José do Carmo Francisco

Nenhuma palavra nos salva
de Rute Mota


Rute Mota é uma jovem autora (1980) mas convoca no que escreve muita experiência adquirida nos jornais (como DN Jovem) ou nas revistas como Periférica e Pessoal. Há um evidente domínio da linguagem poética que reflecte sobre o seu próprio modo de criação:
«Tudo quanto escrevo / cabe em dois ou três versos / como por exemplo / terra-de-ninguém / debaixo dos passos
Tal como reflecte também a sua relação com o Mundo:
«Não é poesia isto que faço / tão só corda que entreteço / e agarro / – para não cair do mundo.»
Os poemas, tal como tudo na vida, não se medem aos palmos. Vejamos a sabedoria deste três versos: «São os mortos / que sustentam a terra / e a tornam habitável
Entre o inevitável da morte e a fragilidade do amor, o poema é um intervalo: «Um barco sem nome singra / na memória – a outra vida
As palavras são pronunciadas por uma voz mas vários são os sentidos dessa pronúncia: «Se a voz, pequeno segredo / se desfaz / na voz, outro segredos / se levantam.»
Um excelente livro de estreia, num volume de 90 páginas com uma poesia de síntese, alheia ao excesso e fascinada pelo rigor.

(Edição: Livro do Dia Editores, Capa: Rui Gil)

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