Nicolau Saião

O Circo dos horrores

Tinha jurado a mim próprio que, por uns dias, me iria remeter ao silêncio irmão do que se sente na modesta rua desta pequena localidade algarvia onde, por mor de um familiar afável, me encontro sediado.
Mas o mundo mundo vasto mundo, como dizia Drummond, insiste em se fazer lembrado – e confesso que embora a contragosto cedo às suas seduções.
Agora foi aquele senhor simpático, de ar familiar – um excelente cidadão, logo se percebe – que está ministro e se chama Rui Pereira, que com a lhaneza que o caracteriza nos veio garantir as boas obras das autoridades na captura dos assaltantes da ourivesaria e museu, sitos em Viana, e da segurança do País em geral.
Pouco tempo durou o meu contentamento. A minha tranquilidade. Igual à, se calhar, de alguns portugueses mais pacatos e inocentes…
Pois logo a seguir, com rasgos de verdade, a marota da “comunicação social” nos veio referir abundantemente que – nem os assaltantes foram detidos, nem se sabe muito bem quem são, estando as polícias em sucessivas declarações a desmentirem-se, a contradizerem-se, a desconferirem-se.
Reina a mais perfeita confusão, chegou mesmo a ler-se num importante periódico…
Para cúmulo, isto sucede na altura em que grassa no país dos brandos costumes de Salazar e José Sócrates uma onda de assaltos em estilo hollywoodesco.
E eu, como sou um cidadão de boa-fé, pese às amarguras que me pungem cíclica e socialmente (pudera! com um país assim!), apenas digo como naquela célebre imprecação de António Nobre: “Georges! Que é do meu país de pintores…que venham pintar esta estranhíssima realidade que nos rodeia?”.
E, por Toutatis, não foi preciso esperar muito… Ângelo Correia, que é um homem inteligente e um especialista atento das questões de segurança, pegou na paleta e, sem complexos de pinta-monos, em entrevista concedida a João Adelino Faria (Rádio Clube) colocou o pincel na ferida: as forças de segurança, sendo basicamente competentes e não estando tão mal equipadas como se tenta em certos sectores fazer crer, estão sob uma pecha do executivo: a má organização provinda da perversidade política e da incompetência ética e conceptual.
Este é que é o verdadeiro busílis.
E, como se diz na literatura policial: a quem aproveita o crime?
Ao povo, à nação, não é de certeza!

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