JOSÉ GIL


“Para obter bons resultados, boas estatísticas, boas médias, é preciso ter bons professores. Para os ter, tem de se considerar a especificidade do seu trabalho.
Não é atafulhando o seu tempo [...], nem cortando as ‘pausas’ – de que precisa como de pão para a boca – que se formarão docentes ‘competentes’. Parece haver uma preocupação obsessiva com a quantidade (em todos os domínios) no Ministério da Educação, que o torna cego às virtudes da qualidade. Que os responsáveis pela educação no nosso país possam ter pensado em esmagar assim os professores é sinal de que qualquer coisa de incompreensivelmente absurdo se está a passar nas suas cabeças.”


(in Courrier Internacional, nº 83, de 3 a 9 de Novembro / 2006)



“O que impressiona, nas intervenções mediáticas dos responsáveis do Ministério da Educação, é a ausência total de uma palavra de apreço e incentivo para com os professores. Quando ela vem, parece forçada, demasiado geral, demonstrando uma incompreensão profunda pelas condições do exercício da profissão. Os últimos rumores (verdadeiros) sobre as eventuais oito horas lectivas obrigatórias, mais o corte das ‘pausas’ do Natal, Carnaval e Páscoa, provam que as autoridades encarregadas de conceberem a política educativa do nosso país não sabem – ou não querem saber – o que implica ser professor.
[...]
[...] Tem-se a nítida impressão de que não gostam dos professores – por mais que queiram distingui-los dos sindicatos. Ora, o que está em jogo no actual debate sobre a educação, é a transformação de uma situação há muito desastrosa, criando condições para um ensino de qualidade, à altura das ambições da ‘modernização’ global do País, proclamadas pelo Governo. Nesse quadro, a Educação constitui um pilar essencial do projecto governativo do primeiro-ministro: se ele falha, falhará todo o projecto. Neste momento constata-se que o clima das escolas (professores cansados, abatidos, deprimidos – dos que pertencem às ‘excepções’) não contribui para a boa aplicação dos novos estatutos que aí vêm.
[...]
[...] A actual política educativa parece padecer de toda uma série de disfunções e desfasamentos: muda-se o estatuto da carreira docente, com novas tarefas, mais trabalho, mantendo-se inalterados os conteúdos e negligenciando a formação necessária dos maus professores; instauram-se regras de avaliação, mas não se eliminam os compadrios e as conivências; exigem-se boas vontades para certas tarefas, e quebram-se as vontades não oferecendo contrapartidas; voltam-se os pais contra os professores, estes contra a instância que os tutela, o pessoal administrativo contra os professores, e já mesmo se forma alianças alunos-pais contra o Ministério...
Tudo isto é mau para o ensino e para a educação. Como se a ‘racionalização’ do ensino básico e secundário, ao preocupar-se apenas com alguns dos seus aspectos, e sem visão global, induzisse necessariamente outras formas de irracionalidade e anarquia.”

(in Visão, nº 714, 9 de Novembro / 2006)

4 comentários:

Anónimo disse...

Ideias tão sabiamente simples, universais e intemporais, porém quem nos (des)governa ignora-as embora as saiba. Acredito no entanto, que um dia destes as encene, porque não lhe ficaria bem contestá-las.
E assim se vai regredindo, ressuscitando tempos que no passado já pensávamos terem morrido

Anónimo disse...

Concordo plenamente. Ainda hoje ouvi nas notícias que a contratação de professores pelas escolas vai mesmo avançar. Quem não as conhecer que as compre...
São o compadrio e a corrupção institucionalizados, como afirmaram e bem os sindicatos.

Anónimo disse...

Exacto. E nalgumas então vai ser lindo. Numa do Alentejo, mais concretamente na cidade-modelo capital da Corredoura. Pois.

José Carrancudo disse...

Como mostramos na nossa análise recentemente publicada, a primeira medida necessária para restaurar a qualidade de ensino escolar é a reposição dos métodos adequados nas práticas educativas. Nas ausência disso, tudo o resto nunca resultará em melhorias minimamente significativas.