Vozes do Brasil

CARLOS NEJAR


Cantochão

O aparente chão de meu chamado
é canto
e o chão de sangue é pássaro voando
que ao bico traz
o chão de algum recado
e pão se torna.

Assim o mundo:
fato, vestígio,
uma larga paixão
que mais me busca.

Meu componente é vaticínio,
mundo,
chapéu aberto de chamados fundos,
peito de tempo contraído,
chão de vivos e mortos.

Mundo, coberto pelo próprio musgo
que é céu não descoberto.

O chão onde te espreito
é amor de amada e corpo.
E a terra, se não vinga,
é porque foi sumida
que a terra por tão pouca,
é mundo. E de tocá-la
com mãos ou pés ou sangue,
nos fazemos humanos.

Mundo, não te abandono.
O canto me precede.
A ele sigo, cavalo,
tão mudo quanto cego.

Ó árvore do mundo,
só o canto me prende
e me desprende.

(da antologia Breve História do Mundo, organizada por Fabrício Carpinejar e publicada recentemente nas Ediouro Publicações, no Rio de Janeiro.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Carpinejar, escritor filho família nascidinho em berço de ouro. Mas não deixa de ser um tonto bem promovido.