José María Cumbreño
Los poetas inventados
o el traje nuevo del emperador
Sé de algunos poetas que no existen, poetas que no han sido creados por dios, sino por su editor. La jugada es sencilla. No hay más que seguir los siguientes pasos.
- Primero. Debe elegirse a un escritor (o escritora) joven y de provincias, preferiblemente con aire lánguido, mirada perdida y gafas de pasta.
- Segundo. A continuación se le concede uno de los premios que publica la propia editorial (aquí interesa darle mucho bombo a la noticia, asegurar que se trata de la nueva promesa de la poesía española o algo así).
- Tercero. Seguidamente el editor omnisciente se encargará de ir publicando los sucesivos libros que el escritor (o escritora, no lo olvidemos) vaya produciendo.
- Cuarto. Los poemarios de marras se distribuirán por todo el país y se regalarán a cuanto crítico habite los principales suplementos literarios.
- Quinto. Aprovechar el efecto el traje nuevo del emperador para volver a afirmar que, sin duda, nos encontramos ante una de las voces más intensas (a pesar de sus silencios) de la poesía patria. Dejar que tales cantinelas corran de boca en boca.
- Sexto. Lograr que, como prueba de su talento, vuelva a ganar otro premio publicado por la misma editorial de siempre.
- Séptimo. Por último, publicar una antología del citado escritor (o escritora) como confirmación de que prácticamente es un clásico vivo y, mediante encendidos elogios en la solapa o la contraportada, animar a los indecisos lectores que aún no lo hayan hecho a comprar de inmediato su obra completa.Y asunto concluido.
(E em Portugal? Será diferente?)
Pedro Du Bois
ALÉM
Além do pensamento
riscar ao autor
o fósforo
incendiado
no desafio
de se fazer
luz
incinerar a idéia
do autor na velocidade
antecedente.
A consumação estrófica
deixa o desejo ardente
da febre mortal da exceção.
Na luz inconsumida
piora o desentendimento:
rouba ao autor
a solidez da pedra
deslocada: a entrada
ilumina o inexistente.
Outros poemas do autor:
http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5812
ALÉM
Além do pensamento
riscar ao autor
o fósforo
incendiado
no desafio
de se fazer
luz
incinerar a idéia
do autor na velocidade
antecedente.
A consumação estrófica
deixa o desejo ardente
da febre mortal da exceção.
Na luz inconsumida
piora o desentendimento:
rouba ao autor
a solidez da pedra
deslocada: a entrada
ilumina o inexistente.
Outros poemas do autor:
http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5812
LUIS ARTURO GUICHARD
Las campanas del sitio en que nacimos
Están sonando siempre. No las oímos
Pero ellas nos están siguiendo. Miden
Los golpes que nos quedan con la precisión
Que sólo aprende el péndulo. Suenan
En aquel lugar de casas blancas
De larguísimos pasillos ciegos
En los que el mismo niño sigue
Corriendo sin encontrar la salida
Con la misma mirada del anciano
Que señala al niño un punto mas allá
del ocaso.
La despedida suena
el los oídos como un péndulo. Empecemos
a cumplir el oficio de creer y de esperar.
Entre estos doce golpes deben estar
los sonidos verdaderos.
(in Los sonidos verdaderos, México, 2000)
Las campanas del sitio en que nacimos
Están sonando siempre. No las oímos
Pero ellas nos están siguiendo. Miden
Los golpes que nos quedan con la precisión
Que sólo aprende el péndulo. Suenan
En aquel lugar de casas blancas
De larguísimos pasillos ciegos
En los que el mismo niño sigue
Corriendo sin encontrar la salida
Con la misma mirada del anciano
Que señala al niño un punto mas allá
del ocaso.
La despedida suena
el los oídos como un péndulo. Empecemos
a cumplir el oficio de creer y de esperar.
Entre estos doce golpes deben estar
los sonidos verdaderos.
(in Los sonidos verdaderos, México, 2000)
CASÉ LONTRA MARQUES
Alguns poemas
de Mares inacabados
(2008)
O corpo ultrapassa a parede de argamassa, mas continua
estreito, concreto, como um pulmão trancado
em crise de asma. A liberdade
vendeu as asas em troca de paisagem.
Encontro um detrito
entre as pernas, apesar da velocidade dos afetos.
O pássaro
que inventamos era só mais um pássaro.
*
Através da vidraça trincada, dá pra ver a cara calma
da calçada. Prédios em vez de asas.
Quando escurecer, o corpo edificará sua cota
de argamassa. Algo branco
seduz a cidade com solidez de fumaça.
Depois de respirar, aceito
o sol na medida exata do furo de uma bala.
*
Lá está a esquina prevista, a cidade evidente. Mares inacabados
que o sol do sarcasmo
infeccionou. Dois desempregados cruzam o asfalto, equilibrando pássaros
dentro dos sapatos. Cultivar o corpo como pedras
que o sol do sarcasmo
infeccionou. A violência também exercita nem tão sutil melodia.
*
Móveis novos há tanto depredados. Setembro quase de todo
vertical. Uma gaveta que ninguém ousaria
comparar a um pulmão. Apesar de desfalcar o tórax
do armário. Outubro não virá
até que se abra outro janeiro no colo desta hora.
*
Pouco importa se o fogo voltará. Alguma cabeça
no mais alto degrau da escada. Ainda
o martelar daquele prego
incomodamente mudo. Resta agora a camisa pra lavar.
Alguns poemas
de Mares inacabados
(2008)
O corpo ultrapassa a parede de argamassa, mas continua
estreito, concreto, como um pulmão trancado
em crise de asma. A liberdade
vendeu as asas em troca de paisagem.
Encontro um detrito
entre as pernas, apesar da velocidade dos afetos.
O pássaro
que inventamos era só mais um pássaro.
*
Através da vidraça trincada, dá pra ver a cara calma
da calçada. Prédios em vez de asas.
Quando escurecer, o corpo edificará sua cota
de argamassa. Algo branco
seduz a cidade com solidez de fumaça.
Depois de respirar, aceito
o sol na medida exata do furo de uma bala.
*
Lá está a esquina prevista, a cidade evidente. Mares inacabados
que o sol do sarcasmo
infeccionou. Dois desempregados cruzam o asfalto, equilibrando pássaros
dentro dos sapatos. Cultivar o corpo como pedras
que o sol do sarcasmo
infeccionou. A violência também exercita nem tão sutil melodia.
*
Móveis novos há tanto depredados. Setembro quase de todo
vertical. Uma gaveta que ninguém ousaria
comparar a um pulmão. Apesar de desfalcar o tórax
do armário. Outubro não virá
até que se abra outro janeiro no colo desta hora.
*
Pouco importa se o fogo voltará. Alguma cabeça
no mais alto degrau da escada. Ainda
o martelar daquele prego
incomodamente mudo. Resta agora a camisa pra lavar.
LIVRO DE RUY VENTURA
TRADUZIDO NOS ESTADOS UNIDOS
Acaba de ser publicada nos Estados Unidos da América, em San Francisco (Califórnia), uma tradução do livro de poesia de Ruy Ventura intitulado Assim se deixa uma casa. A obra agora dada a lume com o título How to leave a house surge no âmbito do projecto “Second Mind”, contando com uma versão inglesa da responsabilidade de Brian Strang, que já antes publicara nessa língua poemas do autor de Arquitectura do Silêncio, nomeadamente na revista 26: A Journal of Poetry and Poetics, editada também na cidade californiana, e em publicações electrónicas.
Brian Strang vive em Oakland, sendo professor na San Francisco State University e no Merritt College. Publicou, entre outros, os livros Incretion e machinations. Tem traduzido, em conjunto com Elisa Brasil, poemas de vários autores contemporâneos de língua portuguesa. Pintor, tem quadros que podem ser vistos na sua página on-line, “Sorry Nature” (http://sorrynature.blogspot.com/).
Assim deixa uma casa, cuja tradução agora se publica, teve a sua primeira edição em Portugal no ano de 2003, pelas edições Alma Azul, de Coimbra. Tratou-se de uma edição bilingue, em português e espanhol, com versão e prefácio de Antonio Sáez Delgado (Cáceres, 1970), um dos mais importantes estudiosos e divulgadores da literatura portuguesa dos séculos XX e XXI em Espanha. Sobre esta obra, escreveu Pedro Sena-Lino em 26 de Janeiro de 2004 na página “Canal de Livros” (http://www.canaldelivros.com/data/Novidades/640.htm):
“Desde o seu primeiro livro, [...] Arquitectura do Silêncio, que a poesia de Ruy Ventura se constrói numa tensão obsessional pelas coordenadas de espaço e tempo, pelos seus limites e capacidades. A inscrição, através do poema, visa simultaneamente reconciliar o visível e o invisível, o tempo anterior, o presente e o passado, e criar no lugar-tempo do poema um espaço fixo de imutabilidade, uma estrutura do eu em sintonia e coerência. / Donde que neste seu quarto livro, Assim se deixa uma casa, esta temática se manifeste em tonalidade diferente da do primeiro livro, ou mesmo de Sete Capítulos do Mundo, recentemente editado pela Black Sun. A Casa, baluarte identitário e veículo do espaço absoluto do poema, é uma entidade simultaneamente materna e protectora; abandona-lá significa um corte, com qualquer coisa de injusto: / […] / Porém, o valor espiritual da casa é desenvolvido com larga perspectiva pela pena de Ruy Ventura: / […] / Mais um aspecto da inscrição do natural (outro tema caro a esta poesia), ou seja, da identidade da natureza face ao tempo, que Ruy Ventura tem levado a cabo, com assinalável coerência, num processo de escrita que cada vez mais se condensa numa sucessão de imagens estranhantes, perturbadoras, misteriosas.”
José Mário Silva, por seu lado, referiu no “Diário de Notícias” de 8 de Janeiro de 2004:
“Este é um universo fechado, somatório de enumerações e enquadramentos fotográficos. Os versos são degraus por onde sobem imagens duma despedida, de uma ausência em curso. A casa esvazia-se mas permanece de pé – “estátua de areia / num jardim de inverno”. Há um cântaro que guarda o “caminho entre a fonte / e a alegria”. O texto, esse, arde na sua opacidade. Porque é “ao mesmo tempo / luz e interpretação da luz”.”
Acaba de ser publicada nos Estados Unidos da América, em San Francisco (Califórnia), uma tradução do livro de poesia de Ruy Ventura intitulado Assim se deixa uma casa. A obra agora dada a lume com o título How to leave a house surge no âmbito do projecto “Second Mind”, contando com uma versão inglesa da responsabilidade de Brian Strang, que já antes publicara nessa língua poemas do autor de Arquitectura do Silêncio, nomeadamente na revista 26: A Journal of Poetry and Poetics, editada também na cidade californiana, e em publicações electrónicas.
Brian Strang vive em Oakland, sendo professor na San Francisco State University e no Merritt College. Publicou, entre outros, os livros Incretion e machinations. Tem traduzido, em conjunto com Elisa Brasil, poemas de vários autores contemporâneos de língua portuguesa. Pintor, tem quadros que podem ser vistos na sua página on-line, “Sorry Nature” (http://sorrynature.blogspot.com/).
Assim deixa uma casa, cuja tradução agora se publica, teve a sua primeira edição em Portugal no ano de 2003, pelas edições Alma Azul, de Coimbra. Tratou-se de uma edição bilingue, em português e espanhol, com versão e prefácio de Antonio Sáez Delgado (Cáceres, 1970), um dos mais importantes estudiosos e divulgadores da literatura portuguesa dos séculos XX e XXI em Espanha. Sobre esta obra, escreveu Pedro Sena-Lino em 26 de Janeiro de 2004 na página “Canal de Livros” (http://www.canaldelivros.com/data/Novidades/640.htm):
“Desde o seu primeiro livro, [...] Arquitectura do Silêncio, que a poesia de Ruy Ventura se constrói numa tensão obsessional pelas coordenadas de espaço e tempo, pelos seus limites e capacidades. A inscrição, através do poema, visa simultaneamente reconciliar o visível e o invisível, o tempo anterior, o presente e o passado, e criar no lugar-tempo do poema um espaço fixo de imutabilidade, uma estrutura do eu em sintonia e coerência. / Donde que neste seu quarto livro, Assim se deixa uma casa, esta temática se manifeste em tonalidade diferente da do primeiro livro, ou mesmo de Sete Capítulos do Mundo, recentemente editado pela Black Sun. A Casa, baluarte identitário e veículo do espaço absoluto do poema, é uma entidade simultaneamente materna e protectora; abandona-lá significa um corte, com qualquer coisa de injusto: / […] / Porém, o valor espiritual da casa é desenvolvido com larga perspectiva pela pena de Ruy Ventura: / […] / Mais um aspecto da inscrição do natural (outro tema caro a esta poesia), ou seja, da identidade da natureza face ao tempo, que Ruy Ventura tem levado a cabo, com assinalável coerência, num processo de escrita que cada vez mais se condensa numa sucessão de imagens estranhantes, perturbadoras, misteriosas.”
José Mário Silva, por seu lado, referiu no “Diário de Notícias” de 8 de Janeiro de 2004:
“Este é um universo fechado, somatório de enumerações e enquadramentos fotográficos. Os versos são degraus por onde sobem imagens duma despedida, de uma ausência em curso. A casa esvazia-se mas permanece de pé – “estátua de areia / num jardim de inverno”. Há um cântaro que guarda o “caminho entre a fonte / e a alegria”. O texto, esse, arde na sua opacidade. Porque é “ao mesmo tempo / luz e interpretação da luz”.”
Subscrever:
Mensagens (Atom)