Não há semáforos à entrada da aldeia. No entanto, o vermelho cai constantemente, sobretudo para aqueles que - querendo avançar - vêm de fora, sendo de dentro. Não há sequer uma passagem para peões (ou qualquer limite de velocidade que justifique a sua presença). Existem, porém, semáforos invisíveis que não obrigam a parar, mas conseguem que o automóvel parta mais depressa. Por vezes sem cor, revelam dois ou três rostos conhecidos (na terra), sentados todo o dia na esplanada do café ou (daqui por uns anos) debaixo de uma das árvores do largo, num albergue ou à porta da casa mortuária. Só o verde parece não existir - para aqueles cuja presença incomoda as pedras. Para estes, os semáforos têm apenas duas lâmpadas (uma amarela, outra vermelha), avisando quem teime avançar contra a escuridão e contra o medo. Não se vêem, mas existem à entrada da aldeia – numa das curvas da estrada, depois do portão (sempre aberto) do cemitério.
A alegria permanece, apesar das nuvens. E da cortiça (quase humana) que não sai - mesmo depois dos nove anos -, correndo o risco de perder a serventia. A alegria permanece. A vontade fica. Regressa. Embora traçada com a mágoa e com a angústia daqueles cujo automóvel encontra todos os dias (ou quase todos) um sinal vermelho à entrada desta aldeia.
3 comentários:
A terra aqui evocada pelo autor é Carreiras, uma terra muito bem situada na aba da serra, mas onde impera o negrume e o medo, ali há caciques políticos e policiais que são os donos devido ao apoio de um homem que não usa bigode nem barba.
Gostei. Um abraço dum conterrâneo.
Abraço do conterrâneo autor...
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