ANA FRANCISCO


São Domingos

São vultos e sombras
que ficam depois dos incêndios
(as pedras negras
resistem na estrutura).

E a cruz é apenas mágica
enquanto reflexo.

São ossos e gestos
que ficam depois da vida
(as arestas hesitantes
não resistem às chamas).

E a cor é apenas mágica
enquanto luz.


São Domingos II

o pano de ouro que cobre o altar
o órgão em forma de quiosque
o pote indiano e as flores de plástico

sobrevivem porque a luz que os ilumina
é de vela, respira e chama

as figuras que te acolhem estão moribundas
o teu podium é vermelho de sangue

um dia ao recolher as mágoas
surgirá, num instante, um ser exilado
no seu próprio corpo

chama, chama
as figuras que te acolhem estão a dançar

o pano de ouro que cobre o corpo
o órgão em forma de ataque
a morte e as flores de plástico

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, gostei, sai ao pai na qualidade embora tenha voz própria.
Beijinho para ela.

Anónimo disse...

A aura da chama, hesitante translúcida breve, tal qual o é também, o apelo destes versos. É bom ver através do teu sentir.
AnanA