Victor Oliveira Mateus
a Cristovam Pavia
Pela janela do meu quarto ouço um ruído que se mantém:
longínquo, indistinto na sua distância, nessa permanência
de rumor que me sufoca. Que me sufoca e atordoa os pássaros
na ramaria em frente. Pela janela as vozes de um lugar!
Vozes que curiosamente vejo e que magoam este desacerto
que sempre volta entre o diferente que vislumbro e esta cidade
empedernida: fanqueiros com os seus manequins de papelão
carcomidos pelo tempo e pelo desuso; miúdos com seus carros
de esferas a ziguezaguearem na humidade do asfalto; um cão
vadio ( ou de liberdade cioso?) vasculhando os restos com que
os imprestáveis excessos mascaram sua vaidade. Pela janela
do meu quarto bebo a luz que a cidade não tem, mas que para ela
sonho em momentos de insurrecto furor ou de esparsa melancolia;
momentos onde ainda teço os poucos poemas que de mim – talvez –
se firmem, para júbilo dos que suportam, mas não desistem.
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