José do Carmo Francisco

O Mar de Madrid
ao lado do Mar da Palha

Há coisas que não acontecem por acaso. Estou mesmo convencido que nada acontece por acaso. O escritor João de Melo, natural da Achadinha, publicou nas edições Dom Quixote o livro O Mar de Madrid que dedica à família de Lisboa e da América, aos amigos dos Açores, de Lisboa e de Madrid. Sendo o título do livro O Mar de Madrid (que é uma coisa que não existe) logo havia de ser apresentado ao público num bar do Cais do Sodré frente ao Mar da Palha que é o nome do estuário do Rio Tejo. Estar a conversar com alguns amigos e amigas de João de Melo frente a um ancoradouro onde embarcam e desembarcam pessoas atarefadas no regresso a casa depois de um dia de trabalho, pessoas que não reparam em nós e que vão a pensar no jantar e no banho que vão dar aos miúdos e nos trabalhos de casa que os vão obrigar a fazer e na chuva que ameaça a todo o momento. Também não é por acaso que este livro trata do amor impossível entre um poeta português e uma prosadora espanhola. Porque Portugal é masculino e Espanha é feminina. Entre os dois (Francisco e Dolores) estalam algumas discussões. Por exemplo ela pergunta: «Crês que ainda existe literatura nos dias de hoje. Se é literatura esta feira de enganos que se vende nas livrarias e nos quiosques dos jornais. Ou se ela morreu já às mãos dos escritores que a vendem a pataco aos seus editores, aos críticos literários e aos suplementos semanais dos periódicos de maior tiragem. Ora diz-me lá onde está a grande literatura?» Claro que O Mar de Madrid não trata só de literatura mas numa crónica breve não cabe grande dissertação. Fica o convite à leitura e a memória do Mar da Palha com os seus cacilheiros repletos de gente apressada.

2 comentários:

José Ferreira Marques disse...

A boa literatura fala do Mar da Palha, dos cacilheiros, e da gente que povoa os embarcadouros do mundo.
Um abraço para o Zé Francisco.

Anónimo disse...

Este livro é belíssimo e apesra de tudo, muito português.
È apaixonante a descrição do "mar" desertico interior da península e sobretudo, deslumbrante, se lido numa tarde de sol junto ao magnífico Mar da Palha, em Lisboa.