Antologia “Fanal”

JOSÉ EMÍLIO-NELSON


Arte Menor (Panfleto)

Contra os touros de morte todos estamos uma vez por dia
quando nos visita o anjinho do hissope a espargir.
Contra o boxe, mas porquê? Animal para animal. Duros golpes.
E contra o parir? Haverá alguém, entre nós, que não glorifique as dores
infectas: dor acastanhada, cinzenta, doirada, rubra
(quer dizer, fezes, urina, etc.)?

Chá e velhas senhoras, das que têm a voz
descalça em carvão, as da Emissora Clássica.
A falar, a falar do padre que fechou os lindos baldios da Penha
farto, lia-se no jornal regional, de apanhar preservativos.
- Havia inveja nisso? (Quem disse?)

As pernas são mais velhas que a cabeleira
que esconde os olhos cavados.
O toucado só é belo porque comprado da cor do panfleto
que recomenda o produto fantástico, fantástico.
Lábios pintados de fina porcelana. As pestanas bizarras,
isso sim, a glória da cosmética.
- Os anos não perdoam, diz no cabeleireiro.
- Minha-senhora-com-rosas-rendadas-e-vidradas,
sem meias ainda rompe solas.

(nº 4, 28/07/2000)

1 comentário:

Anónimo disse...

Inseri «Contra touros de morte...»
e «Chá e velhas Senhoras..» in
A Alegria do Mal Obra Poética I
(1979- 2004),com ligeiras alterações (página 223 e 264, respectivamente).
O terceiro poema aqui reproduzido: não me lembro de o ter editado em livro; Retirava o antepenúltimo verso.
José Emílio-Nelson
(14/5/2006)