Fernando Grade
Sobre
«Pedro Barbosa, Jesus Correia,
Vítor Damas e outros retratos»
É com o maior gosto que escrevo acerca do trabalho poético de José do Carmo Francisco (JCF). Para além das muitas afinidades que temos como camaradas das Letras e, não obstante os cerca de oito anos a mais que apresento em relação ao autor de Universário» – não posso deixar de referir que ambos fomos contemporâneos nos conceituados jornais desportivos A Bola e Record, onde tivemos a honra de ser colunistas em secções individualizadas.
Este livro de agora (Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos - Padrões Culturais Editora) vem na linha intencional, verbi gratia, de Jogos Olímpicos e de Os guarda-redes morrem ao domingo.
O recorte estilístico e existencial de JCF orienta-se em função de um conceito bem concreto, não concretista, de poesia, e essa gramática pessoal nutre-se de uma aturada dissecação da realidade, como quem privilegia um mote, pega nele, observa-o sob vários ângulos, enfim, trabalha-o sempre até às últimas consequências, ao ponto em que o limão ficará sem sumo e, desta feita, o Autor passa à próxima temática estilizada.
Mormente em relação aos três excepcionais futebolistas aludidos que constituem o cerne apelativo do volume, do qual constam, outrossim, «outros retratos», o modus faciendi mantém-se naturalmente inabalável, a memória é voraz, transporta para a tona de água lembranças e vivências de diversificado teor, situações vividas e sofridas no sangue por JCF, ou mesmo galvanizadas, como é o caso de o júbilo pelas vitórias, na medida em que o autor se assume, sem peias como clubista empenhado, melhor dizendo, sportinguista dos quatro costados, daí sem papas na língua.
Desses três jogadores de renome, um deles, o Jesus Correia (o popular «Necas», agora o saudoso «Necas» de Paço de Arcos e do País todo), foi, também, um extraordinário campeão do mundo, na modalidade em Portugal sempre apareceu como um potência de topo, o hóquei em patins.
Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos humaniza os gestos do quotidiano desportivo, sempre com um humor terno, mas não paternal; não se trata de um discurso orientado de cima para baixo: constitui uma linguagem realista, onde os seus problemas-base não pertencem ao foro da chamada subjectividade intrínseca – conotativo/denotativo, significante/significado – mas, ao invés, trilha campos desenvoltos que se cruzam com uma apetência e azimute entroncáveis numa postura que tem a sua matriz no que se convencionou apelidar de «realismo».
É uma rota que, no seu passado e currículo transgeracional, conta com o nome sedutor e emblemático de Cesário Verde e, antes, com o incómodo e contundente Guilherme de Azevedo. E, sendo assim: - Bom dia Zé Xico!
Estoril – Primavera de 2006
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2 comentários:
Não, tanto quanto sei o Fernando Grade que conheço não se trata desse juiz, mas do poeta desintegracionista que, no momento do assalto pidesco à Sociedade Portuguesa Escritores, era o escritor mais novo da casa.
Coordena as Edições MIC no Estoril.
em boa hora me deram a conhecer este alicerçado blog, onde se transpiram lances "bem gizados e com uma boa leitura de jogo", como dirá gabriel alves ou até mesmo jogos esteriotipados, como aprendi com alves dos santos. Ao meu amigo e conterrâneo José do Carmo Francisco agradeço esses livros e poemas que fazem do futebol um imaginário cultural e a assumpção de que o futebol e o desporto não é apenas a "reprodução e ampliação das taras sociais" como costuma dizer Manuel Sérgio ou José Esteves (o professor)por outras palavras.
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