José do Carmo Francisco
El lugar, la imagen
O lugar, a imagem
de Ruy Ventura
O mais recente livro de poemas de Ruy Ventura (n. Portalegre – 1973) é uma edição bilingue da Editora Regional de Extremadura com os poemas traduzidos por António Saez Delgado e a capa de Julián Rodríguez.
Se toda a obra de arte surge como uma humana rejeição da morte, um poema que canta a alegria do encontro do poeta com essa mesma obra de arte é um duplo registo da negação das sombras, do esquecimento e do desespero.
Este livro abre com um poema dedicado a uma escultura em barro do século XVIII:
«um corpo nasce nas mãos do oleiro / um corpo desce. procura / a raiz, a porta, a lareira / acenderá o mundo com o seu sopro / com a sua voz.»
Segue-se a meditação sobre uma escultura de madeira do século XVII:
«em que palavras leste a semente desse brilho? / no verbo que ele guardou no teu silêncio? / no coração, ardendo na memória? /ergues os olhos, saciando /o cálice em que saciámos a nossa sede.»
Mas pode ser também uma moeda romana do século I depois de Cristo, o motivo do poema. Ou uma estela funerária. Ou uma escultura em Lagos. Ou uma casa em Arronches. Depois pode ser uma catedral em Compostela, uma fortificação templária em Aveyron ou um poço num certo lugar em Penamacor.
Livro feito (com diz o título) de lugares e de imagens, em todas as suas páginas vibra uma voz poética a ligar a Natureza e a Cultura. Como por exemplo em «arquitectura», poema escrito perante o castelo e a judiaria de Valência de Alcântara:
«subimos à torre para melhor vermos / o círculo que nos une a esta terra / desce o firmamento. hesita esta memória / em tocar o bosque cuja língua desaparece. / de súbito, uma águia / a música que escrevemos. para sempre. / de regresso à largueza / da floresta»
Assim se prolonga poeticamente a rejeição da morte o mesmo é dizer a negação das sombras, do esquecimento e do desespero.
1 comentário:
Obrigado, Zé. É sempre bom recebermos o retorno daquilo que escrevemos.
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