Nicolau Saião



POEMA


Não eram vulgares as mãos de meu Pai.
Um dos dedos tinha mesmo uma unha rachada
E quando pela noite o vento me fazia
tremer
algo me entrava pelos olhos e era
uma espécie de mapa
e eu lembrava-me esforçando-me contraindo
a cara
se era de facto uma luz o que se via
rés-vés ao telhado muito perto
do grande portão de pedra em ruínas.


Naqueles tempos morávamos no campo
Muitos anos mais tarde visitei a casa
com dois filhos e vários garotos vizinhos
numa tarde ao fim dum passeio pelas matas
dos arredores. Ao canto da cozinha
estava um banco velho e a madeira
ganhara uma cor acinzentada devido
ao tempo. Disse-me depois
- enquanto comíamos pão com azeitonas -
o dono dessa quinta alucinante
no páteo da outra moradia da herdade
que durante trinta e cinco anos
não morara ali ninguém. Éramos pois
nós os fantasmas daquele lugar.

Era no Inverno e as palavras repousavam
e de vez em quando ouvia-se um ruído
como de turbilhão
- certo dia um pássaro morreu junto à
porta da entrada, onde havia
uma planta como de antigas eras -

e algum tempo depois tive de partir e olhar
o universo de tudo de isto e daquilo

O oceano e as vozes recriavam-se algures.

in Flauta de Pan (1998)

5 comentários:

Anónimo disse...

Que belo poema este!

Anónimo disse...

Quem será esta silvina ferreira? Uma das gajinhas em que este menino se especializou, ao que se diz? Dá-lhe lambança, dá.

Anónimo disse...

Não sei se sonhei ou se ouvi dizer que o Nico não dá importancia a patifes. Portanto ó Marotão bem podes esperar sentado.
E gajinhas não tem nem teve, só lhe tenho conhecido mulheres. E abanicados como tu deves ser então é que nunca, portanto vai dar uma curva

Anónimo disse...

Posso assegurar-vos que nunca dormi com o Nicolau... Só me deixei acompanhar várias vezes pelos seus versos.

Anónimo disse...

Boa piada!