O meu amigo Jagodes
(Texto de Nicolau Saião
com "Um anjo bondoso", de Yrmak Kazil)
Será preciso apresentar-vos o meu confrade José Jagodes? Creio que seria estultícia – como usa dizer o Prof. Pamplinas Miragaia – um tal procedimento.
Pois quem não conhece o famoso Dr. José Jagodes? O intelectual brilhante mas modesto, o aventureiro epicurista, o pensador profundo e o conhecido polemista - já terçando lanças com Edmundo Prates Carmelo, Silva Tavares ou Perneco Ferreira, já trocando farpas com o até à altura imbatível Ronaldo de Sousa, o único luso comentador que conseguiu num lance famoso polemizar consigo mesmo ao espelho mas que, no confronto com o Dr. Jagodes, teve de se calar pela primeira vez na vida, enfiado e tartamudeando.
Foi, com efeito, esta personalidade ímpar que me remeteu da sua casa de Linda-a-Velha uma carta que vos vou confiar com todo o gosto:
“Caro amigo: Já disseste, e talvez com razão, que algumas das palavras que te tenho escrito provavelmente ajudarão a fazer a “pequena história” desta região de nome Portugal e do muito povo que nela reside e mesmo vive. Por isso aqui vai um novo esboço...
Ontem, nessa caranguejola maravilhosa chamada televisão, vi um digno senhor acompanhado de outro senhor mui digno debaterem uma cousa assim a modos que presidencia da República, se não estou em erro, a que ambos e muito bem concorrem.
Um deles, magrito e taciturno e um bocadinho atabalhoado na fala (o que aliás até lhe fica a preceito, dá-lhe um ar peculiar e solene, agradável de ver, de homem de Estado cheio de donaire) esforçava-se por demonstrar que ao mais alto magistrado da Nação (como dizem os comentadores aperaltados) na pátria de Camões cabe-lhe ser uma espécie de mordomo – já porque dali não vem o perigo político de “agitar as águas” visto só servir para ajudar o povo a ter, digamos, socialmente maneiras e melhorias de estilo vivencial – ou uma espécie de conselheiro espiritual para o primeiro-ministro, já abrindo-lhe os olhos para as duras realidades da vida (como faziam as avózinhas antigamente) já ensinando-o talvez a comportar-se nas recepções (como se faz aos adolescentes pernetas). Quiçá servindo de manso excitante para que os empresários e os parceiros sociais consigam alcançar boas performances…
Mas se ao presidente da República cabe dest’arte o papel de ama-seca, de grilo-falante ao jeito do Pinóquio, quando muito de explicador escolar ou de “claque” para espevitar actuações governamentais ou populares – para que andam as gentes em polvorosa, inquietas porque parece estar para vir aí um tal Prof. Aníbal autoritário e rodeado de gente vigorosa que se diz não ser para brincadeiras?
Algo está muito mal contado. Ou então sou eu que sou ingénuo como uma ninfeta…”.
Li e engoli em seco. Decerto como todos vós engoliríeis...
Tenho de ter cuidado nestes meus contactos com o Jagodes. Até pode calhar que ele tenha razão no que diz. Mas…confesso que me começo a preocupar: qualquer dia, se mal se precata, o meu amigo “vai dentro” e eu não quero ser arrolado de embrulho, ainda tenho muito que fazer.
Vou ser prudente. Mesmo que me chamem um bocadinho medroso, quero lá saber! É que numa terra como a nossa, de gente de categoria, com doçura e bondade como aquele senhor de ontem - a tradicional “brandura dos nossos costumes” - todo o cuidado é pouco…
Será preciso apresentar-vos o meu confrade José Jagodes? Creio que seria estultícia – como usa dizer o Prof. Pamplinas Miragaia – um tal procedimento.
Pois quem não conhece o famoso Dr. José Jagodes? O intelectual brilhante mas modesto, o aventureiro epicurista, o pensador profundo e o conhecido polemista - já terçando lanças com Edmundo Prates Carmelo, Silva Tavares ou Perneco Ferreira, já trocando farpas com o até à altura imbatível Ronaldo de Sousa, o único luso comentador que conseguiu num lance famoso polemizar consigo mesmo ao espelho mas que, no confronto com o Dr. Jagodes, teve de se calar pela primeira vez na vida, enfiado e tartamudeando.
Foi, com efeito, esta personalidade ímpar que me remeteu da sua casa de Linda-a-Velha uma carta que vos vou confiar com todo o gosto:
“Caro amigo: Já disseste, e talvez com razão, que algumas das palavras que te tenho escrito provavelmente ajudarão a fazer a “pequena história” desta região de nome Portugal e do muito povo que nela reside e mesmo vive. Por isso aqui vai um novo esboço...
Ontem, nessa caranguejola maravilhosa chamada televisão, vi um digno senhor acompanhado de outro senhor mui digno debaterem uma cousa assim a modos que presidencia da República, se não estou em erro, a que ambos e muito bem concorrem.
Um deles, magrito e taciturno e um bocadinho atabalhoado na fala (o que aliás até lhe fica a preceito, dá-lhe um ar peculiar e solene, agradável de ver, de homem de Estado cheio de donaire) esforçava-se por demonstrar que ao mais alto magistrado da Nação (como dizem os comentadores aperaltados) na pátria de Camões cabe-lhe ser uma espécie de mordomo – já porque dali não vem o perigo político de “agitar as águas” visto só servir para ajudar o povo a ter, digamos, socialmente maneiras e melhorias de estilo vivencial – ou uma espécie de conselheiro espiritual para o primeiro-ministro, já abrindo-lhe os olhos para as duras realidades da vida (como faziam as avózinhas antigamente) já ensinando-o talvez a comportar-se nas recepções (como se faz aos adolescentes pernetas). Quiçá servindo de manso excitante para que os empresários e os parceiros sociais consigam alcançar boas performances…
Mas se ao presidente da República cabe dest’arte o papel de ama-seca, de grilo-falante ao jeito do Pinóquio, quando muito de explicador escolar ou de “claque” para espevitar actuações governamentais ou populares – para que andam as gentes em polvorosa, inquietas porque parece estar para vir aí um tal Prof. Aníbal autoritário e rodeado de gente vigorosa que se diz não ser para brincadeiras?
Algo está muito mal contado. Ou então sou eu que sou ingénuo como uma ninfeta…”.
Li e engoli em seco. Decerto como todos vós engoliríeis...
Tenho de ter cuidado nestes meus contactos com o Jagodes. Até pode calhar que ele tenha razão no que diz. Mas…confesso que me começo a preocupar: qualquer dia, se mal se precata, o meu amigo “vai dentro” e eu não quero ser arrolado de embrulho, ainda tenho muito que fazer.
Vou ser prudente. Mesmo que me chamem um bocadinho medroso, quero lá saber! É que numa terra como a nossa, de gente de categoria, com doçura e bondade como aquele senhor de ontem - a tradicional “brandura dos nossos costumes” - todo o cuidado é pouco…
5 comentários:
Já cá faltava esse tratante do Jagodes, meu colega de faculdade. Ó Nículas, revele mas é aqui as conversas que tem tido com o Pitta Raposo, com o Cafollo Follante, com o Bilharoz de Moncada... isso é que é literatura!
A seu tempo virão, pois tenho tido feedback (como dizem os expertos em jornalismo bloguista)dessas personalidades ímpares!
Só um pequeno detalhe: o meu amigo de Plasencia, Juan, não se chama Cafollo Follante, mas sim Capullo Follante - o que faz sua diferença.
Foi, em 2003, galardoado com o Prémio Trocalettra de Atenas, pela sua tradução do poeta grego Maniakis Kariotakis, lírico e guerrilheiro no Peloponeso contra os italianos.
Em breve aqui os teremos...
Queremos os versos sobre o Pitta Raposo, essa incontornável figura alentejana!
Vamos brincando, mas os que rodeiam o Cavaco estão à espera de vingança e não brincam em serviço.
De resto gostei da análise, diz verdades a rir e é assim o que se passa.
Eu vou votar Alegre mesmo que a voz me doa.
E eu voto Soares, o velho está em forma e acho que só a sua vitória pode correr com o pau de virar tripas fúnebre.
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