JOSÉ DO CARMO FRANCISCO,
PRIMEIRA COLABORAÇÃO

Outro colaborador novo que passarão a encontrar no "Estrada do Alicerce" é José do Carmo Francisco. Poeta, cronista e jornalista, é um autor que tenho aprendido a admirar à medida que visito os seus livros, alguns memoráveis, como Iniciais, Universário, 1983 um resumo ou Transporte Sentimental.

BALADA DA SERRA DE SÃO MAMEDE

Ai que prazer estar perdido
Na Serra de São Mamede
Onde há sempre uma ribeira
Que só de olhar mata a sede
Onde há sempre um caminho
À espera de ser andado
E onde o branco das casas
Faz contraste no telhado
Ai que prazer estar perdido
Na Serra de São Mamede
Onde o relógio não corre
E pára se a gente pede
Onde o tempo dura mais
E o olhar tem amplitude
Onde o andar não desgasta
E o cansaço é mais saúde

Ai que prazer estar perdido
Na Serra de São Mamede
Onde se pescam os sonhos
Sem ser preciso usar rede
Onde o sol mais se demora
Onde a luz chega mais cedo
Mas o peso deste silêncio
Não se transforma em medo
Ai que prazer estar perdido
Entre Esperança e Nave Fria
Surgirá sempre um olhar
Capaz de dar luz de dia
A quem se perdeu na noite
Que envolveu seu coração
Mas se encontrou de novo
A caminho de São Julião

Ai que prazer estar perdido
Entre Caia e os Mosteiros
Porque os fumos das chaminés
São os sinais mais certeiros
Duma vida mais junto à terra
Mancha verde a multiplicar
Entre o apelo do Mundo
E o meu desejo de ficar
Ai que prazer estar perdido
Entre os Besteiros e a Parra
Para encontrar uma capela
Com o som de uma guitarra
Ai Serra de São Mamede
Grande desgosto que eu tenho
Não ser eu das tuas aldeias
Não ser também seu serrenho

José do Carmo Francisco

3 comentários:

Anónimo disse...

foi agradável rever um poema que foi vivido por lá antes de ser escrito. Foi a minha resposta a umas férias bem passadas em Arronches e não só. Obrigado ao director do Blog!

Ruy Ventura disse...

Não tem nada que obrigadar. O poema merece!

Anónimo disse...

Viva, Zé! Vi agora o teu comentário. Quando quiseres repete as férias, no mesmo sítio que está à tua disposição e da famelga !
O abraço.