José do Carmo Francisco
Um lugar para a crónica
Esta crónica semanal, escrita com a paixão do amador e com o rigor do profissional, tem nascido nos mais diversos lugares. Umas vezes surge na esplanada do senhor Oliveira no Príncipe Real entre turistas estrangeiros e famílias portuguesas que fingem tomar conta dos cães. Outras vezes nasce no Parque das Nações depois de um passeio à beira do Tejo e antes de beber um gin tonic no Café do Peter. Também acontece, quando acontece, no Chiado, algures entre o Café di Roma e a imagem do Castelo de São Jorge. Outras vezes escrevo-a no pequeno sofá onde procuro esquecer as canseiras de 39 anos de trabalho sem qualquer interrupção.
A partir de hoje, porém, este ritual semanal que já não posso dispensar, passa a ter um lugar. O seu lugar. Trata-se de um quadro feito a ponto cruz pela minha amiga Idalina, minha antiga chefe de secção no BPA, uma amizade de sempre e para sempre. Ela não se limitou a desenhar a ponto cruz um motivo belíssimo ou seja um caderno para escrever à esquerda do quadro e uma caneta à direita. Juntou ao conjunto uma rosa que tudo sobrevoa e tudo enche de perfume. E preservou o conjunto numa moldura de castanho escuro que se fecha num vidro capaz de desviar todo o pó do Mundo. Para a minha amiga Idalina a separação entre arte e artesanato não faz qualquer sentido. Este trabalho tem muitas horas de esforço, de paciência, de rigor. Tudo isto pontuado pela festa das cores, pelo feliz equilíbrio entre dois mundos – o mundo vegetal da rosa vermelha e o mundo mental da palavra em construção. A partir de hoje tenho um lugar para escrever a minha crónica. Não posso desiludir a minha amiga Idalina nem os meus ouvintes.
1 comentário:
Será que o José do Carmo Francisco não é capaz de partilhar com os seus leitores e admiradores o quadro que a amiga lhe ofereceu ?
Ela merece que o seu quadro seja mostrado, pois não são todos os chefes que se transformam em amigos!
Joaquim
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