JOSÉ DO CARMO FRANCISCO
Namorar a água e o fogo
A água e o fogo entram nas nossas casas todos os dias pelo ecrã da televisão.
Inundações na Roménia, fogos em Viseu, rios a transbordar na China, incêndios às portas de Coimbra. Todos temos sobre água e fogo as nossas memórias.
Os longos Invernos traziam as cheias. Águas amarelas, lamacentas, velozes.
Chovia durante semanas inteiras, o rio transbordava.
Ele subia para uma escada até à mais alta fresta do barracão do quintal, entre a palha e a lenha, entre a roupa a enxugar da mãe e as poucas alfaias agrícolas do pai.
Namorava assim a água. Nas tardes de Inverno a olhar. Sabendo que de noite os rios não existem – são apenas água a namorar a terra.
Desde sempre namorou o fogo. O do forno do pão.
Primeiro na casa da avó, um quintal grande onde se juntavam pelas tardes as mulheres mais velhas da aldeia. Mais tarde aprendeu a gostar de ver a mãe fazer o pão no forno da casa que o pai construiu num anexo. Ficava longos minutos a ver o fogo lento, as brasas em destruição silenciosa, o cheiro do pão a entrar em casa mesmo com as janelas fechadas. Hoje namora outros fogos. Num fogão de sala. Numa lareira.
Sempre que atravessa o barracão para trazer lenha repete os gestos da avó e da mãe: acender no fogo a memória do pão, repetir no lume a memória da infância, ir buscar ao calor a memória da paz desses dias perdidos.
A água e o fogo entram nas nossas casas todos os dias pelo ecrã da televisão.
Inundações na Roménia, fogos em Viseu, rios a transbordar na China, incêndios às portas de Coimbra. Todos temos sobre água e fogo as nossas memórias.
Os longos Invernos traziam as cheias. Águas amarelas, lamacentas, velozes.
Chovia durante semanas inteiras, o rio transbordava.
Ele subia para uma escada até à mais alta fresta do barracão do quintal, entre a palha e a lenha, entre a roupa a enxugar da mãe e as poucas alfaias agrícolas do pai.
Namorava assim a água. Nas tardes de Inverno a olhar. Sabendo que de noite os rios não existem – são apenas água a namorar a terra.
Desde sempre namorou o fogo. O do forno do pão.
Primeiro na casa da avó, um quintal grande onde se juntavam pelas tardes as mulheres mais velhas da aldeia. Mais tarde aprendeu a gostar de ver a mãe fazer o pão no forno da casa que o pai construiu num anexo. Ficava longos minutos a ver o fogo lento, as brasas em destruição silenciosa, o cheiro do pão a entrar em casa mesmo com as janelas fechadas. Hoje namora outros fogos. Num fogão de sala. Numa lareira.
Sempre que atravessa o barracão para trazer lenha repete os gestos da avó e da mãe: acender no fogo a memória do pão, repetir no lume a memória da infância, ir buscar ao calor a memória da paz desses dias perdidos.
Nota: Aproveito este post para dar um abraço ao autor, José do Carmo Francisco, por mais um aniversário. - RV
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