, cosmopolita
Alessandro Zir
Do mais lúcido irmão que não me conhecia — a ele (II)
Maria Estela Guedes
Realismos em Nova Iorque
POEMAS DE RENATO SUTTANA




TALVEZ



O ouro de amanhã é talvez,
a certeza dos portos é quem sabe.
A verdade de amanhã,
engastada no fundo das minas –
é uma hipótese a que nos confiamos,
mas que não se confirma no vento.
(Que motivo teria para tudo se confirmar?)
De hoje até amanhã tudo é hipótese –
e o vento, que não se esclarece num mapa.





SÃO SEBASTIÃO

(De uma gravura de Egon Schiele)



As flechas que o atravessam
(dardos de sol que o contestam) –
querem passar além dele
(eis a intenção que as impele).







NO MAIS FUNDO



No mais propício e no mais fundo
descobre-se que ter estado escavando
adulterou o sentido da procura:
e que o ouro que nos pôs nas mãos
(quanto irrisório triunfo!)
nos tornou mais pobres a cada vitória
conquistada.



Poemas publicados em Fim do Verão, livro editado pela Virtual Books (Pará de Minas, Minas Gerais, Brasil). O seu autor, Renato Suttana, nasceu em Barroso (1966), sendo professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Como ensaísta, publicou os livros João Cabral de Melo Neto: o poeta e a voz da modernidade (São Paulo, 2005) e Uma poética do deslimite: Poema e imagem na obra de Manoel de Barros (Dourados, 2009). Coordena a página Arquivo de Renato Suttana.
AVELINO DE SOUSA




QUATRO QUASE-SONETOS



1.

Noite escura da alma. Altas portas
que se entreabrem, nos gonzos rangendo.
Como em lagos parados, horas mortas,
vai em meus olhos a luz anoitecendo.


A vela sobre a mesa. Linhas tortas
são as que a mão, tremente, vai escrevendo.
A cera derretida. A quanto exortas
exangue coração que estás ardendo!


Noite escura da alma. São João,
o Baptista, o da Cruz – o que é que importa?
Tudo são coplas, glosas de outras vidas.


Noite escura da alma. Até o cão,
adormecendo, a cabeça deixa cair, absorta,
no vale negro das esperanças perdidas.



2.
Altas as portas nos gonzos rangendo.
Ferrolhos que retinem com fragor.
Espiral de escadarias. Ascendendo
vai a alma. Escuro é o corredor.


A mão que inúteis versos vai escrevendo.
Que ritmo é que a guia, que rumor?
Embalada no rito, nada vendo,
vai a alma. Estreito é o corredor.


Súbito, no patamar ao fim da escada,
uma forma de luz, subido raio,
logo surge em todo o esplendor.


A noite dá lugar à alvorada.
A mão, tremendo, já não escreve nada.
A alma é estrela, enfim, de raro fulgor!



3.
Altas portas fechadas, sem entrada.
Altas portas fechadas, sem batentes.
Todo o céu exterior é uma estrada
que as estrelas polvilham de sementes.


Essa estrada conduz a uma entrada
de um palácio trancado a cadeado.
Altas portas que não se abrem para nada.
Altas portas fechadas sem telhado.


Para sempre fechadas para tudo,
só para a Alma-Estrela sempre abertas
no palácio do seu ser mais profundo.


Todo o céu interior se fecha, mudo,
atrás de portas altas mas secretas,
as mais altas portas do Profundo.



4.
A vela sobre a mesa. Linhas vagas
são as que a mão, tremente, foi escrevendo:
versos velhos, puído ouro de sagas.
E logo a fraca chama escurecendo.


Ali ao lado o escudo e as adagas.
Um som, ao longe, de gonzos rangendo.
Um galo está cantando horas pressagas.
E nos meus olhos a luz esmorecendo.


O cão fiel num sono sem rebate
é uma glosa da alma em noite escura.
Silêncio nos jardins da alvorada!


Só num compasso certo bate, bate
o coração – são coplas de resgate
p’la Alma: Estrela transfigurada!


(in Pastor de Estrelas, edição do autor, 2009)
DIVINA MÚSICA

Chegou há poucos dias há minha caixa de correio a antologia Divina Música – Antologia de Poesia sobre Música, uma edição comemorativa do 25.º Aniversário do Conservatório Regional de Música de Viseu, organizada por Amadeu Baptista.

Nela podem ser lidos poemas de Adalberto Alves, Affonso Romano de Sant’Ana, Albano Martins, Alexandra Malheiro, Alexandre Vargas, Alexei Bueno, Amadeu Baptista, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Ana Mafalda Leite, Ana Marques Gastão, Ana Salomé, Ana Sousa, António Brasileiro, António Cabrita, António Cândido Franco, António Ferra, António Gregório, António José Queirós, António Osório, António Rebordão Navarro, António Salvado, Artur Aleixo, Bruno Béu, C. Ronald, Camilo Mota, Carlos Felipe Moisés, Carlos Garcia de Castro, Casimiro de Brito, Cláudio Daniel, Cristina Carvalho, Daniel Abrunheiro, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Danny Spínola, Davi Reis, Donizete Galvão, E.M. de Melo e Castro, Edimilson de Almeida Pereira, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduíno de Jesus, Ernesto Rodrigues, Eunice Arruda, Fernando de Castro Branco, Fernando Echevarría, Fernando Esteves Pinto, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Fernando Grade, Fernando Guimarães, Fernando Pinto do Amaral, Francisco Curate, Gonçalo Salvado, Graça Magalhães, Graça Pires, Henrique Manuel Bento Fialho, Hugo Milhanas Machado, Iacyr Anderson Freitas, Inês Lourenço, Isabel Cristina Pires, Jaime Rocha, Joaquim Cardoso Dias, João Aparício, João Camilo, João Candeias, João Manuel Ribeiro, João Moita, João Rasteiro, João Rios, João Rui de Sousa, João Tala, Joaquim Feio, Jorge Arrimar, Jorge Reis-Sá, Jorge Velhote, José Agostinho Baptista, José Carlos Barros, José do Carmo Francisco, José Luís Mendonça, José Luís Peixoto, José Manuel Vasconcelos, José Mário Silva, José Miguel Silva, José Tolentino de Mendonça, Júlio Polidoro, Levi Condinho, Luís Amorim de Sousa, Luís Filipe Cristóvão, Luís Quintais, Luís Soares Barbosa, manuel a. domingos, Margarida Vale de Gato, Maria Andersen, Maria Estela Guedes, Maria João Reynaud, Maria Teresa Horta, Miguel-Manso, Miguel Martins, Myriam Jubilot de Carvalho, Nicolau Saião, Nuno Dempster, Nuno Júdice, Nuno Rebocho, Ondjaki, Ozias Filho, Patrícia Tenório, Paula Cristina Costa, Paulo Ramalho, Paulo Tavares, Prisca Agustoni, Risoleta Pinto Pedro, Roberval Alves Pereira, Rosa Alice Branco, Rui Almeida, Rui Caeiro, Rui Coias, Rui Costa, Ruy Ventura, Sara Canelhas, Soledade Santos, Teresa Tudela, Torquato da Luz, Urbano Bettencourt, Vasco Graça Moura, Vera Lúcia de Oliveira, Vergílio Alberto Vieira, Victor Oliveira Mateus, Virgílio de Lemos, Vítor Nogueira, Vítor Oliveira Jorge, Yvette K. Centeno, Zetho Cunha Gonçalves.
Há no volume poemas que gostei muito de ler, como por exemplo os assinados por C. Ronald, Carlos Felipe Moisés, Carlos Garcia de Castro, Edimilson de Almeida Pereira, Echevarría, Fiorese Furtado, Iacyr Anderson Freitas, Joaquim Cardoso Dias, João Camilo, José Carlos Barros, José Mário Silva, Luís Quintais, Luís Soares Barbosa, Maria Andersen, N. Saião, Nuno Dempster e Rui Almeida. De outros, nem tanto, sou sincero. (Continuo a não perceber como pôde ficar à porta um poeta da craveira de Wilmar Silva - mas Amadeu lá conhecerá as suas mais íntimas razões). Pessoalmente, assino por lá um poema dedicado a Bach, numa versão que os últimos tempos se encarregaram já de modificar.
ALBERTO VELHO NOGUEIRA
ENTREVISTADO PELA "LER"


Ao decidirem avançar com a publicação na revista LER de uma entrevista do escritor Alberto Velho Nogueira, Francisco José Viegas (director) e José Riço Direitinho (entrevistador) praticaram um acto de justiça.
Num período de grande confusão e rebaixamento na nossa literatura (em que dia a dia se confirma a promoção de génios de papelão e a ocultação de todos quantos servem a palavra com uma arte exigente e questionadora, sem se vergarem a modas, facilidades ou regras de mercado), ler as palavras de alguém como Nogueira confirma que são as veredas e outros caminhos escondidos que levam ao lugar do tesouro. Não estamos condenados a comer apenas sopa literária (por mais saborosa que ela seja); há outros manjares mais substanciais nesta mesa com vários séculos de criação e de frequência.
A escrita de Alberto Velho Nogueira (com as obras de Maria Gabriela Llansol, Fernando Echevarría, C. Ronald, Carlos S. C. Couto, Wilmar Silva e muitos outros) poderá exigir uma caminhada iniciática e uma digestão lenta - mas alimentar-nos-á muito mais do que certos acepipes pseudo-realistas que nunca passarão de comida rápida comprada nos supermercados de uma literatura sem ousadia nem experimentação.

(A partir de uma carta enviada a Francisco José Viegas.)
COMO FOI A PRIMEIRA REPÚBLICA
Opiniões de uma testemunha ocular republicana:
Fialho de Almeida in Saibam quantos...




"Este Portugal republicano é aquele mesmo [...] que crê parvamente em Messias políticos e bruxas, que vive d' indústrias fictícias e agriculturas rutinárias, e com um jornalismo pedante de reporters, uma ciência de copistas e uma literatura de decalcos [...]." (1/11/1910, p. 15)


*



"[...] Para implantar no país essas reformas, não vale a pena derribar o monarca para assentar no trono o presidente.
O que é preciso é ter confiança na capacidade mental e moral do cidadão. O que é preciso é ter fé na sinceridade e honra política dos chefes. O que é preciso é curar da disciplina austera dos grupos. E tudo isto não é a forma de governo que o dá, mas uma instrução e uma educação singularmente perfeitas e solícitas. [...]" (pp. 17-18)


*





"[...]
Políticos, politicantes, peste!...
Em toda a parte a política é uma ocupação subalterna que só tenta os faladores e os intrigantes, e em geral se abandona às gentes de pequena virtude que a exploram como uma alquilaria ou uma tenda.
[…] E o resultado é este! Corrupção, ignorância, anarquia geral e marcado retrocesso em todas as representações da vida pública e privada.
Partidos recrutados por senhas de bónus pulverizando-os em patrulhas que inviabilizam o parlamento, tornando a queda de ministérios num sport d’ aventureiros e bravucões. Uma burocracia cleptómana que açambarcou os cargos, com mote de não deixar medrar na vida pública ninguém que não seja do can-can. Meses e meses d’ assembleia onde os deputados fazem lutas d’ apaches, ou exploram narizes de cera, abandonando o terreno quando algum assunto sério vem à fala. Uma imprensa que, aparte três ou quatro jornais, sintomatiza bem o descalabro da terra, tão desorientada e ignorante como o parlamento, vivendo de bagatelas e difamações injuriosas, ou reportagens tão reles que por elas se aquilata a complacência estúpida e a degradação moral de quem na lê. Nem literatura, nem ciência, nem arte, nem marinha, nem exército, nem agricultura bastante ao sustento da gente, nem indústria capaz de resgatar as dezenas de milhões em que, com importações estrangeiras e juros da dívida se esgotam os recursos da mesquinha epargne nacional!... (pp. 191-192)
SEBASTIÃO DA GAMA


 
Nasceu um blogue dedicado a Sebastião da Gama:  http://sebastiaodagama-acsg.blogspot.com/
Aguardamos muitas novidades e a grande dedicação a que a sua Associação já nos habituou.




A GRANDE BARRELA

Começou ontem oficialmente a grande barrela chamada "Comemorações do Centenário da República". Ora dizendo que apenas devemos comemorar a revolução de 1910 olhando para o futuro (para esquecermos o triste passado). Ora afirmando que a má imagem da Primeira República foi uma criação propagandística da ditadura do Estado Novo. Ora lançando para os olhos dos portugueses a poeira dos "pequenos erros" do período compreendido entre 1910 e 1926, de forma a ocultar os desmandos graves do jacobinismo sectário e anti-democrático que foram, de facto, os principais responsáveis pelos 48 anos de ditadura vividos pelo nosso país no século XX.
Basta lermos os textos de vários republicanos desinteressados e clarividentes que acompanharam os acontecimentos como testemunhas oculares (como por exemplo Fialho de Almeida) para chegarmos à conclusão de que estas comemorações são um erro e uma imensa campanha de propaganda destinada a manipular a consciência história de todos nós, de maneira a não vermos com olhos limpos o que se passa neste momento em Portugal.
Voltarei ao assunto, eu, republicano que não se revê em nenhuma das três repúblicas que dominaram a história nacional a partir de 1910, republicano que não confunde regime com forma de governo (no fundo o importante não é a república, regime político, mas uma forma de governo, a democracia - de que estamos ainda muito distantes).


Imagem: Bandeira nacional a partir da opinião do poeta republicano Guerra Junqueiro, que afirmou: "O Campo azul e branco permanece indelével. É o firmamento o mar o luar, o sonho dos nossos olhos o êxtase eterno das nossas almas. Os castelos continuam em pé inabaláveis, de ouro de glória, num fundo de sangue ardente e generoso ... A cruz do calvário, as das cinco chagas essa não morre, é o abraço divino, o abraço imortal... A coroa do Rei, coroa de vergonhas, já o não envilece, o não vislumbra. No brasão dos sete castelos e das quinas erga-se de novo a esfera armilar da nossa glória... E ao símbolo augusto do nosso génio ardente e aventuroso, coroemo-lo enfim de cinco estrelas em diadema dos cinco astros de luz vermelha e verde [ ...] dessa manhã heróica da rotunda." - Guerra Junqueiro, citado em "Do Azul-Branco ao Verde-Rubro. A Simbólica da Bandeira Nacional", de Nuno Severiano Teixeira, 1991


Acabou de sair, segundo me comunicou o Autor.
Uma excelente notícia!