1 de Fevereiro de 1908 e depois
Faz hoje cem anos que D. Carlos de Bragança e o seu filho D. Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço lisboeta. Naquele dia não morreram dois deuses nem dois heróis - mas também não caíram dois demónios, como muitos deram a entender.
Começamos agora a vislumbrar - sem as poeiras da propaganda republicana e os fumos dos panegíricos monárquicos - as suas verdadeiras fraquezas e qualidades, ao mesmo tempo que vão surgindo também as faces de muitos dos actores políticos e sociais daquele tempo. (Inquietam-nos, isso sim, as semelhanças entre essa época e aquela em que vivemos...) Acto terrorista ou revolucionário (a semântica política teima em não querer separar as palavras), condenável em qualquer dos sentidos, o regicídio deslegitimou um regime republicano futuro que, nos seus dezasseis anos, retirados alguns pontos positivos do seu ideário e da sua prática, soube ser apenas uma alavanca caceteira, intolerante e caótica para a elevação de um regime ditatorial que duraria, para mal dos portugueses, quarenta e oito anos.
Rei contrariado (sobrevivia como monarca, embora não renegando as suas funções; vivia como pintor, caçador e oceanógrafo...), o assassinato de D. Carlos teve para ele a virtude da libertação, ao afastá-lo definitivamente de políticos incompetentes e corruptos e de uma canga recebida sem vontade.
Por estas e por outras me declaro sempre adepto dos regimes electivos (chamem-se "república" ou outra coisa) contra os que o não são. Não posso conceber, por compaixão, que um ser humano comum seja obrigado por transmissão genética a assumir vitaliciamente um destino que não escolheu, nem que um povo seja obrigado a suportar eternamente gente indigna ou incompetente. Não me deixo no entanto enganar: o futuro das nações não depende de regimes mas de formas de governo, cuja legitimidade deve ser constantemente referendada pelo povo.
Faz hoje cem anos que D. Carlos de Bragança e o seu filho D. Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço lisboeta. Naquele dia não morreram dois deuses nem dois heróis - mas também não caíram dois demónios, como muitos deram a entender.
Começamos agora a vislumbrar - sem as poeiras da propaganda republicana e os fumos dos panegíricos monárquicos - as suas verdadeiras fraquezas e qualidades, ao mesmo tempo que vão surgindo também as faces de muitos dos actores políticos e sociais daquele tempo. (Inquietam-nos, isso sim, as semelhanças entre essa época e aquela em que vivemos...) Acto terrorista ou revolucionário (a semântica política teima em não querer separar as palavras), condenável em qualquer dos sentidos, o regicídio deslegitimou um regime republicano futuro que, nos seus dezasseis anos, retirados alguns pontos positivos do seu ideário e da sua prática, soube ser apenas uma alavanca caceteira, intolerante e caótica para a elevação de um regime ditatorial que duraria, para mal dos portugueses, quarenta e oito anos.
Rei contrariado (sobrevivia como monarca, embora não renegando as suas funções; vivia como pintor, caçador e oceanógrafo...), o assassinato de D. Carlos teve para ele a virtude da libertação, ao afastá-lo definitivamente de políticos incompetentes e corruptos e de uma canga recebida sem vontade.
Por estas e por outras me declaro sempre adepto dos regimes electivos (chamem-se "república" ou outra coisa) contra os que o não são. Não posso conceber, por compaixão, que um ser humano comum seja obrigado por transmissão genética a assumir vitaliciamente um destino que não escolheu, nem que um povo seja obrigado a suportar eternamente gente indigna ou incompetente. Não me deixo no entanto enganar: o futuro das nações não depende de regimes mas de formas de governo, cuja legitimidade deve ser constantemente referendada pelo povo.
1 comentário:
texto muito lúcido e com o qual me identifico...
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