Amadeu Baptista
PARA UMA HOMENAGEM A CRISTOVAM PAVIA
1.
Se eu tivesse uma pistola em vez de um abre-latas,
obviamente não me inquietaria esta manhã.
Há opções a que o livre arbítrio força
e alvos a que disparo mesmo às escuras.
De tanto protagonizar a solidão
respiro o ar rarefeito dos cafés.
Não fossem Plutão e a Atlântida
não sei onde esconderia o coração.
Raios partam a vida e quem lá ande,
já o outro disse e viu-se o fim que teve.
Eu sou daqueles que sabem por experiência
a que mundos virtuais nos leva a maledicência.
Um barco é que eu assaltava, se pudesse.
Se tivesse uma pistola em vez de um abre-latas.
2.
Na capital do império às nove da manhã
reflicto sobre alguma gente que aqui vive
e faz das letras portuguesas
a história da carochinha que se vê.
A esta hora o monstro ainda dorme
infinitamente cansado da crítica hebdomadária.
Há bons empregos pela noite dentro
entre o cais das colunas e a cruz quebrada.
Sejam quem sejam os da academia
deviam dedicar-se à vaselina
em vez da ambiguidade que mantêm
no exercício frustrado da alquimia
ao politicamente correcto hipotecado.
Tivesse eu uma pistola em vez de um abre-latas.
3.
Entre o engarrafamento geral e a loira do cais
fico de rastos com tanta violência.
Valha-me o rio e aquela coisa alta
que deste lugar de luz ao longe se avista.
Embora saiba que nada me convence
e a insurreição prometida ainda não basta,
obrigado, destino, pela feliz desgraça
que veio a mim neste desatino.
Uma criança soletra no autocarro
um sorriso perverso para os que passam
e avança sobre mim com a metralhadora de plástico.
Ao menos tenho um cúmplice nesta selva urbana.
Do mesmo modo sorrindo já nada mais me resta
que premeditar o disparo que o abre-latas adestra.
PARA UMA HOMENAGEM A CRISTOVAM PAVIA
1.
Se eu tivesse uma pistola em vez de um abre-latas,
obviamente não me inquietaria esta manhã.
Há opções a que o livre arbítrio força
e alvos a que disparo mesmo às escuras.
De tanto protagonizar a solidão
respiro o ar rarefeito dos cafés.
Não fossem Plutão e a Atlântida
não sei onde esconderia o coração.
Raios partam a vida e quem lá ande,
já o outro disse e viu-se o fim que teve.
Eu sou daqueles que sabem por experiência
a que mundos virtuais nos leva a maledicência.
Um barco é que eu assaltava, se pudesse.
Se tivesse uma pistola em vez de um abre-latas.
2.
Na capital do império às nove da manhã
reflicto sobre alguma gente que aqui vive
e faz das letras portuguesas
a história da carochinha que se vê.
A esta hora o monstro ainda dorme
infinitamente cansado da crítica hebdomadária.
Há bons empregos pela noite dentro
entre o cais das colunas e a cruz quebrada.
Sejam quem sejam os da academia
deviam dedicar-se à vaselina
em vez da ambiguidade que mantêm
no exercício frustrado da alquimia
ao politicamente correcto hipotecado.
Tivesse eu uma pistola em vez de um abre-latas.
3.
Entre o engarrafamento geral e a loira do cais
fico de rastos com tanta violência.
Valha-me o rio e aquela coisa alta
que deste lugar de luz ao longe se avista.
Embora saiba que nada me convence
e a insurreição prometida ainda não basta,
obrigado, destino, pela feliz desgraça
que veio a mim neste desatino.
Uma criança soletra no autocarro
um sorriso perverso para os que passam
e avança sobre mim com a metralhadora de plástico.
Ao menos tenho um cúmplice nesta selva urbana.
Do mesmo modo sorrindo já nada mais me resta
que premeditar o disparo que o abre-latas adestra.
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