Floriano Martins
PEQUENA MÁQUINA DE METÁFORAS
Eu cubro o teu nome com os cílios da noite.
Teu desamparo mal distingue em meus dedos
as tintas com que trafego por sua vegetação.
Estás sempre nua como uma metafísica insone.
Eu misturo as sílabas flutuantes do desejo
e rabisco em tua pele uma senha esponjosa.
Teus suspiros badalam em ardilosa catedral,
com sua areia-gulosa e as jóias do abismo.
Não concluis uma frase sem a reticência
luminosa de teus seios boiando no tempo,
tear de safiras da luxúria, paiol de miragens,
partes minúsculas do perigo que se põe a rir
sempre que o vemos como um cofre, um fim.
O sol configura suas telas com o traje mecânico
do esquecimento, penhasco de vícios: não dar
por conta de um único anseio no dia seguinte.
O mundo se despedaça rindo. Acumulo suas
vítimas na ribeira. Pernas trêmulas da melancolia.
Manjar contaminado da esperança. E ainda
assim ali estás, baile sem rosto e infindo,
tua nudez entrevista em seu duplo sentido.
Eu abro o teu nome para decifrar seus vidros.
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