POETAS NOVOS DE PORTUGAL
PEDRO GIL-PEDRO
Pendem
nas leiras – um arado que cega
à cabeça.
no fulcro
da ira
fecundam os crivos da manhã.
e:
ganchos de pureza –
as mulheres
levantam-se como um dedo aberto
nas traves do silêncio.
*****
uma corola de obscuridade
o semeador entrelaça as mãos e o corpo
nos instrumentos da ira e propõe-se
enfim
a lascar o silêncio
por fora
e por dentro
até à fulguração da pedra.
*****
o semeador levantou alto a mão
e respirou a pedra como se a semeasse
as mulheres olhavam-no em sobressalto
como animais de silêncio nos prumos do estio.
e só então
o ciclo da chuva nos teares.
Pedro Gil-Pedro (Sesimbra, 1973) é o pseudónimo de José Pedro Francisco. Trabalha em Lisboa e publicou Animais Cheios de Movimento no Inverno (Quasi, 2000), de onde se retiraram os três poemas que aqui divulgamos.
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