POEMAS DE RENATO SUTTANA




TALVEZ



O ouro de amanhã é talvez,
a certeza dos portos é quem sabe.
A verdade de amanhã,
engastada no fundo das minas –
é uma hipótese a que nos confiamos,
mas que não se confirma no vento.
(Que motivo teria para tudo se confirmar?)
De hoje até amanhã tudo é hipótese –
e o vento, que não se esclarece num mapa.





SÃO SEBASTIÃO

(De uma gravura de Egon Schiele)



As flechas que o atravessam
(dardos de sol que o contestam) –
querem passar além dele
(eis a intenção que as impele).







NO MAIS FUNDO



No mais propício e no mais fundo
descobre-se que ter estado escavando
adulterou o sentido da procura:
e que o ouro que nos pôs nas mãos
(quanto irrisório triunfo!)
nos tornou mais pobres a cada vitória
conquistada.



Poemas publicados em Fim do Verão, livro editado pela Virtual Books (Pará de Minas, Minas Gerais, Brasil). O seu autor, Renato Suttana, nasceu em Barroso (1966), sendo professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Como ensaísta, publicou os livros João Cabral de Melo Neto: o poeta e a voz da modernidade (São Paulo, 2005) e Uma poética do deslimite: Poema e imagem na obra de Manoel de Barros (Dourados, 2009). Coordena a página Arquivo de Renato Suttana.

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