OPERÁRIOS DA DEMOCRACIA
A reflexão final de Michel Winock no seu Le Siècle des Intellectuels reveste-se de consequência. Não repousando numa falsa neutralidade, a obra do historiador francês propõe aos intelectuais um caminho de acção humilde, no exercício do seu contrapoder crítico, cuja ética de probidade e discrição deverá constituir um cimento indispensável na construção da verdadeira democracia.
Chama-lhes "operários da democracia". A expressão agrada, na medida em que, levada a sério, resolve o exibicionismo de alguns e a instrumentalização espúria de outros, fornecendo critérios distintivos para se separarem os autênticos intelectuais de uma massa perigosa de imitadores interesseiros e oportunistas.
4 comentários:
O Século dos Intelectuais que teve uma bela edição no Brasil e outra menos atraente em Portugal, é sem dúvida um dos melhores livros publicados nos últimos anos em língua portuguesa. Equivale O Livro Negro do Comunismo e Os Serviços Secretos do Vaticano em poder de revelação e em qualidade histórica.
Discretamente tenho-me servido dele em aulas e a adesão dos alunos é grande. Tenho-o também recomendado a colegas.
Pela sua leitura, além da informação que nos fornece, mostra-nos como em Portugal muitos que ocupam lugares de destaque não passam de bufos do poder através da sua acção egoísta que chega ao ponto de falsificar a arte e a vida para continuarem a disfrutar de benefícios ou de galarim.
Os intelectuais nunca quererão ser confundidos com operários, mesmo da democracia...
infelizmente.
Enganas-te. Fui trabalhador de uma fábrica de cortiça e depois numa de lanifícios durante 9 anos. Agora trabalho na agricultuira tenho uma quintazinha e crio vacas e semeio. E tenho poemas publicados e contos nos jornais. Se calhar não sou intelectual, ou serei?
Nunca ouviste falar em trabalhadores das letras? E basta ser-se escritor decente para não se ter pó a quem trabalha, a escrita é um trabalho.
Não exageres.
Concordo com um aspecto: depois de lermos este livro ficamos a entender muito melhor quanto são crápulas alguns empafiados da nossa política, da nossa universidade e das nossas artes literárias e pictóricas.
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