PÁGINAS DE UM DIÁRIO
Há cidades (Portalegre, por exemplo) que são como o vinagre: amolecem os ossos, se não nos precavemos. Só assim se pode explicar que cidadãos com algum exercício de verticalidade e de clarividência aceitem, mais tarde, colaborar com algumas das manifestações mais nocivas e repugnantes da sua vivência social.
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Portugal traduzido - abecedário de reflexões, de John Wolf. Este livro tem a virtude de sistematizar a existência nacional, apertando-lhe o pus quando necessário. Fica-me uma frase: "Caberá a cada um assumir a sua quota de responsabilidade na gestão da 'honra nacional', procurando contrabalançar os comportamentos marginais, através da assunção do contrato individual de consciência própria."
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Percorrer as estantes dum alfarrabista é confrontarmo-nos com quanta erosão apaga as esperanças de notoriedade pública. Isso nos angustia? Trabalhar é contudo preciso. Mesmo que seja para o esquecimento (sempre relativo). Somos todos transeuntes nesta sociedade. Areias anónimas neste deserto.
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O perigo de lermos livros de Claude Roy ou de C. Ronald é que nada, depois, nos aproveita, se não tiver a mesma altura ou uma dimensão estética e ética semelhante.
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Um olhar para os dias, novo livro do poeta brasileiro C. Ronald. Diário de resignação na aproximação do fim? Sobretudo, uma linguagem arcana, simbolizadora, em que até as palavras chãs (ou sobretudo elas) assumem uma dimensão transcendente, que barrela a realidade mais concreta.
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Instalou-se na Itália aquilo a que alguns analistas chamam um "regime pós-democrático" (eufemismo bárbaro para designar um novo autoritarismo, fundado sobre a alienação televisiva, o consumismo, a impunidade e a rasquice). Aqui, em Portugal, como bem viu José Gil na Visão de 2/10/2008, estamos dominados por políticos com capacidade anestesiante, veiculadores duma propaganda ignóbil, porque avilta para dominar.
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A revista Ler trouxe uma entrevista de um poeta transmontano. A principal qualidade desta conversa é não esconder o calculismo e a hipocrisia do autor. Outros, por este país, têm a mesma face, mas escondida.
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O primeiro andamento do Te Deum de Marc-Antoine Charpentier é um bom exemplo de uma obra a tocar a alegria divina do inefável. Transformaram-no no hino da televisão europeia... Emporcalharam-no.
6 comentários:
Errarei muito se pensar que a primeira entrada caberá absolutamente no invólucro mortal dos autores de "Se eu gostasse muito de morrer" e "Os lagóias e os estrangeiros"?
Lena Amarílis
É pena que neste universo da blogolândia não haja muitos ruys venturas, com talento e com tomates.
Talento para escrever bons textos e poemas, tomates para mostrtar os podres deste "país de m...".
Coragem e não ceda.
Puta de Arroios
Muito bem, Rui, continua firme.
Dantes essa povoação dava um certo asco, agora nem isso dá apenas riso de comiseração.
Uma cidade de ridículos "ingénuos" assumidos políticos ou não políticos.
MANO MANECAS
Também li Rui, a entrevista do transmontano ignóbil é do carago.
Mas tem algo de saudável e é a assunção do aviltamento ao contrário de outros, que sendo ainda piores fingem de meninos de ouro.
O pus, como eles querem, vai correndo portugal.
Costa do Sol
Este post de Ventura está a ter êxito, pelos vistos. Depois de ser epigrafado em Espanha, França e Brasil, também lhe deram link dois dos melhores blogs nacionais, o Fundação Velocipédica de Manuel Almeida e Sousa e o No Comando com o Armando de Alexandre Farinha Lencastre.
Boas surpresas a partir de coisas ruins que não surpreendem, como eles referem.
Jorge S.
desculpa a intromissão - apenas por falta de contacto... avisamos que nomeamos este blogue para o prémio dardos... é ver o nosso blogue
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