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Estátuas

Largo das Duas Igrejas, em Lisboa. Do alto do seu pedestal, Camões não põe os olhos nos transeuntes, mas nos dois confrades que, ao longe, mal se distinguem. Sentado, com o braço esticado e ar galhofeiro, António Ribeiro Chiado aponta Fernando Pessoa. "A quanto chegaste, meu velho! Só falta animarem o bronze e porem-te, bem-mandado, a servir cafés na esplanada da Brasileira..."

Entre a serra de São Paulo (Castelo de Vide) e os montes da Penha e do Cabeço de Mouro (Portalegre).


Neste hora de regresso, partilho consigo uma das paisagens contempladas no tempo de descanso (Ponta da Atalaia, junto das ruínas do ribat da Arrifana, Aljezur).







Dentro de alguns dias
estarei por aqui
(Aljezur e Costa Vicentina).
Enquanto isso não acontece
agradeço a vossa visita aqui

No próximo mês encontrar-me-eis neste e noutros locais. Mas não aqui. Desejo-vos boas férias!



epifania


veios de luz atravessam a nascente.
asas e ventos dividem esse corpo –
o calor da pedra iluminando o coração.

a majestade dispensa esta viagem.
a nave (se existiu) desaparece
para ficar apenas fortaleza
que o fogo foi dobrando
e seccionando.

o carro avança
sobre o espelho de cinza
quando a tarde escurece?

a fonte divide a fortaleza,
dissolve essa sombra no oceano.

a voz da esfera
ouve-se na terra.
este corpo desaparece
no incêndio
das ondas.




Durante as próximas duas semanas dedicar-me-ei apenas ao papel de pai. Estarei, assim, afastado das lides da blogosfera. Até lá, boas leituras!

fotografia
[Carreiras]



não há semáforos à entrada da aldeia.
no entanto, o vermelho cai constantemente
sobretudo para aqueles que
querendo avançar
vêm de fora, sendo de dentro.

não há sequer uma passagem para peões
ou qualquer limite de velocidade
que justifique a sua presença.
existem, porém, semáforos invisíveis
que não obrigam a parar
mas conseguem que o automóvel
parta mais depressa.

por vezes sem cor, revelam dois ou três
rostos conhecidos (na terra), sentados
todo o dia na esplanada do café ou
(daqui por uns anos) debaixo de uma das árvores do largo
num albergue ou à porta da casa mortuária.

só o verde parece não existir
para aqueles cuja presença incomoda as pedras.
para esses, os semáforos têm apenas duas lâmpadas
uma amarela, outra vermelha.

não se vêem, mas existem
à entrada da aldeia – numa das curvas da estrada
depois do portão (sempre aberto) do cemitério.


*

dois poiais sempre ao redor. mas poderiam ser
dois cabos eléctricos a debruar a fachada da igreja
dois focos a escurecerem a torre ou apenas
duas placas com erros de ortografia.

assim se constrói uma aldeia.
mesmo quando existem roldanas
lembrando o embargo da construção.

a terra é a mesma. e se, em cinquenta anos, foi
cemitério, parque infantil, balneário público, junta
de freguesia e parque de estacionamento, a culpa
é apenas do terreno, instável, apesar da rocha.
a essência fica e o odor é o mesmo.
e não será uma trasladação em caixão de chumbo
que irá resolver o assunto.


*

das tascas nem uma sobrou.
a única que ainda se ergue
com portas há muito fechadas
será, com certeza, um quarto de cama
ou uma casa de banho privativa.

a rua nem sobe nem desce.
até os andores, em dia de procissão, preferem
agora estrada nova, num povo onde
as imagens têm reforma compulsiva
sem processo disciplinar nem culpa formada.

as bocas, essas, calam-se. como se as casas
e todas as palavras fossem clandestinas
não vão alguns ser como o santo
que, primeiro, se negou ao chibo da promessa
mas depois já corria atrás dele.

a alegria permanece, apesar das nuvens
e da cortiça (quase humana) que não sai
mesmo depois dos nove anos
correndo o risco de perder a serventia.

a alegria permanece. a vontade fica. regressa.
embora traçada a negro no rosto
daqueles cujo automóvel encontra
todos os dias (ou quase todos)
um sinal vermelho à entrada desta aldeia.

(para Maria Guadalupe Alexandre)


publicado também no Arquivo do Norte Alentejano