JOSÉ DO CARMO FRANCISCO


Conhece Carlos de Oliveira?


Um dos poucos poemas que sei de cór é um dos poemas de Carlos de Oliveira em Sobre o lado esquerdo e diz assim: «A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da terra.» O outro é o que fala do sal: «O sal é o mar servido às nossas praias domésticas de linho.» São poemas muito belos que me acompanham todos os dias desde sempre, desde que um dia o visitei nas águas furtadas da Avenida Praia da Vitória. A Maria Ângela ainda era uma mulher muito bonita nesse fim de tarde em que me ofereceu uma fotografia de Carlos de Oliveira tirada pelo Augusto Cabrita.
Encontro casualmente nas escadas rolante dos Armazéns do Chiado um poeta meu amigo que é também jornalista profissional. No passado dia 1 de Julho registaram-se 25 anos sobre a morte física de Carlos de Oliveira, o poeta de Micropaisagem, o romancista de Uma abelha na chuva. Bem informado e perfeitamente capaz de organizar um texto motivador chamando a atenção para a obra do autor de Casa na duna, que nasceu no Brasil em 1921, o meu amigo poeta e jornalista elaborou e assinou o respectivo texto e fê-lo entrar no circuito dos assinantes da sua agência noticiosa. Pois a verdade é que nenhum jornal pegou no assunto. Nem transcrevendo o texto nem convidando nenhum dos seus «sábios» colaboradores a pegar no tema. Há alguma crueldade nesta situação. Não sei os motivos deste esquecimento mas talvez todos tenhamos que dar razão ao próprio Carlos de Oliveira que, em O aprendiz de feiticeiro, escreveu esta frase lapidar: «Escrever é lavrar e lavrar, numa terra de camponeses e escritores abandonados, significa sacrifício, abnegação, alma de ferro.»

4 comentários:

Anónimo disse...

Com excepções que ficam registadas, a classe média portuguesa em geral não ama (porque nunca amou) as coisas do espírito por deflacção psicológica, miséria ética e moral e deformação materialista provocada pela religião mal assimilada. Por seu turno o povo, que ainda as ama no mais íntimo de si - basta ver a sua adesão a formas ingénuas de poesia, de arte e de música - tem sofrido as manipulações dessa classe média e política, no intuito de os dominarem melhor e explorarem até comercialmente. A este propósito veja-se que em grande parte das autarquias os seus orientadores, suscitados pela lógica dos donos do mercado, vêm progressivamente abandonando a denominada "cultura popular", que apesar de ingénua ainda guardava os ritmos antigos, substituindo-a pela feição pimba ou pseudo-moderna (dzrts e quejandos nas festas, em vez de folclore, por exemplo).
Em Portalegre, para não se falar noutro caso, o sector "cultural" da autarquia, detido por incompetentes consabidos, como não possui conhecimentos sólidos e não visa a melhoria vivencial da terra, efectua uma acção abastardadora ou colonizadora, tornando tudo cada vez pior.
Criados por estes verdadeiros aprendizes de feiticeiros, como é que os espíritos da população não hão-de estar disfuncionalizados?
E os periódicos e os seus próceres, dão o tom e são o reflexo dum país de pantanas.
Um abraço ao Ruy, pelo ano do "pimpolho".

Teresa Lobato disse...

Conheci a obra de Carlos de Oliveira quando ouvi, certa vez, José Manuel Mendes a dizer a "Xácara das Bruxas". Nunca mais deixei de o reler.
Ah! "Caravelas, caravelas..."

Anónimo disse...

Olá pessoal! Agora vivo na Covilhã mas não deixo de ler sempre que posso este cantinho alentejano.
E concordo, com o Saião a 80%, os outros vinte por cento é porque a culpa, acho eu também é da classe intelectual que se amolam uns e aos outros. Pouca amizade e não são muitas vezes leais. Ou não será?
Eu tsmbém aprecio Carlos Oliveira, Uma abelha na Chuva e vários poemas encheram-me as medidas.

Luis Eme disse...

Não há palavras para tanto desprezo e ignorância pela nossa verdadeira cultura... pobre país com jornalistas deste quilate, provavelmente, encantados com "floribelas" e "morangos com açucar".