Nicolau Saião
OS VERBOS IRREGULARES
COMO TOUPEIRAS
Em certas alturas, um irreprimível cansaço vai-se apoderando do cronista. Tal como do simples cidadão.
É que não dá, não dá mesmo para subsistir em termos interiores, em vista da catadupa de caquexias, tramelgas, piruetas e outras coisas estranhas que percorrem o quotidiano deste pátria que já foi mãe (de alguns...) e é hoje madrasta (de muitos mais!) ante a irredutível cavalgada de membros da res publica que deviam levar a nação a bom porto e andam a fazer navegar o navio como se de um inquietante pré-Trafalgar se tratasse.
Senão, vejamos: tempos atrás, aí coisa de 2 meses, veio o primeiro-ministro, numa cerimónia luzida e muito propagandeado, garantir in loco aos mineiros de Aljustrel que a empresa da qual dependem estava ali para as curvas, que coisas daquelas é que eram/são necessárias ao país! Pois bem: anteontem, a dita empresa encerrou a laboração nas minas, votando umas centenas de trabalhadores ao desemprego...
E ontem mesmo, após a grande manifestação inequívoca de milhares de professores, que sem escaramuças ou alarme popular disseram de suas razões em Lisboa, como todo o país viu, veio o prof. Cavaco Silva, que como se saberá está presidente – dizer com unção que os portugueses devem ter calma e serenidade. Ao invés de dizer ao chefe do governo que aja de maneira a não despoletar a necessidade de eventos assim – aconselha serenidade. Ou seja, busca colocar nos professores o ónus do tremor social, pois nenhum alarme social se verifica – o que há é natural em democracia.
É o que também fazia (“deixem-se de lamúrias”, lembram-se?) o benquisto Jorge Sampaio, felizmente já passado à Estória, quando presidente. Se algum português aventava, sensatamente, que as coisas andavam mal!
Ante os desmandos duma ministra ao serviço dum chefe de governo, pede-se calma - a quem anda a ser prejudicado. Respeitinho é que é preciso, já lá dizia O'Neill...
E, como corolário referido em todos os jornais e rádios, vem um notório antigo ministro do regime derrubado pelo 25 de Abril, Veiga Simão, apresentado e muito bem pelos mídias como “antigo ministro socialista”, propor aos intervenientes na contestação do Ensino “um pacto de silencio”!... Pois, segundo ele, o diferendo devia ser resolvido entremuros, entre a gente do meio...
É bem a palavra avisada dum antigo ministro do antigo regime. A opacidade e o negrume como método, de preferência tudo tratadinho no interior da Terra!
Como se todos fôssem, conceptualmente, mineiros – andando no interior da terra e afastados da luz do sol e da clareza
Ou, melhor ainda – como se tivéssemos todos perfil interior de toupeiras!
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