Estátuas (1)

LISBOA / LARGO DO CHIADO

É inevitável sentirmos nojo perante a barracaria que, à frente da Brasileira do Chiado, se arma todos os dias, abafando a estátua de Fernando Pessoa. O que poderia ser um local de contemplação da beleza de uma cidade, tornou-se numa feira porca para turista estúpido usufruir. Alheio a tudo, Pessoa está noutro lado. No entanto, cada sujeito que ali se senta - naquela esplanada ou naquela mesa-falsa, ao lado da figura sem-alma de Fernando Álvaro Alberto Ricardo Bernardo Soares Reis Caeiro de Campos Pessoa - cospe no poeta, escarra na sua obra, que deveria merecer reverência e leitura e nunca este auto-de-fé, lento, em efígie.
Do alto do seu pedestal, do outro lado, outro poeta, António Ribeiro Chiado, aponta e parece-se rir-se. Perante esta javardice consentida pela Câmara Municipal de Lisboa (desculpem-me o termo demasiado chão...), talvez o riso seja a melhor atitude. Nos tempos que correm duvido, no entanto, que a rir se corrijam os costumes.

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