Nicolau Saião
PREÇÁRIO
O poeta tem que descobrir situações.
É isso que lhe exige o protocolo. Saber
que por detrás ou ao lado
da imagem fosforescente (como num espelho
apenas pensado)
existem outras coisas (essas sim importantes):
um regresso um rádio de pilhas um primo
O poeta fica muito calado. Não sabe nada.
Não consegue - nunca conseguiu - reparem
contornar situações. Lembra-se, é evidente
de uma certa manhã em que havia mais claridade
(mas isso, sem o privilégio da revelação
é apenas um arbusto entre muitos)
e calcula, sem palavras, rotações e translações
em locais inóspitos.
O poeta, naturalmente, sempre sabe qualquer coisa.
Sabe, por exemplo, que não se pode calar.
As palavras são efectivamente les mots: colunas
em qualquer língua, graus de sustentação
para florestas, casas-de-campo, matrimónios
entre o planeta e o firmamento. É como
uma encruzilhada: aqui há uma vela sobre uma cadeira
ali alguém que se inclina sobre a imagem duma montanha
e o poeta tem de optar. Por isso não escolhe nada
e quando é noite diz para si que tudo voltou ao princípio
e sabe que tudo foi rápido como um silêncio.
E, vai daí, agarra aqui e acolá uma frase
um sorriso
um pacote de batatas fritas, um relancear
que é o que lhe fica dos olhares alheios
sempre ligeiramente hirtos como um eco ou um reflexo.
(in Flauta de Pan, 1998, c/ ilustração igualmente de Nicolau Saião)
O poeta tem que descobrir situações.
É isso que lhe exige o protocolo. Saber
que por detrás ou ao lado
da imagem fosforescente (como num espelho
apenas pensado)
existem outras coisas (essas sim importantes):
um regresso um rádio de pilhas um primo
O poeta fica muito calado. Não sabe nada.
Não consegue - nunca conseguiu - reparem
contornar situações. Lembra-se, é evidente
de uma certa manhã em que havia mais claridade
(mas isso, sem o privilégio da revelação
é apenas um arbusto entre muitos)
e calcula, sem palavras, rotações e translações
em locais inóspitos.
O poeta, naturalmente, sempre sabe qualquer coisa.
Sabe, por exemplo, que não se pode calar.
As palavras são efectivamente les mots: colunas
em qualquer língua, graus de sustentação
para florestas, casas-de-campo, matrimónios
entre o planeta e o firmamento. É como
uma encruzilhada: aqui há uma vela sobre uma cadeira
ali alguém que se inclina sobre a imagem duma montanha
e o poeta tem de optar. Por isso não escolhe nada
e quando é noite diz para si que tudo voltou ao princípio
e sabe que tudo foi rápido como um silêncio.
E, vai daí, agarra aqui e acolá uma frase
um sorriso
um pacote de batatas fritas, um relancear
que é o que lhe fica dos olhares alheios
sempre ligeiramente hirtos como um eco ou um reflexo.
(in Flauta de Pan, 1998, c/ ilustração igualmente de Nicolau Saião)
2 comentários:
Excelentes, Nicolau, tanto a pintura como o poema.
Aproveito para dizer que visitei com o Jorge a exposição de Estremoz, em duas salas o que é original. Certos galeristas lisbonenses deviam pôr ali os olhos e mais não digo.
Fosga-se Nico, tás liqsado, como é que os gurus da litreiratura vão justifacar a tua poesia que nan é de merdra comádeles? Agoira já purcebo pruque é que tatêm sempre mraginalizado, nan eintras na panela como a quimbada, çeja de garanhones ou de pinascas munto ixpertos.
Vai emfrente i mandós fruderemqse
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