GALERIA PESSOAL
À pintura de Nicolau Saião e de Nuno Matos Duarte, junto a de outro pintor que faz parte da minha galeria pessoal: JOÃO GARÇÃO.
PROFESSORES
Não resisto a divulgar um texto que me enviou a minha amiga Maria João Peres. Como ela escreve, o professor - neste país - tem sempre defeitos...
... se é jovem, não tem experiência...
... se é velho, está superado...
... se não tem carro, é um coitado...
... se tem carro, chora de "barriga cheia"...
... se fala em voz alta, grita...
... se fala em tom normal, ninguém o ouve...
... se não falta às aulas, é um tontinho...
... se falta, é um "turista"...
... se conversa com os outros professores, está a falar mal dos alunos...
... se não conversa, é um desligado...
... se dá a matéria toda, não tem dó dos alunos...
... se não dá a matéria, não prepara os alunos...
... se brinca com a turma, arma-se em engraçado...
... se não brinca, é um chato...
... se chama a atenção, é um autoritário...
... se não chama, não se sabe impor...
... se o teste de avaliação é longo, não dá tempo...
... se o teste de avaliação é curto, tira oportunidades aos alunos...
... se escreve muito, não explica...
... se explica muito, o caderno não tem nada...
... se fala correctamente, ninguém o entende...
... se utiliza a linguagem dos alunos, não tem vocabulário...
... se o aluno é reprovado, foi perseguição... ou o professor não o apoiou...
... se o aluno é aprovado, o mérito é apenas dele... ou o professor facilitou.
Que vida a dos professores! Seja como for, levam bordoada - dos alunos, da comunidade, dos pais, dos empresários, do Ministério... Está na hora de ajudá-los a cumprirem a sua tarefa: instruir e educar.
Não resisto a divulgar um texto que me enviou a minha amiga Maria João Peres. Como ela escreve, o professor - neste país - tem sempre defeitos...
... se é jovem, não tem experiência...
... se é velho, está superado...
... se não tem carro, é um coitado...
... se tem carro, chora de "barriga cheia"...
... se fala em voz alta, grita...
... se fala em tom normal, ninguém o ouve...
... se não falta às aulas, é um tontinho...
... se falta, é um "turista"...
... se conversa com os outros professores, está a falar mal dos alunos...
... se não conversa, é um desligado...
... se dá a matéria toda, não tem dó dos alunos...
... se não dá a matéria, não prepara os alunos...
... se brinca com a turma, arma-se em engraçado...
... se não brinca, é um chato...
... se chama a atenção, é um autoritário...
... se não chama, não se sabe impor...
... se o teste de avaliação é longo, não dá tempo...
... se o teste de avaliação é curto, tira oportunidades aos alunos...
... se escreve muito, não explica...
... se explica muito, o caderno não tem nada...
... se fala correctamente, ninguém o entende...
... se utiliza a linguagem dos alunos, não tem vocabulário...
... se o aluno é reprovado, foi perseguição... ou o professor não o apoiou...
... se o aluno é aprovado, o mérito é apenas dele... ou o professor facilitou.
Que vida a dos professores! Seja como for, levam bordoada - dos alunos, da comunidade, dos pais, dos empresários, do Ministério... Está na hora de ajudá-los a cumprirem a sua tarefa: instruir e educar.
ANTOLOGIA DE POESIA JUDAICA (1)
DEIXA-ME, OUTRA VEZ
Deixa-me, outra vez, sentir o cheiro da terra,
Estalido morno da água silenciosa,
Penumbra e silêncio da tulha no estio,
Apelo nocturno de um fogo campestre,
Que eu ouça, que eu sinta, que eu tenha a impressão
Do ácido sabor das frutas maduras,
Ajuda-me a lembrar o som da foice,
A alegre humidade do orvalho nocturno,
E traz-me, traz-me, nas asas do vento,
O seco rangido da carroça, a léguas,
Suspiro de espiga debulhada - Ajuda-me,
Ó Deus, a lembrar a linguagem da aldeia.
J. ROLNIK (Rússia, 1879-1955), na antologia de poesia judaica Quatro Mil Anos de Poesia, organizada por J. Guinsburg (São Paulo, 1969)
(Tradução de Paula Beiguelman, revista por RV)
DEIXA-ME, OUTRA VEZ
Deixa-me, outra vez, sentir o cheiro da terra,
Estalido morno da água silenciosa,
Penumbra e silêncio da tulha no estio,
Apelo nocturno de um fogo campestre,
Que eu ouça, que eu sinta, que eu tenha a impressão
Do ácido sabor das frutas maduras,
Ajuda-me a lembrar o som da foice,
A alegre humidade do orvalho nocturno,
E traz-me, traz-me, nas asas do vento,
O seco rangido da carroça, a léguas,
Suspiro de espiga debulhada - Ajuda-me,
Ó Deus, a lembrar a linguagem da aldeia.
J. ROLNIK (Rússia, 1879-1955), na antologia de poesia judaica Quatro Mil Anos de Poesia, organizada por J. Guinsburg (São Paulo, 1969)
(Tradução de Paula Beiguelman, revista por RV)
ALJEZUR
De todas as imagens que recebo desta terra, guardarei sempre as que vou estruturando quando atravesso a várzea.
Os tempos da sementeira e da colheita são, entre todos, aqueles que maior beleza e substância me transmitem - com a lembrança da fertilidade, com a variedade de cores e de odores que, no fundo, conseguem esquecer dentro de mim outros mundos artificiais, de superfície.
Que belos os feijoeiros a subirem pelas ampas, os fardos de palha espalhados pelas longas belgas de terreno, o milho verde, a água regando... E, à beira da estrada, os malvariscos floridos, trazendo para os meus olhos recordações da Fonte Nova (nas Carreiras) efeitada pelo São João.
De todas as imagens que recebo desta terra, guardarei sempre as que vou estruturando quando atravesso a várzea.
Os tempos da sementeira e da colheita são, entre todos, aqueles que maior beleza e substância me transmitem - com a lembrança da fertilidade, com a variedade de cores e de odores que, no fundo, conseguem esquecer dentro de mim outros mundos artificiais, de superfície.
Que belos os feijoeiros a subirem pelas ampas, os fardos de palha espalhados pelas longas belgas de terreno, o milho verde, a água regando... E, à beira da estrada, os malvariscos floridos, trazendo para os meus olhos recordações da Fonte Nova (nas Carreiras) efeitada pelo São João.
TERRORISMO
O artigo de Ester Mucznik, no "Público" de 22 de Julho, é uma boa análise do terrorismo islâmico, dado que procura mostrar os seus alicerces: ressentimento pela perda de influência que um dia tiveram; desejo confesso de alastrar a todo o mundo uma "cultura" muçulmana pressupostamente "pura" (sobretudo às regiões do planeta que já estiveram sob domínio político islâmico); submissão cega dos indivíduos aos objectivos de "Alá" (isto é, dos terroristas).
Muitos fiéis muçulmanos não partilharão esta ideologia - podem mesmo condená-la -, mas os poucos (?) que a põem em prática são suficientes para lançar o mundo num caos.
Completando o texto de Mucznik, o "Público" de 23 de Junho publicou um interessante artigo de Olivier Roy, saído também no "New York Times". Desmascara os pretextos apresentados pelos terroristas e aceites por tanta gente:
1. o terror iniciou-se muito antes da invasão do Iraque e é posto em prática mesmo em países que não apoiaram a intervenção americana;
2. põe em prática uma estratégia global de alastramento do medo, não participando em conflitos locais em que, segundo afirmam, os muçulmanos são humilhados;
3. tentam destruir a influência cultural do Ocidente (logo, "americana");
4. não tem interesse em promover o bem-estar dos "pobres" islâmicos (pois, assim, perderiam influência junto desses fiéis);
5. invocando o Corão, a geração terrorista é uma geração sem raízes (vingam-se de um passado islâmico demasiado "impuro" e tentam evitar um futuro igualmente mergulhado na "impureza").
O artigo de Ester Mucznik, no "Público" de 22 de Julho, é uma boa análise do terrorismo islâmico, dado que procura mostrar os seus alicerces: ressentimento pela perda de influência que um dia tiveram; desejo confesso de alastrar a todo o mundo uma "cultura" muçulmana pressupostamente "pura" (sobretudo às regiões do planeta que já estiveram sob domínio político islâmico); submissão cega dos indivíduos aos objectivos de "Alá" (isto é, dos terroristas).
Muitos fiéis muçulmanos não partilharão esta ideologia - podem mesmo condená-la -, mas os poucos (?) que a põem em prática são suficientes para lançar o mundo num caos.
Completando o texto de Mucznik, o "Público" de 23 de Junho publicou um interessante artigo de Olivier Roy, saído também no "New York Times". Desmascara os pretextos apresentados pelos terroristas e aceites por tanta gente:
1. o terror iniciou-se muito antes da invasão do Iraque e é posto em prática mesmo em países que não apoiaram a intervenção americana;
2. põe em prática uma estratégia global de alastramento do medo, não participando em conflitos locais em que, segundo afirmam, os muçulmanos são humilhados;
3. tentam destruir a influência cultural do Ocidente (logo, "americana");
4. não tem interesse em promover o bem-estar dos "pobres" islâmicos (pois, assim, perderiam influência junto desses fiéis);
5. invocando o Corão, a geração terrorista é uma geração sem raízes (vingam-se de um passado islâmico demasiado "impuro" e tentam evitar um futuro igualmente mergulhado na "impureza").
ARRÁBIDA
Ardeu ontem mais uma parte da Serra da Arrábida, o "altar da Saudade", como a qualificou Teixeira de Pascoaes.
Destruirão (os criminosos, os irresponsáveis, os que nada fazem e deveriam fazer...) o verde da serra que, ainda assim, irá renascendo, mesmo a custo. Mas não conseguirão destruir a memória do verde, a memória dos Homens que iluminaram a serra ao longo dos séculos: sufis, frades arrábidos, pescadores, lavradores, Frei Agostinho da Cruz, Sebastião da Gama e tantos outros.
Ardeu ontem mais uma parte da Serra da Arrábida, o "altar da Saudade", como a qualificou Teixeira de Pascoaes.
Destruirão (os criminosos, os irresponsáveis, os que nada fazem e deveriam fazer...) o verde da serra que, ainda assim, irá renascendo, mesmo a custo. Mas não conseguirão destruir a memória do verde, a memória dos Homens que iluminaram a serra ao longo dos séculos: sufis, frades arrábidos, pescadores, lavradores, Frei Agostinho da Cruz, Sebastião da Gama e tantos outros.
Que grande luz estarmos
vendo os troncos amar a ventania
e o inverno a ensombrecer o espaço
por onde se ilumina
a minúcia monacal dos ramos
nos diáfanos vidros da melancolia.
Que grande luz. Tudo é claro
porque quanto nos habita
é campo livre. Ou é campo
como o perímetro a recuar a fímbria
de ouro ou de obstáculo
que pudesse subsistir ainda.
Mas, sobretudo, que grande luz amarmos
tão fundo o espaço da melancolia.
FERNANDO ECHEVARRÍA
"Poesia, 1980-1984", Afrontamento
vendo os troncos amar a ventania
e o inverno a ensombrecer o espaço
por onde se ilumina
a minúcia monacal dos ramos
nos diáfanos vidros da melancolia.
Que grande luz. Tudo é claro
porque quanto nos habita
é campo livre. Ou é campo
como o perímetro a recuar a fímbria
de ouro ou de obstáculo
que pudesse subsistir ainda.
Mas, sobretudo, que grande luz amarmos
tão fundo o espaço da melancolia.
FERNANDO ECHEVARRÍA
"Poesia, 1980-1984", Afrontamento
Como os cacos de um jarro, mal se emenda
o que restou do tempo não vivido,
toda a fatuidade entre o inferno e a lenda,
toda a procura de nexo ou sentido.
Não há eternidade que se aprenda.
Tudo esvanece. Tudo é um mercado
onde qualquer certeza está à venda
e onde até mesmo o nada é demarcado.
Teu próprio corpo é conduzido à feira.
És vendido como qualquer artigo,
qualquer quinquilharia que se queira
para entretenimento ou desabrigo.
Deves lutar, lutar sobremaneira
para que o chão seja leve contigo.
IACYR ANDERSON FREITAS
"Mirante"
o que restou do tempo não vivido,
toda a fatuidade entre o inferno e a lenda,
toda a procura de nexo ou sentido.
Não há eternidade que se aprenda.
Tudo esvanece. Tudo é um mercado
onde qualquer certeza está à venda
e onde até mesmo o nada é demarcado.
Teu próprio corpo é conduzido à feira.
És vendido como qualquer artigo,
qualquer quinquilharia que se queira
para entretenimento ou desabrigo.
Deves lutar, lutar sobremaneira
para que o chão seja leve contigo.
IACYR ANDERSON FREITAS
"Mirante"
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