José do Carmo Francisco
«Gente feliz com lágrimas» vinte anos depois
Parece que foi ontem mas já lá vão vinte anos que saiu a público o livro de João de Melo Gente Feliz com lágrimas. Uma edição especial em formato de bolso foi apresentada pela Editora D. Quixote no passado dia 7 de Março na Casa dos Açores – como não podia deixar de ser. Estou a ler o livro com a surpresa da primeira vez, com o fascínio da primeira vez, com a emoção da primeira vez. E, se tivesse que fazer de novo uma nota para um jornal, citando a página significativa que mostra a respiração da personagem chave deste livro (Nuno Miguel) escolhia a página 93: «A primeira vez que fui levado a conhecer o mar de perto tinha nove anos. Ainda hoje não sei, não consigo acertar com o vocabulário que melhor se ajuste a descrever o mercúrio das trevas do alto-mar, nessa tenebrosa viagem entre Ponta Delgada e a luminosa cidade de Lisboa. Tudo se confunde de resto com as águas turvas e o tempo sombrio da infância. Felizes dos que hoje cruzam o espaço para aqui chegarem, viajando de avião. Que sejam felizes mesmo sem saberem porquê. Felizes as crianças, os jovens e os cidadãos adultos deste país de hoje: conhecem o mar quando nascem, vêm-no de cima dos aviões e não precisam de viver vigiados e policiados. A minha geração acabou com a guerra de África, perdoou os esbirros e devolveu ao povo português o céu diáfano do seu país escuro. Pode morrer de consciência tranquila: deu o seu salto mortal no trapézio, caiu de pé, não venha ninguém dizer-lhe que o circo vai nu ou que são falsos o Sol, o mar, os dias de agora e os que a estes hão-de seguir-se.» Fim de citação; parabéns ao autor e à editora. Parabéns aos leitores que vão sair deste livro mais lúcidos, mais emocionados e mais felizes.
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