ANTON VAN WILDERODE
em língua portuguesa
Acaba de ser editado em Espanha uma edição única de A Árvore-das-Borboletas, livro do poeta belga Anton van Wilderode agora disponível simultaneamente em cinco línguas: flamengo (a língua original), francês, inglês, espanhol e português. A tradução para a língua portuguesa esteve a meu cargo. A edição foi levada a efeito pela Fundación Academia Europea de Yuste e pela Associação Internacional dos Amigos de Anton van Wilderode, com o patrocínio de várias instituições oficiais do país vizinho e da União Europeia.
O livro A Árvore-das-Borboletas conta, nos seus 96 poemas, a última viagem do imperador Carlos V, desde Gand (cidade em que abdicou) até ao mosteiro de Yuste (perto de Plasencia), onde faleceu. A edição é enriquecida por um abundante fundo iconográfico, que reproduz desde obras de pintores conhecidos que representam os protagonistas da narrativa em verso até fotografias dos locais onde se passaram os acontecimentos.
Anton van Wilderode (pseudónimo de Cyriel Coupé), nasceu na Bélgica em 1918, tendo falecido em 1998. Sacerdote católico, estou Filosofia, em Sant-Niklaas e em Gand, e Filologia Clássica na Universidade de Lovaina. Recebeu alguns dos mais prestigiados prémios literários do seu país natal.
Do livro agora editado, ficam quatro poemas.
A árvore-das-borboletas
Por sobre o denso mato vai movendo
longas guias até cima. Unidos
ímpares no alto os botões floridos
malva e lilás, azul quase acolhendo.
Borboletas no voo e emoção
(as brancas cor de arminho oceladas)
vêem-na longe ou perto deslumbradas;
de invisível odor nasce a atracção.
De algures ser em voo, em convento
silente de asas e pétalas, giram
e juntas embalando-se respiram
na única vontade ao movimento.
Yuste (5)
Dif’rente a calma que tenho encontrado.
O silêncio de frutos d’ oliveira,
de carvalho seco, da sua madeira,
de mármore e pedra no lajeado.
Um fogo imóvel activo no lar
que nunca mais há-de ‘star apagado,
poltrona e leito nunca mais mudados,
cadeiras quietas a mesa a rodear.
E apenas algo audível na estival
noite quieta, na rama onde calados
pares de pássaros ficam guardados
ou a água quando rega o canal.
Testamento (2)
Cortou a pluma de ganso o estilete,
retirada está a tampa do tinteiro
e o pó de ouro, de um brilho ligeiro,
sobre os florais motivos do tapete.
A mão direita não sabe neste dia
como começar, com que expressões,
o atormentado pergaminho põe
como antes sempre fazia
e no branco a ponta da pluma
a irresolução decidido a superar.
Escrevo contra a luz do sol, a traçar
sobre o grão vazio letras uma a uma.
Quem vai, quem fica
O mundo continuará depois do pranto,
árvores jovens, adultas, baloiçantes
sobre o verde de tantas ervas deslizante,
por tudo se espraia das aves o canto,
as estrelas com o mesmo nome ao girar
ante outros homens com nomes alterados
em suas órbitas dadas para tempos dados
enquanto o sol durar e a luz estival,
um aluvião de rosas decerto haverá,
redonda neve de inverno nos caminhos
e a chuva dará suas voltas peregrinas,
e dia e noite e dia quando me vá.
(na imagem: Carlos V a cavalo, por Ticiano)
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1 comentário:
Aportei hoje, por acso, a este blog. Gostei muito e passarei a incluí-lo nas minhas viagens.
Deixo-lhe o endereço do meu blog sobre tradições, memórias e formas de falar do madeirense.
http://o-rabo-do-gato.blogspot.com
Lília Mata
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