José do Carmo Francisco


D. Manuel II
de Maria Cândida Proença


O último rei de Portugal, D. Manuel II (1889-1932) não estava preparado para assumir o trono quando as circunstâncias o obrigaram a reinar em resultado do regicídio que ceifou a vida de seu pai e de seu irmão.
Um aspecto curioso do seu temperamento é que o rei convidou, a expensas suas, o sociólogo francês Léon Poinsard para conhecer as condições de vida dos trabalhadores em Portugal. Acompanhado por Matos Braamcamp e Serras e Silva, Poinsard fez um diagnóstico imediato: «A principal causa da desordem crónica do país reside na sua organização política dominada por uma tribo pouco escrupulosa, ávida de poder e de proventos. Portugal está reduzido à falência, acabrunhado sob o peso de um fisco absurdo e mantido numa horrível situação de abandono e de atraso da qual não pôde ainda sair, apesar dos esforços e sacrifícios de alguns homens de acção
Outro aspecto que revela a sua pouca preparação para reinar é o que passa na semana anterior ao «5 de Outubro». Enquanto Lisboa vive momentos de agitação social com as greves dos tanoeiros, dos corticeiros e dos garrafeiros, o rei vai ao Buçaco com Lord Wellesley, neto do duque de Wellington. Na parada militar tem a seu lado os ministros da Guerra e dos Negócios Estrangeiros e no banquete ouvem-se «vivas» ao rei. No final D. Manuel afirma «Conquistei hoje o Exército» mas uma semana depois surge a República e o rei, abandonado pelo Exército, vê-se obrigado a deixar o país num iate da Ericeira para Gibraltar tendo escrito uma carta ao chefe do Governo: «Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Viva Portugal!»

(Editora: Círculo de Leitores, Capa: José Malhoa, Foto: Manuel Silveira Ramos)

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