José do Carmo Francisco
A «árvore de Natal» de António Ferro e a «Trama»
Há coisas no mínimo misteriosas. Minutos depois de receber a mensagem de telemóvel com Rita Ferro a anunciar o facto de uma rua em Cascais passar a ter o nome de António Quadros, descobri uma nova Livraria Alfarrabista. A nova rua é perto do Hotel Cidadela e será António Capucho a fazer a inauguração. A «Trama» é um jovem estabelecimento livreiro que fica na Rua de São Filipe Nery nº 25B, ali ao Largo do Rato. Pois lá descobri um livro de António Ferro com o curioso título de Árvore de Natal. A editora é a Portugália e os desenhos são de Jorge Barradas. O livro é de 1920. Vejamos um poema que poderá ser para muitos de nós (como foi para mim) uma revelação. Por detrás do editor do Orpheu e do homem que deu um jeito para não se perder o tal livro do Fernando Pessoa (Mensagem) há uma voz poética. Vejamos o soneto "Madrugada":
«Tu vais ser mãe… Tu vais amanhecer…/ No teu ventre suave que se enflora / Eu sinto já prenúncios de uma aurora / O sol que, atrás das nuvens, quer romper/ Vais ter um filho de outro, meu amor / Tu que já foste mãe dum filho meu! /Um filho sim… Que o meu amor nasceu /Como um menino, no teu corpo em flor…/ Mesmo esse filho que tu vais gerar / É quase meu… Pois com o coração /É que o teu corpo o tem que imaginar / Lê esta sina, escuta esta adivinha: / Parecer-se-á com ele na expressão / Mas vai ter uma alma igual à minha!»
Há coisas no mínimo misteriosas. Com minutos de intervalo um rua nova com o nome de António Quadros em Cascais e um livro antigo de António Ferro numa livraria nova aqui ao pé do Rato.
1 comentário:
Meu Caro José do Carmo:
Eu podia ser personagem desta bela crónica se tivesses preferido o exemplar deste mesmo livro que eu te ofereci.
Esse mesmo, de António Ferro que comprei no último Adelo de Lisboa, do Senhor Neves que com o teu empenho ressuscitou o ano findo na blogosfera.
Bom Ano e um fraternal abraço
Joaquim
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