JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

Álvaro Carvalheiro
ou os limites da terra e da água

Há nas fotografias de Álvaro Carvalheiro (Torres Novas, 1938) em exposição no Centro Comercial Fonte Nova de Lisboa a insistente presença do Homem em diálogo com a Natureza. Desde 1999 que acompanho com interesse e emoção o seu percurso de poeta da imagem. Autor de poemas. Que outra coisa não são as suas fotografias destinadas a ligar de novo aquilo que o tempo separou. E todo o poema é esse projecto de religação. Nas fotografias de Álvaro Carvalheiro o Homem defronta o Mundo e as suas mais inquietas perguntas em três Cabos (o Cabo Carvoeiro, o Cabo de São Vicente e Cabo da Roca) e numa praia – a mítica Praia da Consolação. A praia para onde ia todos os anos o poeta Ruy Belo. As silhuetas que enterram os pés na areia ou que fazem a pontuação humana junto aos limites da água e da terra são vírgulas, reticências e pontos de interrogação em forma de gente. A vida e a morte, a alegria e a tristeza, a luz e a sombra, a memória e o esquecimento – são estas as quatro linhas de força que empurram para a ribalta os protagonistas das fotografias de Álvaro Carvalheiro. É um mundo envolto em harmonia, em paz, em bem-estar. A objectiva do fotógrafo captou não apenas um registo mecânico mas a carga subjectiva dum ser humano nas perguntas mais essenciais: quem somos, donde vimos, para onde vamos? Não por acaso entre terra e água, em silhueta porque somos pó da terra mas é a água que nos dá a vida. Raúl Brandão dizia que a ternura é húmida. Álvaro Carvalheiro vem dar razão ao nosso escritor de há cem anos. Porque as suas belíssimas fotografias respiram a humidade da ternura com que a sua objectiva aborda e regista o homem entre a terra e a água.

(Na imagem: uma fotografia de Álvaro Carvalheiro)

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