Castelo de Vide

Descobri, sem esperar, a casa onde viveu Ventura Porfírio. Depois de deambular pelo labirinto da vila, como sempre, desde a infância. (Tocam-me estes recantos frescos e sombrios...)
De súbito, por detrás de Santo Amaro, uma ruela abandonada, rodeada por muros que a chuva, o sol e as ervas foram corroendo. Assomo por um buraco duma velha porta e contemplo a torre da igreja (carcomida no meio de um quintal), onde um sino virado aos canteiros e às figueiras parece querer tocar a qualquer momento, despertando séculos e séculos de silêncio.
Que ruína contemplo nesta terra se não a ruína da própria humanidade que, ao passar dos dias, se foi enterrando entre pedras e pedaços de telha partida, entre musgos e mato, entre ervas que o tempo sufocou?
Subi a calçada, íngreme mas fresca. Destaca-se uma casa. Simples, mas lançando para o meu corpo uma emanação estranha. Não soube, na altura, reconhecer o seu proprietário. Houve, contudo, uma suspeita: pareceu-me encontrar ali algo do espírito de Ventura Porfírio. Ao mesmo tempo: tranquilidade e drama, harmonia e angústia, serenidade e melancolia. Nunca o conheci pessoalmente, mas tenho recebido estas linhas da sua pintura.
Cheguei a casa e procurei de imediato a fotografia daquela habitação, num livro que sobre ele foi publicado. Não me enganara.

5 comentários:

indah disse...

Aunque me pierdo parte del texto, creo que lo entiendo en sentido general.

Es una pena que la obra de Ventura Porfírio, como la de otros grandes pintores, no sea demasiado conocida. He leído que lo definen como "pintor sufrido y jardinero sereno". Y también que "trataba con energía la figura y el paisaje mostrando en sus telas sensibilidad e impressivo (¿expresivo?) cromatismo".

En realidad, finalmente, lo que importa es que fuera feliz.

¿Sería feliz? Es muy posible. Imagino que se necesita vida interior para expresarse como lo hace él en su mural denominado Maternidad. Es muy bello.

Anónimo disse...

Que belo comentário o deste colega indah!
Posso esclarecê-lo que, para além de todas as angústias próprias dum criador e daquelas chatices do quotidiano, Ventura Porfírio me parece ter sido um homem feliz. Conheci-o, expus várias vezes com ele e sempre me deu a sensação de ser um homem pacificado. De poucas falas, sentia-se nele um ar de natural bondade, que se expressava duma forma muito cordial. Uma pequena estória, para conferir: para uma colectiva que geri em Portalegre, fui a sua casa pedir-lhe quadros. Depois da conversata e de uma cafézada, elaborada para receber cá o manguelas, disse-me isto:"Está ali uma pasta com pinturas ainda não encaixilhadas. Leve-a e escolha as que lhe parecerem melhores...as que mais goste...". Anuí e perguntei-lhe quantas seriam. "Não contei...Aí umas vinte, trinta...Depois devolva-me as sobrantes.".
Levei a pasta. Eram flores, retratos, paisagens, desenhos aguarelados. Que alegria!
Juro-vos quer não roubei nenhum, à fé destes que a terra há-de degustar.
Mas como tenho pena, carago, de ser um tolo de um tipo honesto que só tem roubado livros...

indah disse...

Gracias, ns. El tiempo es algo que no nos sobra a ninguno, por eso agradezco más que lo hayas encuentrado para "conversar" sin un café delante :) y responder cordialmente a la pregunta que una completa desconocida dejó en el aire. Ahora no solo sé que fue un hombre feliz, sino que, además, era generoso y confiaba en los demás.

Gracias por contarme esa historia. Ah, y me has hecho reír al comprender el último párrafo. Es lo que tiene ser honesto: a veces.., puff, pesa. Sí. Y cuánto :))

Anónimo disse...

Tem Indah muita razão!
E fico sabendo, agora, que é uma moça e não um cavalheiro, como eu pensava e se calhar também os outros colegas.
Tempo atrás o Augusto Raínho - confrade que muito privou com ele - ofereceu-me um livro seu de pinturas. Hei-de reproduzir aqui uma de que gosto muito. E também um quadro ou dois de Raínho, pintor excelente, abstraccionista-lírico onde contudo se nota o parentesco com V. Porfírio, talvez por ambos serem de Castelo de Vide e "beberem" o mesmo ar.

indah disse...

:)) Gracias, ns. Indah es una palabra del Bahasa-Indonés. Y sí, conduce a error.

Creo que es cierto: ser del mismo lugar, tener las mismas raíces, beber en las mismas fuentes de agua o del arte, suele deja el igual poso en quienes tienen la suerte de ser artistas, aunque luego cada cual exprese su obra según la siente.

Cuando reproduzcas la que te gusta tanto, espero no perdérmela :)

Y espero haber entendido bien. He de leer varias veces para estar segura de que no me estoy equivocando demasiado.