Maria do Sameiro Barroso



CRISTOVAM PAVIA

Sei que todos os rouxinóis já morreram,
no centro das paisagens amarelas,
onde os cães já não uivam, nem os galgos
choram.
Sei que todos os pássaros que me trazem
a névoa são cometas efémeros.
Por isso, nada designo.

Hoje, tudo é triste, como um poema que desaba
na Rua dos Fanqueiros.
Talvez os meteoros ainda pulsem, algures,
na estrada sinuosa do meu sangue.
Sei que todos os rouxinóis já morreram
e que os lobos e os homens apenas desfiam
a sua teia de morte.

Que pode o silêncio quando a luz se cinde?
Que pode o corpo, quando o coração se prende
e se estilhaça?
Que pode a sede, o magma, o vulcão,
quando as faíscas cintilam

apenas para perfilar o nada?


Lisboa, 13 de Outubro de 2008

Sem comentários: