Apontamentos estivais
CULPADOS E INOCENTES
Quando o poder cai, de algum modo, nas mãos do fanatismo, a paz esboroa-se, o sangue e o medo alastram como uma mancha de óleo. E o medo, quando não paralisa, reage sempre pelo ataque, para que apareça transfigurado em força e resistência.
Terá existido exagero na reacção de Israel aos ataques dos terroristas do Hezbollah? Poderia (e poderá) mostrar fraqueza perante as provocações e os crimes daqueles que não desejam uma disputa religiosa ou vagamente territorial, mas, tão só, a pulverização de um país?
O maior drama é sempre o dos inocentes, que acabam por morrer dos dois lados, sem terem coisa alguma a haver directamente da guerra. O sangue deveras inocente (e não pseudo-inocente) tem sempre um alto valor, seja de um israelita ou de um libanês, de um americano ou de um iraquiano, de um palestiniano ou de um britânico. Um conflito militar ou de outra índole, mesmo quando justo, nunca dispensa – infelizmente – a injustiça da violência exercida sobre seres pacíficos individualmente considerados. Desde que o homem é homem e recorre à pequena ou grande guerra para resolver as suas querelas.
Se a morte de um inocente é sempre injusta, há contudo graus diferentes de culpabilidade no agente activo desse acontecimento funesto. Não podemos avaliar da mesma forma o assassínio deliberado de seres humanos inofensivos (como o praticado pelos mais variados grupos terroristas, sob a capa de ideologias “religiosas” ou “revolucionárias”) e a morte não-planeada de homens e mulheres que estão no sítio errado à hora errada, quantas vezes como consequência da estratégia de um dos beligerantes, que não hesita sacrificar o seu povo para atingir bons resultados propagandísticos. Até no direito aplicado aos indivíduos existe uma grande distinção entre o homicídio voluntário, o homicídio involuntário e o homicídio em legítima defesa.
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