José do Carmo Francisco


Salir d´Outrora
de Carlos Marques Querido

Já foram recenseados nesta coluna diversos livros sobre reis portugueses. Mas isso é (como diz o Povo) outra história. Este livro trata da História daquela gente que não deixa de ser importante só porque não é conhecida. Estas crónicas, antes publicadas nas páginas da Gazeta das Caldas, tratam duma memória qualificada de Salir de Matos mas também de Santa Catarina, Alvorninha, Benedita e Carvalhal Benfeito, povoações que ao longo de quase setecentos anos tiveram verdadeiras «guerras» com o Mosteiro de Alcobaça. O autor baseia as crónicas em documentos (Torre do Tombo, Biblioteca Nacional, Cartórios Paroquiais, Arquivos Municipais) porque sem documentos não há história mas sim lenda e este não é um livro de lendas. Nestas páginas desfilam figuras de destaque como o arquitecto de Salir de Matos, o conjurado do Carvalhal e o morgado do Formigal (século XVII) ou o deputado do Carvalhal e o Bispo de Santa Catarina (século XIX). Mas não só. Também as pessoas humildes que vivem e trabalham nas vilas dos coutos de Alcobaça são protagonistas. Eles e os seus problemas a propósito de águas e açudes, cadeias e pelourinhos, azenhas, lagares ou moinhos. E do relego – espécie de monopólio da venda do vinho. São terríveis as páginas sobre as vítimas da Inquisição em Salir de Matos: Duarte Lopes, Simão Luís, Francisco Álvares e Violante Gomes sofrem terríveis perseguições até à morte. Tal como são terríveis as páginas da vida de Maria da Purificação, uma jovem mulher casada com um homem mais velho que lhe dava jóias e vestidos mas não lhe dava aquilo que ela queria – usufruir da intensa vida social de Lisboa, muito mais intensa que os Casais da Ponte, onde tinha sido criada.

(Editora: PH - Estudos e Documentos, Grafismo: Inês Querido, Prefácio: Iria Gonçalves, Introdução: Nicolau Borges)

1 comentário:

Luis Eme disse...

É sempre bom ver Salir no mapa, ainda por cima no "mapa" literário...