É assim que se faz a Estória


Existe numa cidade portuguesa um estoriador de gabarito: o Prof. José Armando de Pitta Raposo.
Uma maliciosa lenda regional tentou difundir o preceito de que este homem de estudo não passava de um apepinador. Estamos em condições de demonstrar o contrário!
Pitta Raposo é um grande talento. Talvez seja apenas ultrapassado pelo, aliás seu confrade e amigo, ensaísta A. Mendes da Cunha, ainda que outros observadores discordem.
Aliás os seus livros provam-no à saciedade. Ultimamente, ainda, para corolário duma carreira sumptuosa, o grande estoriador assumiu mesmo o cargo de editor da revista ilustrada
A barbacã, uma das mais conhecidas entre os sinólogos nacionais.
Descendente de uma das mais excelsas famílias lusas, os Pereiras Curitiba, Pitta Raposo deu à estampa diversos tomos de alto valor cerebral.
Começando por uma pequena homenagem ao seu trisavô (
Anatólio Raposo, cozinheiro inspirado e patriota) incursionou depois pelo memorialismo com Memórias de Antão Raposo, meu primo em terceiro grau, o qual lhe valeu elogios do renomado crítico espanhol Juan Capullo Follante e do também estoriógrafo local P. Tadeu Rabecaz.
Além de outros mais, cheios de originalidade (a saírem) e tendo sempre como protagonistas personalidades da sua multifacetada família, Pitta Raposo é também autor de músicas (marchinhas) interpretadas por Romão Carabosse, o grande violoncelista franco-luso.
O poeta e titular Alfonso Bilharoz de Moncada, grande amigo e admirador de Pitta Raposo, dedicou-lhe este poema assumidamente laudatório - o que lhe confere ainda maior valor descritivo e lírico como se poderá comprovar pela sua atenta leitura. -
Nicolau Saião


Perfil de um grande homem

É arteiro como um cigano
elegante e donairoso
- um magnífico fulano
o grande Pitta Raposo!

Melífluo e insinuante
dá de si boa impressão
e embora seja um tunante
é um belo cidadão!

Sabe aguentar a parada
para levar tudo a eito
- entra em qualquer titarada
desde que lhe dê proveito.

Um fidalgote fogoso
mexido até dizer basta
- o grande Pitta Raposo
o que ele gosta da pasta…

Com a mão esquerda arrebanha
com a direita arrebata.
O que faz falta é ter manha,
o que é preciso é ter lata!

É real homem de bem
nada há que lhe não valha:
pois seguro prestígio tem
entre outros da mesma igualha.

Mesmo sem obra imponente
que o venha a cobrir de louros
vai deixar um nome ingente
aos lusitanos vindouros

e a Estória registará
o seu nome valoroso
mesmo sendo a escrita má.
- E viva o Pitta Raposo!

Alfonso Bilharoz de Moncada


(Na imagem: O grande estoriador proferindo uma palestra.)

4 comentários:

Anónimo disse...

Eheheh, Nicolau! O Pitta Raposo é o maior e o outro idem.

Paulo

Anónimo disse...

Puxa.
poesia divertida.

Anónimo disse...

Uma bela "homenagem" aos Pittas Raposos que por lá abundam, nessa cidade portuguesa. E que a desfeiam, de que maneira.

Anamaria

Anónimo disse...

Um interessante exemplo de poesia com largos sinais na literatura portuguesa, a sátira a medíocres, vigaristas e pretensiosos.
E tudo com fino senso de humor, destapando crâneos mas sem grosserias.
Gostei muito.

Manuel A.Andrade