NICOLAU SAIÃO
Os verbos irregulares
Science-Fiction
- Pois bem, meu senhores - disse o mais velho, que parecia ter ascendente sobre os outros - Façamos então o ponto de situação...o ponto em que estamos de momento. Pode começar você, Lestat...
- De momento, meu caro Vlad - disse repuxando a boca bem desenhada o jovem louro e atlético - temos gente nossa bem motivada em todas as cidades do globo. O discurso que lhes é comum insiste num ponto: o nosso direito a dispormos dos nossos ritmos místicos, da nossa… "ideologia" se assim me posso exprimir. É a tecla em que temos batido sem desfalecimentos. A questão de sermos uma comunidade vilipendiada, perseguida... discriminada... ofendida. Creio que me faço entender!
- Bem visto! - ronronou Vlad Tepes com um luzir nos olhos ardentes - E a nível de jornais, de gente que faz a diferença...como páram as modas? Você, Sagramor, pode elucidar-nos?
- É p'ra já, meus amigos - preambulou o negro de estatura elevada e de musculoso recorte na sua voz cantante e fascinadora - Para já, os homens de negócios que estão à frente desse sector já se juntaram em grande parte a nós. Intuiram que têm de ser compreensivos, modernos, que tem de haver tolerância com o nosso…colectivo. E na classe política e intelectual também existe um equilíbrio paralelo...Alguns dos homens de topo e mesmo outros medianos já entenderam a razão dos nossos… direitos. E são partidários do diálogo: já se começaram a desobstruir reuniões… O próprio Jorge, o próprio Soa…
- Não me venha com esses nomes! – cortou do lado a mulher de estatura coleante, sensual, de cabelos e olhos negros retintos, agitando a mão de unhas longas e pintadas de vermelho - Esses estão para onde lhes dá a brisa, Sagramor!
- Não seja exagerada, Carmilla... - disse Vlad Tepes censurando-a com algum vigor - Esse tipo de operadores sociais pode ser bem útil à nossa causa. Os fala-baratos também têm lugar na nossa demanda, não se esqueça. Tornam as massas maleáveis, compreendeu? E quanto ao seu sector? Isso é que interessa, o resto...é fantasia!
- Bom - disse Carmilla von Karnstein - O elemento feminino vai-se portando como se espera... Um pouco de moda, um pouco de tratamento televisivo, um bocado de romantismo e de doçura para adequar as meninges...Percebem?
O jovem Lestat riu com gosto, pondo à mostra os dentes brancos e fortes como os de um lobo viril.
- Certo, cara Carmilla, certo. Boa jogada! As senhoras também terão um grande papel nesta opereta... A paz, a brandura de coração...O idealismo… Também o usei com esmero lá nos lindos Estados do meu sul natal. Parece que foi há três dias…e já lá vai uma eternidade!
- Porque bem vêem, meus amigos - disse Vlad Tepes com discernimento - O importante é levar isto, por enquanto, com mansidão e equilíbrio. O que se ganha com violências bruscas junto do grosso da opinião pública? Isso devemos deixar, quando fizer falta, para as unidades de combate...Elas sabem como agir. Quanto a nós é irmos pela diplomacia. De contrário ainda nos aparece aí de novo esse metediço, esse violento do Van Helsing e as suas exagerações. Não acham?
E na sala mergulhada em amena penumbra criada por pesados reposteiros de veludo escarlate, em volta da magnífica mesa de carvalho escuro, as cabeças dos confrades acenaram afirmativamente, como se fossem uma só.
(desenho de NS)
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6 comentários:
Maroto! Em tempo de vampiros com barba e turbante alguns até são capazes por esta "brincadeira" séria de lhe chupar o sangue com uma jihad à portuguesa,tão correcta politicamente!
Mais tarde ou mais cedo levas na tromba.
Bush e saiãozote para o lixo da História!!!
Acho lamentável que algumas figurinhas só consigam atacar os outros usando as máscaras do anonimato. Mostram bem quão pouco valem.
Recordo que o "Estrada do Alicerce" é um espaço plural em que opiniões contrárias têm igual direito de publicação. Não há portanto necessidade de arranjar máscaras para ataques soezes.
Tive agora ensejo de ler o "Estrada". Muito instrutivo, pelo menos em alguns detalhes.
Como sou um cavalheiro à antiga, quase de fraque e cartola, tenho o velho hábito de responder a todos os escritos que me dirigem, mesmo que venham de óbvios canalhas como o senhor que me quer mandar para o lixo da História. E respondo porque é pedagógico, creio, não só para o escrevinhador como para outros eventuais canalhas que façam parte do seu eventual séquito.
E o que tenho a dizer é: quem, até ao momento, foi para o lixo da História foi o repugnante partido de ladrões, vigaristas e assassinos que se intitulava comunista e que durante algumas décadas sujou a Humanidade no Leste e tentava sujá-la também no Oeste.
E que continua a ir - veja-se o que a rádio lusitana, felizmente ainda livre pese aos esforços de alguns sevandijas, me contou há minutos e que está a acontecer na Hungria.
Portanto, resta-me referir que, mais uma vez, ireis pelo cano abaixo.
E é com muito gosto e honra que ajudo a que isso suceda.
Nesta perspectiva, os escarros em forma de letras que me buscam a lapela do casaco aparecem-me como medalhas - que devolvo serenamente na face repelente desta escumalha anónima e apparatchiki.
bem dito, amigo Nicolau!
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