Maria do Sameiro Barroso
vence «Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2009"

Maria do Sameiro Barroso, com o original Uma Ânfora no Horizonte,acaba de vencer a edição portuguesa do "Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2009".
O Prémio, instituído pela Câmara Municipal de Vila Real de SantoAntónio, numa parceria com o Ayuntamiento de Punta Umbria e acolaboração de Sulscrito – Círculo Literário do Algarve, tem o valor de 2500 euros, estando prevista a publicação, em edição bilingue, daobra vencedora.
O júri, constituído por Casimiro de Brito, Fernando J. B. Martinho e Manuel Frias Martins, escolheu o original Uma Ânfora no Horizonte de entre os 86 originais a concurso. Realçando a elevada qualidade das obras concorrentes, o júri recomendou ainda para publicação o original Labirintos Cruciais, assinado com o pseudónimo de Eva Maria. De acordo com o autor – Paulo Renato Cardoso – Eva Maria é mais que um pseudónimo, assumindo-se como entidade co-autoral num livro em que os poemas são atravessados por uma voz feminina. Em 2007, Paulo Renato Cardoso venceu o Prémio Daniel Faria com o livro Órbitas Primitivas: Fracções de um Tratado Heliocêntrico.

Maria do Sameiro Barroso nasceu em Braga em 1951. Médica, germanista,ensaísta e investigadora, licenciada em Filologia Germânica e emMedicina, fez a sua estreia literária em 1986. Publicou os seguintes livros de poesia: O Rubro das Papoilas, Rósea Litania, Mnemósine,Meandros Translúcidos e Amantes da Neblina. Vindimas da Noite é o seu livro mais recente, editado por edições Labirinto. Maria doSameiro Barroso é ainda a responsável pela organização das antologias Um Poema para Ramos Rosa (com prefácio de Paula Cristina Costa) e Um Poema para Agripina, com prefácio de Ana Paula Coutinho.

A edição anterior do Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibéricatinha sido vencida por Amadeu Baptista, com o livro Sobre as Imagens.


A ALMA ANTIGA DOS PÁSSAROS

Nada poderei esquecer, nem as algas nem os mapas,
nem a escrita, que em seu nimbo florindo,
tantas vezes me elege, chama, ou equivoca.
O girassol do amor esconde-se na relva, nas flores,
nas searas de nuvens.
De nada serve procurar a água, os pássaros,
os laboriosos elementos.

Quando as entranhas de luz se acendem,
bebo, nas águas macias do silêncio, a sagração,
o vinho, as plumas, o hausto condensado,
os cones de penumbra,
o veludo que levanta a ruga, a cicatriz, a leveza
da avenca.

Nas cartilagens de barro, violinos, artérias abruptas
pernoitam, entre formas de luz que se auscultam
na língua, no corpo, ilhéu azul, onde nada ressoa,
no cetim incandescente dos joelhos, da pele.

Numa aura magnética de ossos, sellaginelas,
a alquimia da escrita desenha, pelo ar de chumbo,
transparências, perfume, a lua claríssima,
estrias douradas, álamos aquáticos,
pássaros de penumbra

e um rasto estranho de rupturas, dicção.


in As Vindimas da Noite, Labirinto, 2008

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