três poemas no
DIA MUNDIAL DA POESIA
FERNANDO PESSOA
Enquanto a tua Musa, sem compostura,
Se abre aos leitores, ansiosa, numa sessão
A minha, do auditório, testa a finura
Com tímida mas fidelíssima expressão.
O mais feliz já vejo, mas qual o melhor
Só quando vier o Futuro será mostrado;
O saber geral relatará a prova
Questionando o melhor do que está reservado.
Então ele irá, por si só, decidir
E, livre da pressão do jogo actual,
Separando o bom do melhor, atribuir
A recompensa exacta da fama final.
Até que se conheça essa decisão
Não tenho pressa, inda que durma então.
(in Poesia Inglesa II, tradução de Luísa Freire)
ARCHIBALD MACLEISH
Ars Poética
Um poema deve ser palpável, silencioso,
como um fruto redondo.
Mudo
como os velhos medalhões ao toque dos dedos.
Silente
como o gasto peitoril de uma janela em que cresceu o musgo.
Um poema deve ser calado
Como a voz dos pássaros.
Como a luz que sobe,
um poema deve ser imóvel
no tempo,
deixando, memória por memória, o pensamento,
como a lua detrás das folhas de inverno;
deixando-o como, ramo a ramo, a lua solta
as árvores emaranhadas na noite.
Um poema deve ser imóvel
no tempo
como a lua que sobe.
Um poema deve ser igual a:
não a verdade.
Para toda a história da dor,
uma porta franqueada e uma folha de ácer.
Para o amor,
as gramíneas inclinadas e duas luzes sobre o mar.
Um poema deve ser,
e não significar.
(in Rosa do Mundo, Assírio & Alvim)
e. e. cummings
mergulha nos sonhos
ou um lema pode ser teu aluimento
(as árvores são as suas raízes
e o vento é o vento)
confia no teu coração
se os mares se incendeiam
(e vive pelo amor
embora as estrelas para trás andem)
honra o passado
mas acolhe o futuro
(e esgota no bailado
deste casamento a tua morte)
não te importes com o mundo
com quem faz a paz e a guerra
(pois deus gosta de raparigas
e do amanhã e da terra)
(in livrodepoemas, Assírio & Alvim)
5 comentários:
folgo ver que se encontra bem! há muito que faltam as notícias!
belas poesias!
da sua ex-aluna Lídia Abreu
abraço grande!
os contactos ainda são os mesmos?
ainda são os mesmos
Ruy,
Desculpa-me o reparo mas tem de ser: o poeta assinava sempre em minúsculas, ou seja, e.e.cummings e não E.E.CUMMINGS. Parece um pormenor mas não é: da insistência nas minúsculas e no uso do eu (I em inglês) que cummings escrevia provocatoriamente também em minúsculas (i), parece que podemos extrair conotações óbvias, sobre as quais não me vou adiantar muito.
Um abraço
Obrigado pelo reparo, que emendarei.
o nome dele estava em minúsculas, mas entretanto como o dos outros ficou em maiúsculas, não reparei,
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