Nicolau Saião
DUAS REFLEXÕES
1.
Pecadores ou criminosos - ou uma coisa e também outra?
Concordo com o que é referido, oportunamente, num texto de A.Mello (*). E porquê? Porque, como está expresso na asserção cristã, os sepulcros caiados, os hipócritas - que tanto mal têm feito a uma Igreja autêntica, verdadeiramente humana e fundacional - não podem continuar a exercer os seus maus propósitos com a complacencia da Hierarquia. Ignorando os males feitos por pedófilos, abusadores, gente desse jaez. Ainda que tonsurados.
Independentemente de, como Santo Agostinho referiu, "Ignorar ou desculpar o mal é pactuar com o mal, é na verdade fazer o Mal", não podemos esquecer que, se Cristo é a Verdade, compete à Igreja que dele parte dar testemunho impoluto, claro, realmente respeitador dos postulados que ele trouxe para nos salvar.
Com o pretexto de um perdão que muito se parece com cumplicidade, um perdão mal entendido e em última análise efectivamente relapso, a Hierarquia está a comprometer a luz da Fé, a justeza da Crença e a magnificência dum apostolado que é limpo e digno mesmo no século.
Escândalo maior que trazer à luz estes miasmas subterrâneos é ser-se conivente com a maldade e a perversidade cruel. O perdão, como Bernardo de Claraval nos ensinou, é de compreensão, não de abafamento! De contrário é apenas perfídia, cubra-se ou não com a púrpura do Poder de facto. Que Deus ilumine os cardeais e os bispos, como parece ter já iluminado o Papa.
(*) Alude ao texto dado a lume no Portugal Club no qual o seu autor refere que uma parte da Hierarquia da ICAR, de acordo com informações fidedignas, subvertendo ardilosamente a vontade do próprio Bento XVI tem tentado abafar o aclaramento dos crimes de pedofilia protagonizados por eclesiásticos com, pasme-se, o pretexto de que “causa escândalo”...
2.
Apólogo da rã e do lacrau
A questão, candente e momentosa, das acções levadas a efeito pelo Governo lusitano actual no seu afã de acabar com o fumo, devem convidar-nos - à guisa de sherloques simbólicos e experimentais - a efectuar uma ligeira reflexão ao jeito dos detectives da ficção, utilizando com discernimento as "células cinzentas". Ou seja, inquirirmo-nos: a quem aproveita a dita acção? Isto em primeiro lugar. E logo a seguir: porquê este afã redencionista anti-tabagista?
Lembremo-nos que estamos a contas com um governo que é emanação dum Estado que pôs os hospitais em petição de miséria, que manipula o ensino sem ponderação nem tacto, que relega os mais velhos para um estatuto pré-vegetativo, que não acautela os direitos dos jovens, que abusa da classe média e que discrimina (pela positiva...) drogados, díscolos e bandidos de alto coturno e que, colocado ante vergonhas como a daquele Banco em que todos estamos a pensar, perdeu todo o senso honrado que eventualmente residisse nas acções dos seus fiscais.
Assim sendo, é fácil inferir que, na verdade, o actual governo - no qual o Estado português claramente se revê - é uma máquina de desmiolar sem pudor e sem mérito, um aparelho de constranger de tal forma capcioso, grosseiro e alvar, que já certos comentadores, aparentemente calmos burgueses, estão a perder a calma.
E, como todas essas máquinas, este Estado trapaceiro tem de arranjar cortinas de fumo (passe a aparente ironia) para nos distrair - enquanto artilham as suas negociatas, afinam os seus truques e entesouram as suas mordomias.
Há o apólogo da rã que acerta com o lacrau transportá-lo para o outro lado do rio sob a promessa de que nenhum mal lhe seria feito - tanto mais que se a picasse morreriam os dois afogados. No entanto, o lacrau picou a rã - e lá se finaram os dois a meio do rio. E, antes de expirar, explicou o lacrau à rã que não pôde deixar de o fazer - e sublinho - porque o picar estava na sua natureza.
Tal como o governo, espelho deste Estado mesureiro por um lado, mas autoritário e remanchado na realidade, não pode deixar de proceder arteira e maldosamente.
Está-lhe na "ideologia", está-lhe nos genes políticos e sociais...
É necessário, é já caso de sobrevivência nacional MUDAR DE REGIME. Para além de se enviar Sócrates de férias.
Para uma verdadeira Democracia, sem "lacraus".
In Portugal Club
3 comentários:
Em relação à lei do tabaco, apesar de considerar que existem exageros, penso que, nos últimos tempos, deve ser a única lei de jeito do governo. A situação em muitos locais de trabalho e outros começava a ser insuportável, com muitos senhores que só pensam no umbigo a acharem que fumar para cima dos outros é um direito, mesmo que isso afecte a saude do semelhante. Assim estamos melhor. Que eu saiba também ninguém pensa levar garrafoes de vinho para o local de trabalho, apesar de isso incomodar muito menos do que o fumo.
Não é necessário levar garrafões de vinho para o trabalho, pois há bares de serviço onde se pode beber vinho, cerveja, café ou outras coisas.
Um maço de cigarros, apesar de eu não ser fumador, pode levar-se sem incómodo. O exemplo de D.Teresa Baptista acho eu é excessivo e que é forçado.
Independente disso, o que há que saber é se outras coisas não incomodarão mais, como por exemplo terem-nos tirado direito a comparticipações em medicamentos para não falar de consultas que demoram meses a concretizar e operações que demoram anos de espera e sei do que falo infelizmente.
Acho que estamos melhor sem fumo, mas quem é que pensa em fumar para atirar fumo de propósito para cima dos outros como dá a entender? Agora tapar-se incompetencias, desleixos do governo com a lei do tabaco,dão a entender que é vida ou morte, é concordo deitar fumo para os olhos do pessoal.
É sintomático o que a D.Teresa diz e é verdade, que é a única lei de jeito que o des-governo tem feito e isso diz tudo.
Não sei se o problema do país é de regime ou de governo. Tanto quanto me parece, é de governo - ou melhor, das pessoas que o ocupam, eleitos legitimamente (mas com base em verdades parciais ou escondidas, ou em cortinas de fumo). Como referiu um dia Karl Popper, mais do que preocuparmo-nos com o regime ou com o governo que havemos de escolher, uma legítima democracia deve encontrar meios para se livrar com rapidez de quem a governa mal.
Quanto a mim, que até há poucos anos era um "eleitoralista" ferrenho, o actual estado de coisas conseguiu apenas transformar-me num abstencionista.
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