AS PALAVRAS DE BENTO


Não me surpreendeu a reacção, islâmica e ocidental, à lição de Bento XVI proferida na Alemanha. Habituados, de um lado e de outro, a uma diplomacia de falinhas mansas e de panos quentes, pós-moderna, tinham que reprovar as palavras de um teólogo que, muito mais para dentro do que para fora, não hesitou quando teve de denunciar a ausência de Deus na nossa sociedade e entre aqueles que invocam o Seu nome para praticarem actos de violência premeditada. Porque o conhecimento de Deus parte da razão e, sem ela, todo o entendimento que possamos ter do Seu caminho é errado ou pouco claro.


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Quem se dá ao cuidado de ler integralmente as palavras do papa Ratzinger percebe que este se dirige para dentro das paredes do Ocidente e da Igreja, e só marginalmente para fora. Embora utilize o raciocínio de um autor ortodoxo, estabelecido a partir de uma leitura do Alcorão e do devir histórico do islamismo, a Bento XVI interessa o restauro da racionalidade entre os membros da confissão a que preside, tão ameaçada anda pelo relativismo de raiz nihilista e/ou positivista, que reivindica um falso multiculturalismo e uma pseudo-tolerância, que nada hierarquiza, nem mesmo os mais elementares alicerces da existência digna do Homem.


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Infelizmente muitos e muitos não as leram – e foram os primeiros a criticá-lo, a atacá-lo, a injuriá-lo, a difamá-lo, a queimarem-no em efígie por esse mundo fora. Motivos? Cada um conhecerá os seus. Talvez ignorância, talvez preguiça, talvez preconceito, talvez maldade.
(continua)

4 comentários:

Ruy Ventura disse...

O grande problema, amigo Zé, é que os provocadores de maior alarido no Ocidente não leram certamente as palavras do papa e, com base em preconceitos de raiz, trataram de atacá-lo, porque já desejavam fazê-lo mesmo antes desta ocasião. Gostei entretanto da sua comparação entre a actualidade do fundamentalismo e o passado histórico do regime soviético. Só não utilizaria o termo "celebrar", pois, no fundo, nem os primeiros amam Deus nem os segundos amavam o Homem.

Anónimo disse...

Mas o que alguns visam claramente é que a democracia seja destruída, ou pelos islâmicos ou por outros quaisquer. Daí o ódio confesso, insano, que dizem ter pela América uma vez que é filha do protestantismo como eles dizem na sua maldade e na sua ignorância. É o mesmo ódio dos hitlerianos, o mesmíssimo ódio dos estalinistas, igualzinho aos que tudo fazem para que os direitos dos outros sejam espezinhados por fanáticos.
Depois, cobardemente, ejaculam: tenham respeito por isto, porque é a nossa opinião e as opiniões devem respeitar-se. Ou seja, clamam o direito de sujar o coração da vida com o pretexto do relativismo. Visam tapar a boca à realidade, da maneira perturbada e repelente que a sua mente possibilita.
O Papa, ao dizer (e convenhamos que de forma bem educada) que o Islão é um credo de violencia e de opressão, disse apenas o óbvio. Porque, como Salman Rushdie afirmou lucidamente, o problema não está no fundamentalismo, está no Islão em si. É nas palavras do Corão, na confissão islamita, que expressamente está a assumpção do ódio ao Outro que o fundamentalismo fez cerne e razão intrínseca. No Islão o sufismo e os emires playboys do Al-Andalus foram um fragmento que o Islão histórico logo tentou, e está a conseguir, destruir.
Falar-se em "Islão moderado" é tão ridículo como falar-se em "tigres vegetarianos". Alguns chefes políticos, por razões de realpolitik, encenam moderação, mas é apenas porque não lhes quadra ainda mostrar a sua verdadeira face. Aliás, veja-se a reacção de alguns desses "moderados" ao discurso do Papa...
O Islão nasceu na violencia, viveu e desenvolveu-se na violencia e, mais tarde ou mais cedo, desaparecerá na violencia.
Em certas alturas (por razões de inflexão) também a I.C. foi arbitrariamente violenta. No entanto, para além de isso ser extrínseco e não codificado, muitos outros sectores internos combateram essa brutalidade. E a própria Igreja se arrependeu expressamente e passou a ter outro procedimento. Daí o respeito de Bento XVI pela Razão.
No Islão, não.
O mundo chegou à maior crise da sua História uma vez que agora não tem de enfrentar adeptos, ainda que criminosos, de Hitler nem de Estaline nem de Mao. Agora está a contas com "Deus", eles são o objecto de "Deus". E em breve terão a bomba nuclear. Anjos satânicos armados de metralhadoras...
Ainda que alguns, por cinismo e cobardia, queiram referir que o mundo está mal porque o ser humano é assim (tese satânica evidente, no plano simbólico, e claramente fascista no plano do real - veja-se o discurso de Hitler aos membros da sua corte em Berchtsgarden), o mundo é assim por razões bem determinadas: sufocação da espiritualidade em detrimento da imposição fanática, disfunção da sexualidade, opressão política no Oriente e incapacidade de gestão adequada dos ritmos no Ocidente apesar de tudo democrático.
Finalmente, o que complica as coisas no dia a dia: o discurso/discussão paranóico e martelante daquilo a que na Bíblia se chamava "os demónios", com quem se aconselhava a não dialogar pois nos arrastariam para uma conversa sem fim e que no nosso quotidiano têm o nome de aparatchikis ou "idiotas úteis", como dizia Estaline.
Ou seja, os que vivem perorando contra bushs e ingleses e israelitas (fá-lo-iam em todo o caso)visando apenas instaurar o mundo sonhado por Himmler ou pelos do pacto de Varsóvia.

Anónimo disse...

Bom post caro Rui Ventura, espero a continuação.
O comentário do NS foi direito ao assunto, e o que acho estranho é que alguns indivíduos que viviam queixando-se dos padres agora andem tão perdidos de amores com os mullahs.
Não são esses mullahs que dizem que nos deixarão em paz se todos nos convertermos?
Há ali qualquer coisa que não é séria.

Anónimo disse...

"Papa Ratzinger, Você arranjou-a bonita! Quis dizer uma verdade e disse. Agora, o panorama é: 1) Uns acham que falou demais, pois no delírio medroso em que andam entendem que nos devemos portar como lesmas ante o Islão, que berra e agride como e quando quer. 2) Outros, acham que V. não tem razão, porque há centenas de anos houve uns cruzados que, aliás respondendo a provocações islamitas, deram uma coça nos de turbante. E nós, centenas de anos depois, devemos pagar por isso. 3) Outros, tenha ou não tenha razão, sonham com o desaparecimento da Igreja Católica, porque lhe vêem demasiadas culpas no cartório. 4) Finalmente, outros acham que não se deve instituir esta auto-censura e esta chantagem moral em que já vivemos.
V.Santidade, pensando se calhar nestes últimos, teve um arranco de virilidade e disse aos santões islâmicos, mestres do terrorismo, o que eles precisavam ouvir.
No entanto esqueceu-se de uma coisa: o mundo católico, as massas crentes católicas, pelo menos na Europa estão despojadas de religiosidade real, que substituíram por superstições ou então por beatices.
O Islão, pelo contrário, embora fanatizado por uma Fé totalitária, está dinâmico e estua de vivacidade brutal e determinada. No fundo o que têm os seus donos a perder? Eles sabem que, tal como os antepassados perante os romanos de Manuel Paleólogo, vão herdar as riquezas do Império moribundo.
Portanto, Bento XVI, quando a trombeta da hora da verdade soar e os islamitas vierem por aí abaixo, não estranhe porque os seus apaniguados cristãos debandarão, com o rabo entre as pernas.
Felizmente que ainda existe uma América e uma Inglaterra firmes que, apesar dos erros e de muitas caquexias, assenta no Povo Americano e no Inglês que não se acobardam.
Fique na paz de Deus, Senhor Papa e reze muito para que a coragem não falte aos daquele lado do mar."

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