JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

Eduardo Mourato
ou as emoções pressentidas

Eduardo Mourato (fotógrafo nascido em Portalegre no ano de 1966) expõe no Centro Comercial Fonte Nova de Lisboa um conjunto de fotografias sobre uma actividade artesanal que está hoje em dia quase em vias de extinção. As salinas são locais onde se desenrola uma espécie de serena liturgia da paciência. Numa solidão extrema e com a utilização de utensílios muito rudimentares, homens sem rosto e quase sem voz, organizam de madrugada o trabalho que os raios de sol são convidados a realizar durante o dia. A água salgada vai, num processo muito lento, dar origem ao sal, um produto tão velho na Terra como o próprio Homem. Tão antigo que a palavra salário deriva do seu nome, um nome assim antigo e cheio de peso. Muitos soldados recebiam o seu pré em sal e o salário nunca mais deixou de ser uma palavra nobre, o preço do suor, o valor do esforço, a contrapartida para a silenciosa abnegação de quem trabalha junto às matérias mais elementares do Mundo – a água e a terra.
As fotografias de Eduardo Mourato são uma serena recusa do bilhete-postal. Nelas não surgem salineiros em esforço mas antes as lentas etapas da construção das pirâmides brancas, ponto de encontro entre a força dos homens e o poder da Natureza.
São essas as emoções pressentidas que, qual música sem nome nem destino, povoam as salinas do Algarve que estas fotografias trazem de volta para todos nós numa cidade onde tudo (ou quase tudo) é hostil, frenético e veloz.

1 comentário:

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Gostei da sua visita ao "Beja". Acho que uma das funções dos blogs deve ser a difusão das obras dos nossos artistas seja qual for o campo de actividade.
Virei com mais tempo conhecer o seu blog dado que agora o ENCONTRO DE BLOGS EM ALVITO A 22 DE ABRIL me preenche por completo.

As minhas saudações